Abandonada após um exame ao coração que a levou à morte Marisa Nunes está agora abandonada pela justiça, que até agora não avançou com o caso para que as responsabilidades sejam, apuradas e a família possa ter as explicações que até agora não teve. A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) encontrou vários indícios de violação na assistência à jovem de Fazendas de Almeirim, que tinha 33 anos quando há três anos foi fazer uma Angio TAC Cardíaca num hospital privado de Leiria e saiu para as urgências do hospital público da mesma cidade em paragem cardio-respiratória. Morreu após cinco meses em coma.
O irmão da vítima, Manuel Abelhas, e a mãe ainda nem sequer foram contactados pelo Ministério Público de Leiria, onde está o caso, nem sequer têm qualquer perspectiva de quando é que possa haver algum desenvolvimento no processo. O Ministério Público já tem há mais de dois anos o relatório da IGAS, concluído em menos de cinco meses de investigação. O inspector identificou indícios de violação da “leges artis” na assistência prestada no Centro Hospitalar de S. Francisco em Leiria, onde Marisa Nunes tinha ido fazer o exame. “Leges artis” refere-se ao “conjunto de regras científicas e técnicas e princípios profissionais que o médico tem a obrigação de conhecer e utilizar tendo em conta o estado da ciência e o estado concreto do doente”, conforme acórdão de 16-12-2015 do Tribunal da Relação de Lisboa.
A inspecção aponta falhas a três médicos, mas não os pôde sancionar pelo facto de não terem vínculo de funções públicas, pelo que o relatório foi enviado para a Ordem dos Médicos. O MIRANTE contactou via e-mail a entidade que representa e tem poderes disciplinares sobre os médicos, mas até ao fecho desta edição a resposta foi o silêncio. A IGAS salienta que houve falhas nos primeiros-socorros por parte dos profissionais da clínica privada e que chegou mesmo a haver inércia após a tentativa falhada de reanimação. Refere ainda que foram omitidos pelos médicos procedimentos que teriam melhorado o estado clínico da doente, considerando “imprudente e clinicamente incorrecto” autorizar o transporte em ambulância (para o hospital público) sem acompanhamento médico.
O exame tinha sido prescrito pela médica de família de Marisa por suspeitas de que esta tivesse uma veia entupida no coração. Quando foi fazer o exame que permite avaliar a anatomia da árvore coronária, desconhecia que era alérgica ao produto que é injectado para se fazer o contraste, não tendo feito testes às alergias anteriormente. Após fazer o exame no dia 19 de Julho de 2017 entrou em crise e, segundo o irmão, deve ter estado mais de meia hora em paragem respiratória sem assistência, o que lhe provocou danos no cérebro.
Marisa Nunes, que deixou dois filhos, na altura com 8 e 11 anos, foi assistida no Hospital de Leiria e depois foi transferida para Santarém onde esteve em coma até falecer no dia 5 de Dezembro de 2017. Marisa Nunes estava a concluir o curso de Geriatria. Era a irmã desejada por Manuel Abelhas que, em pequeno, pedia um irmão porque não queria ser filho único. “Fiquei sem irmã, a minha sobrinha e o meu sobrinho estão a crescer sem mãe e dói mais ainda é não ter explicações na justiça sobre o que se passou”.