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Do lixo nasceu uma obra de arte no centro histórico de Santarém
Artur Bordalo da Silva, à esquerda, acompanhado por elementos da equipa Bordalo II

Do lixo nasceu uma obra de arte no centro histórico de Santarém

A equipa do Bordalo II, liderada por Artur Bordalo da Silva, construiu uma poupa com seis metros de altura, feita de materiais em fim de vida, recuperados do lixo, com o objectivo de alertar para a extinção de uma ave que faz parte da fauna ribatejana. A obra de arte está situada no Hostel Villa Graça e desperta a atenção de quem passa anda pelas ruas da cidade.

Uma poupa, construida à base de objectos descartáveis, com mais de seis metros de altura, está desde 26 de Agosto numa das fachadas do Hostel Villa Graça, junto à Igreja da Graça, em pleno centro histórico de Santarém. A obra de arte é da autoria de Artur Bordalo da Silva e da equipa Bordalo II, constituída por mais seis elementos. No mesmo local também se encontra uma porta antiga, descoberta durante as obras de reabilitação do espaço, que tem um marco gótico secular, único na cidade.
A administração do Villa Graça quis dar à cidade de Santarém um novo ponto de interesse e de visita. O conhecimento prévio da obra de Artur Bordalo, que se afirma como um artista de intervenção, foi o mote para a produção de uma peça que já está a mexer com o turismo em Santarém, não deixando indiferente quem passa pela obra de arte.
Pouco passava das 11h00, daquela quarta-feira, quando a equipa do Bordalo II começou a levantar as duas partes que formam a poupa, uma ave que pertence à fauna da região do Ribatejo e que corre perigo de extinção. Todo o trabalho de Artur Bordalo, de 32 anos, tem como princípio a vontade de expressar as suas preocupações com o mundo. “A arte não pode ser meramente estética. É uma forma de intervenção e tem de querer dizer alguma coisa”, explica o artista a O MIRANTE.
O impacto visual da obra é muito menos importante do que a mensagem que quer transmitir. O exemplar foi todo produzido com materiais em fim de vida, doados essencialmente por autarquias directamente dos seus aterros sanitários. A poupa é uma obra de arte contruida na base do material de que é feito o contentor do lixo, tubos de rega, capacetes de obra, para-choques ou pneus de carros, entre outros. Os materiais são posteriormente moldados e encaixados uns nos outros até formarem a estrutura do animal. Todo o processo foi realizado durante um par de dias num estúdio situado no bairro de Xabregas, em Lisboa.
Artur Bordalo vincou várias vezes na conversa com O MIRANTE a ideia de que aquilo que as pessoas deitam fora está a destruir a vida no planeta. As toneladas de resíduos que já gastou desde que começou a trabalhar com estes materiais, em 2012, são ao mesmo tempo o seu ganha-pão, mas também o mal de todos, afirma.
O trabalho do artista não lhe permite tirar fins-de-semana e deixa-lhe muitas mazelas no corpo. “Acabei de ser operado ao menisco do joelho esquerdo e em breve vou ser ao do direito”, conta ao repórter. O artista, admite, no entanto, que é um mal menor, uma vez que é mais importante ser fiel à sua paixão e necessidade de criar novos projectos e ideias que ajudem a mudar mentalidades. Artur Bordalo tem obras de arte espalhadas por todo o mundo. As suas peças mais conhecidas fazem parte de uma série chamada de “Big Trash Animals” e podem ser encontradas em Lisboa, Paris, Talin, Lódz, entre outras 19 cidades de três continentes.

Nome artístico em homenagem ao avô pintor

Artur Bordalo da Silva escolheu o nome artístico Bordalo II em homenagem ao seu avô, o pintor Artur Real Bordalo da Silva, autor de óleos e aguarelas das paisagens urbanas de Lisboa. Os trabalhos do avô, que morreu em 2017 com 91 anos, não tinham o carácter interventivo de Artur. Eram simplesmente retratos daquilo que ia vendo e percepcionando. A obra de Real Bordalo da Silva encontra-se representada no Museu José Malhoa, nas Caldas da Rainha, em museus municipais de cidades como Lisboa, Lagos, Porto e Santarém, e em coleções particulares de França, Japão, Itália, Estados Unidos e Alemanha.

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