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O regresso a meio gás do mercado da Chamusca
Renovado Mercado Municipal da Chamusca reabriu ao público cinco anos depois de ter encerrado para obras

O regresso a meio gás do mercado da Chamusca

Enquanto não há interessados nas lojas do renovado Mercado Municipal da Chamusca os antigos comerciantes ocupam os espaços no interior e na rua, junto ao edifício, e os tendeiros regressam aos sábados para o mercado semanal. O MIRANTE foi fazer um avio e falou com os vendedores mais antigos que recordam com saudade os tempos em que se juntavam, naquele espaço, “velhos, novos, ricos e pobres”.

A primeira voz que se ouve à chegada do repórter de O MIRANTE ao renovado Mercado Municipal da Chamusca, que reabriu ao público cinco anos depois de ter encerrado para obras, é a de Teresa Trincão, uma comerciante que não deixa ninguém indiferente pela alegria e irreverência com que aborda as pessoas. “Ó meu querido, anda aqui tirar uma foto à Teresa que está tão feliz com a nova banca de venda”, pede.

Junto a si tem cerca de uma dezena de pessoas; a maioria está lá só para conversar, mas a qualidade e persistência de Teresa na hora de vender não permitem que se saia de mãos a abanar. “Leva lá uma couve que não há melhor do que estas; as laranjas são do mais doce que há; aqui é tudo biológico”, reforça.

A Teresa da Praça, como é carinhosamente chamada pelos chamusquenses, é do tempo em que o mercado da Chamusca era uma referência na região. Todos os fins-de-semana o espaço enchia-se com centenas de pessoas. “Tudo vinha ao peixe fresco, às hortaliças, à fruta; devia ser dos poucos sítios da terra onde os pobres e os ricos se juntavam”, conta.

A zona do mercado municipal sempre foi muito movimentada, sobretudo na altura em que ainda existia a Loja do Custódio, um supermercado tradicional que marcou uma época. Actualmente, conta-se pelos dedos de uma mão o número de negócios com a porta aberta. Teresa recorda com saudade alguns colegas que partilharam, no passado, o mercado consigo; Manuel dos Santos, António Sapateiro, Carmelinda, Beni do Café, Pesseguinha, entre outros.

Nos últimos cinco anos Teresa Trincão vendeu numa rua paralela ao mercado, muitas vezes à chuva e ao frio. “Tive dias muito maus, sem clientes, mas regressei ao mercado há uma semana e já se nota a diferença. Estou aqui há mais de 30 anos e ainda tenho esperança de voltar a ver este espaço com o fulgor de outros tempos”, afirma.

Enquanto conversa com o repórter os clientes de Teresa, e de João Vacas, que tem uma banca ao lado da sua, não arredam pé; a cumplicidade entre todos permite a utilização de um vernáculo menos próprio principalmente para um texto de reportagem. Ainda assim, expressões como “o meu grelo é melhor do que o teu” ou “tomates destes não tens tu em casa” traduzem o bom ambiente que habitualmente se vive ao pé da Teresa da Praça.

Actualmente apenas estão preenchidas três bancas de venda num universo de 15 lojas disponíveis no mercado. A outra pertence a Maria do Céu e ao filho Paulo, naturais do Entroncamento. Mais discretos do que Teresa, mas igualmente bem-dispostos, vendem todos os sábados, há cerca de 30 anos, queijos, fumeiro, azeite, bacalhau, entre outros produtos. No resto da semana percorrem outras feiras da região, nomeadamente em Torres Novas, Alcanena, Almeirim, Marinhais e Tramagal. “É uma vida dura. Acordamos todos os dias às cinco da manhã e, às vezes, chegamos a casa às cinco da tarde. Temos de fazer pela vida”, sublinham.

A conversa com Maria do Céu e Paulo é interrompida pelo sino da Igreja Matriz; são 12h30, altura em que se começa a arrumar o material uma vez que às 13h00 o mercado encerra devido à pandemia. Na rua, as três bancas de vestuário e acessórios já estão quase vazias. O mercado semanal, que há vários anos se realizava no Jardim Maria Vaz, regressou a casa. Manuel e Teresa Silva, marido e mulher, fazem parte dos resistentes do antigo mercado municipal. A família de Manuel é de etnia cigana e já está na Chamusca há cinco gerações. “Nasci feirante e é assim que vou morrer”, afirma.

A conversa é breve porque ainda há muito trabalho pela frente. “As pessoas pensam que a vida de comerciante é fácil, mas não é. São muitas horas de pé”, lamenta enquanto mostra uma cinta que usa devido a um problema de costas que ganhou com os anos de trabalho.

As despedidas deram-se cerca de duas horas depois das boas-vindas; o sábado de manhã no Mercado Municipal da Chamusca passa a correr porque ainda há comerciantes que trabalham para preservar a memória colectiva de um espaço que sempre respirou muita vida e boa disposição.

À margem

É altura de festa mas…

A reportagem de O MIRANTE no Mercado Municipal da Chamusca assinala um momento importante para comerciantes como a Teresa, o Manuel ou a Maria do Céu que estiveram cinco anos a vender na rua quando o mercado esteve em obras. Mas é preciso não esquecer que as intervenções custaram centenas de milhares de euros e que, apesar das grandes promessas do presidente da câmara, Paulo Queimado, o mercado continua às moscas. O MIRANTE sabe que um dos interessados em abrir um espaço de restauração ainda não o fez porque não tem as condições necessárias nomeadamente acesso a água quente. Será que cinco anos não chegaram para evitar que este tipo de situação aconteça? Um executivo que passou o último ano e meio a prometer a inauguração do mercado podia pelo menos certificar-se que não ia continuar a fazer má figura após a sua reabertura.

O regresso a meio gás do mercado da Chamusca

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