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Há 150 voluntários a cozinhar e a distribuir sopa em Benavente 
Carla Rocha com Bernardina Semeano. Soraia Lopes está desempregada e é uma das pessoas que agradece o apoio. Voluntários de Benavente aceitam todos os ingredientes que caibam dentro de uma panela de sopa

Há 150 voluntários a cozinhar e a distribuir sopa em Benavente 

Chama-se “Sopa do Bem sem Olhar a Quem”, a iniciativa autónoma movida por 150 voluntários que surgiu este mês e já apoia perto de duas centenas de pessoas. O MIRANTE foi acompanhar uma das noites em que um prato de sopa quente confortou o estômago e sentou à mesa muitas famílias de Benavente.

São perto das 18h00 e no Pavilhão da Comissão de Festas Nossa Senhora da Paz, em Benavente, todos se empenham na tarefa que lhes coube. Junto ao fogão embalam-se as últimas sopas que vão seguir em caixas para os postos fixos ou para os carros que vão percorrer os bairros mais pobres de Benavente. Não se trata de nenhuma associação ou cantina social, mas de um grupo informal de 150 voluntários que numa época natalícia assombrada pela pandemia decidiu deitar mãos à obra e distribuir gratuitamente sopa quente a quem precisa. O colectivo dá pelo nome de “Sopa do Bem Sem Olhar a Quem” e vai andar pelas ruas até 31 de Dezembro.
“Abra, abra que é a sopa”, anuncia Carla Rocha, voluntária e co-fundadora da iniciativa, junto a uma habitação no Bairro D. Manuel Duarte, ao mesmo tempo que umas casas ao lado, Ana Rosa, de 71 anos, saboreia o caldo verde ainda fumegante. Passada uma hora, junto às piscinas municipais, os dois voluntários já só têm quatro das doze sopas por distribuir.
No primeiro dia, a 13 de Dezembro, apareceu pouca gente. Foi preciso, como ainda é, bater de porta em porta e passar a palavra. Ainda assim foram servidas 70 sopas. Agora a média chega perto das duas centenas e a expectativa é que venha a aumentar. “Além dos que já estão por nós referenciados estamos sempre à procura de novas pessoas e, pelo que constatamos há sempre alguém novo que vem até nós”, sublinha Carla Rocha, fisioterapeuta de profissão. Acompanham-na nesta missão cozinheiras, professores, bombeiros, militares, empresários e tantos outros que ajudam sem pedir nada em troca.
A quem chega a um dos cinco postos fixos ou abre a porta de casa pergunta-se apenas se quer uma sopa quente. Não há outros requisitos a preencher. Ninguém quer saber se naquela casa já se jantou, se quem espera na fila está desempregado ou a trabalhar, se a reforma chega para pagar as contas, ou se já recebem algum tipo de apoio. Não há, por isso, um padrão naqueles que a aceitam ou procuram. No balanço feito pelos voluntários há sobretudo idosos e pessoas entre os 40 e os 60 anos, mas também casais jovens ou famílias monoparentais a beneficiar daquela refeição.

“Há muita fome envergonhada”
Durante as duas horas que estão na rua, dá-se um aperto no peito dos voluntários sempre que presenciam casos de carência mais dramáticos. Crianças deitadas na cama às 19h00 com a barriga vazia ou idosos que dizem que a sopa é jantar e almoço do dia seguinte. “Há muita fome envergonhada. Pessoas que se escondem atrás do carro e só vêm pedir a sopa quando não vêem mais ninguém ao pé”, refere Carla Rocha.
No lugar do condutor, a voluntária Rosa Crespo, que se juntou ao movimento porque “gosta de ajudar quem precisa”, lamenta que ainda seja assim. Mas a vergonha não toca a todos e há quem não tenha problemas em dar a cara à sopa e à reportagem de O MIRANTE.
Na noite em que acompanhámos as voltas dos voluntários, Soraia Lopes, de 29 anos, abre pela primeira vez a porta de sua casa a esta iniciativa. “Vivemos tempos difíceis. Tenho três filhos e neste momento encontro-me desempregada. É uma ajuda que alivia o orçamento familiar”, diz à porta de casa onde moram mais seis pessoas.

Donativos chegam de toda a parte
Num outro bairro, Bernardina Semeano, de 88 anos, “estava a fazer conta com o caldo verde e ele não aparecia”, porque foi preciso ir buscar mais sopas aos locais onde sobraram. “Agora vou comer que gosto muito de caldo verde”, disse sem cerimónias e de sorriso estampado no rosto.
Nem Soraia, nem Bernardina, nem nenhuma outra pessoa vai saber quem doou os alimentos que fizeram aquela sopa. E mesmo que houvesse quem perguntasse seria impossível dizer porque “os donativos chegam de toda a parte”, refere Estela Branco, outra fundadora do movimento voluntário, explicando que todos os dias há pessoas da vila a entregar alimentos no ponto de recepção, o quartel dos Bombeiros Voluntários de Benavente.
As duas fundadoras que tiveram esta ideia depois de em Abril terem criado a “caixa solidária”, onde a população podia deixar ou levar alimentos, destacam que não se querem substituir a nenhuma instituição de solidariedade ou à Câmara de Benavente, mas reforçar o serviço e até ajudar a sinalizar novos casos, como tem acontecido.
Se estes voluntários não lhe baterem à porta, pode encontrá-los junto ao Auditório Nossa Senhora da Paz, Piscinas Municipais, sede da Sardinha Assada de Benavente, nas Areias junto à fonte e no depósito de água junto ao Centro de Recuperação Infantil de Benavente.

Há 150 voluntários a cozinhar e a distribuir sopa em Benavente 

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