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Amamentar não é um mar de rosas
Mães e corpo clínico da Unidade de Saúde Familiar de Vila Franca de Xira.

Amamentar não é um mar de rosas

Centro de Saúde de Vila Franca de Xira criou um espaço de incentivo ao aleitamento materno. Estudo desenvolvido na Unidade de Saúde Familiar Terras de Cira comprova que as mães abandonam precocemente a amamentação. Falta de formação e acompanhamento estão na base do problema. Três mães partilham as suas experiências com O MIRANTE.

Grávida pela segunda vez, o desejo de Inês Mendes, 33 anos, sempre foi amamentar e estava certa de que desta vez seria mais fácil. A moradora em Vila Franca de Xira estava bem informada e não tinha receios, já que deu mama à primeira filha até aos 14 meses. Depois de ter nos braços o pequeno Bernardo, nascido há três semanas, surgiram as primeiras dificuldades a tentar alimentá-lo. “Achava que ia ser um mar de rosas amamentar o segundo filho, mas não está a ser fácil”, conta a O MIRANTE. Começou a desenvolver “gretas e fissuras na mama”, que lhe causam “dores horríveis”. “Mas não desisto, quero insistir e dar só mama ao Bernardo”, afirma.
Para Silvie Matias, de 43 anos, nunca foi fácil. Mãe de três filhos, diz que é preciso “insistir diariamente, com dores atrozes para poder sonhar um dia” conseguir amamentar sem dores. Só quando esse dia chega é que dar mama se torna num acto “sublime” entre mãe e bebé. A professora de Vila Franca de Xira, mãe do Martim há dois meses, desmistifica: “Se as mulheres acham que amamentar é um mar de rosas vão apanhar um choque”.
Ambas estão a amamentar os filhos, mas não olham para o gesto como uma obrigação. É uma opção que apenas à mãe diz respeito. “Criticar é o que toda a gente faz. Se não amamenta [porque simplesmente não quer] é porque não está a ser boa mãe, se quer adiar porque é doloroso, é igualmente criticada”, diz Silvie, reforçando que não é fácil “amamentar com lágrimas a correr pelo rosto”.

Taxa de abandono da amamentação é elevada
Um estudo desenvolvido por Mariana Casimiro, aluna do quarto ano de enfermagem da Universidade Católica Portuguesa, em estágio na Unidade de Saúde Familiar (USF) de Vila Franca de Xira, demonstra que a taxa de abandono da amamentação nas primeiras semanas de vida do bebé é “altíssima”.
Das 98 grávidas inquiridas, as 72 que já deram à luz, confirmam-no. “No primeiro mês de vida do bebé, 51 mães já não amamentavam, sendo que 34 deixaram de o fazer logo na primeira semana, porque sentiram dificuldade e não tiveram o apoio necessário”, revela Mariana. Outras 13 abandonaram a amamentação porque desenvolveram problemas de saúde nas mamas- gretas e mastite são os mais frequentes.
O inquérito demonstrou ainda que apenas quatro das mães inquiridas, não experimentou dar a mama, por opção. “Há uma ideia pré-concebida das dificuldades que podem surgir durante o período da amamentação o que faz com que algumas não queiram experimentar”, diz a jovem enfermeira de 21 anos.

Dar mama em público
Para Inês e Silvie, amamentar é uma rotina natural e sem pudor que não tem de ser feita às escondidas de todos. Na rua, ou num parque de estacionamento, Silvie amamenta onde é preciso, sempre que o bebé precisa. Mas não desliga dos olhares atentos que a seguem e “incomodam”. Inês é mais descontraída. “Sempre dei de mamar aos meus filhos quando eles precisam e não me tento esconder. Se estou num centro comercial, não vou alimentar o meu filho para a casa de banho. Quem é que gostaria de comer num sítio assim?”, diz.
Mas há quem não consiga desligar dos olhares de desaprovação e deixe de alimentar em público. É o caso de Lucília Amaro que vai ser mãe pela segunda vez. Grávida de 34 semanas, diz a O MIRANTE que sempre tentou “dar a mama em casa”, por se sentir “constrangida pelos olhares dos outros”. Quando tinha mesmo de ser num espaço público “tentava tapar as mamas”

USF cria Cantinho da Amamentação
O insucesso da amamentação demonstrado neste estudo serviu de motor para desenvolver um projecto na USF Terras de Cira, em Vila Franca de Xira. O Cantinho da Amamentação, inaugurado a 3 de Junho, vem proporcionar maior conforto às recém-mamãs e bebés que aguardam por consulta. É também um espaço de formação e partilha e uma “extensão da própria consulta, onde a mãe e o bebé recebem acompanhamento permanente. A ideia passa por reduzir a taxa de abandono precoce à amamentação”, explica Sérgio Barros Cardoso, coordenador desta USF.
Segundo Sílvia Duarte, enfermeira responsável pela área da saúde materna, “há uma grande insegurança por parte das grávidas em dar de mamar”, sendo, por isso, essencial o acesso a “formação especializada”. Explicar “como se usa uma bomba de extração de leite, como se conserva o leite, os cuidados a ter com as mamas e quais os tipos de alimentos que a mãe deve ingerir” são alguns dos temas que vão ser abordados nas formações.

Amamentar não é um mar de rosas

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