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Aldeia de Alfouvés é a terra da Nutrileite
Alcino Rodrigues e Maria Helena, Patricia Félix e Joaquim e Ana Maria Carvalho

Aldeia de Alfouvés é a terra da Nutrileite

Alfouvés já foi uma aldeia próspera e populosa; hoje tem duas centenas de habitantes e até o café da terra está fechado.

Alfouvés é uma pequena aldeia do concelho de Rio Maior que pertence à União de Freguesias de Azambujeira e Malaqueijo. Segundo os últimos Censos, Alfouvés, juntamente com Azambujeira, tem uma população de 458 habitantes, sendo 15% dos habitantes com idades abaixo dos 14 anos e 27% acima dos 65 anos.
Fruto da desertificação, a escola primária deu lugar ao actual edifício da junta de freguesia e são muito poucos os pequenos negócios que ainda resistem na aldeia. Uma padaria com mercearia ao lado é o único de porta aberta. O café da aldeia, que pertence à associação recreativa, fechou ainda antes da pandemia e não voltou a abrir portas.

As recordações que ficaram
Joaquim Carvalho, de 80 anos, lamenta a vinda das novas tecnologias, sabendo que já não tem idade para grandes aventuras e que a aldeia perdeu a sua vida. Ficaram as recordações das idas à igreja todas as semanas, das partilhas com o padre José Abílio, pelo qual sentia um grande apreço. Ajudado pela população local, foi o sacerdote que iniciou a construção da capela em Alfouvés e participou na edificação de outras igrejas nas aldeias vizinhas.
Junto à casa de Joaquim Carvalho está o moinho que foi restaurado e transformado em museu. Joaquim recorda os tempos em que as pessoas das aldeias vizinhas vinham a Alfouvés trocar o trigo pela farinha. Nesta altura são a padaria e a loja de Bruno Madeira que dão resposta às necessidades da população, principalmente a mais idosa.
Para mostrar o seu olhar atento sobre a realidade na aldeia, conta que há poucos anos construíram um Parque de Merendas que está ao abandono e nunca foi utilizado como se esperava.
Alcino Rodrigues e Maria Helena, de 87 e 81 anos, respectivamente, destacam o facto de já não terem vizinhos como antigamente. Os jovens partiram e os amigos e muitos familiares já faleceram.
As pessoas viviam dos negócios que tinham na aldeia e trabalhavam, essencialmente, na agricultura. “O trabalho era duro, mas em comunidade fazia-se tudo com alegria”, sublinha Maria Helena. Andavam muito a pé, as mulheres levavam o almoço para os maridos que trabalhavam no campo, “eu levava o meu filho no quadril e ia”. Agora quase todos têm um carro e, mesmo assim, chegam atrasados, diz a moradora com um sorriso.
Tanto Alcino como Maria Helena constatam que a vida dantes era mais difícil, no entanto não tinham tantos encargos como hoje e, em contrapartida, o povo reunia-se para se ajudar mutuamente.
Estes rostos esquecidos na aldeia construíram a escola e a associação onde mais tarde se organizavam muitas festas e bailes. Com isso, juntava-se dinheiro para fazerem as melhorias nas instalações. “Agora foi-se tudo embora e os velhos ficam em casa, como nós”, conclui Alcino.
“Os trabalhos no campo eram a nossa mão-de-obra”, recorda Maria Helena para acrescentar depois que nos dias de hoje Alfouvés ainda tem algumas empresas, como uma pecuária, um aviário, uma empresa de prestação de serviços agrícolas e a maior de todas, a Sociedade Agrícola Nutrileite, que ainda vai dando algum movimento à aldeia.
A Nutrileite, fundada no final de 2011, iniciou a sua produção em Fevereiro de 2012, nas antigas instalações pertencentes a José da Silva Félix, contando assim com a experiência adquirida ao longo de 30 anos dedicados à produção de leite. Inaugurou novas instalações em Setembro de 2015 e é hoje uma das maiores empresas agropecuárias do concelho de Rio Maior.
Certificada pelo IAPMEI com o estatuto de PME, obteve a Declaração de Utilidade Pública Municipal, bem como o reconhecimento por parte da Cooperativa Proleite. A Nutrileite apoia também a educação através de visitas escolares, estágios e formação profissional para os alunos do ensino superior, dando, desta forma, dinamismo e reconhecimento à aldeia.

A visão mais jovem
Patrícia Félix tem 38 anos e é responsável pela área administrativa e financeira da Nutrileite. É uma das pessoas que preferiu continuar a viver em Alfouvés e ajudar no negócio familiar. Apesar de ter experimentado a vida na cidade não dispensa a tranquilidade e segurança que a aldeia lhe oferece. Recorda-se dos tempos em que todas as crianças se juntavam para as brincadeiras. Iam a casa uns dos outros e eram muito mais independentes.
Organizavam-se muitas festas, as crianças iam à catequese e nos fins-de-semana ninguém abdicava de um jogo de futebol nem de um passeio de bicicleta, afirma. Agora a única coisa que junta as pessoas são as missas aos domingos e as festas de anos na colectividade.
Apesar da aldeia ter um jardim junto à escola, o espaço não tem utilizadores embora Patrícia Félix afirme que ainda há na aldeia muita gente da sua geração apegada à terra. Saem da aldeia para trabalhar, mas voltam ao fim do dia. A maior alegria de viver na aldeia é poder deixar os miúdos sozinhos. “Isto é mesmo um lugar que dá uma paz de alma que não tem preço” afirma.

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