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Companheiros da Noite suspendem actividade por falta de dirigentes
Sara Simão pode ficar para a história como a última presidente de Os Companheiros da Noite

Companheiros da Noite suspendem actividade por falta de dirigentes

Depois de várias chamadas de atenção chegou mesmo ao fim a actividade da associação da Póvoa de Santa Iria que dava apoio alimentar a 90 pessoas sem abrigo e a outras 30 famílias do concelho de Vila Franca de Xira. Tudo porque não houve sócios interessados em avançar com listas.

A associação Os Companheiros da Noite, da Póvoa de Santa Iria, que dá apoio a famílias carenciadas e pessoas sem abrigo do concelho, vai suspender a actividade e encerrar portas a 1 de Julho. A decisão foi comunicada às três dezenas de sócios que assistiram à última assembleia-geral da colectividade.

A associação, que tinha um papel social de relevo no concelho de Vila Franca de Xira, não vai ser formalmente extinta mas vai ficar em “hibernação”, de portas fechadas e sem qualquer actividade por ter caído num vazio directivo.

As 90 pessoas sem abrigo e as 30 famílias apoiadas estão a receber ajuda alimentar reforçada nestes últimos dias para escoar os alimentos em stock e depois passam a ser assistidas por outras associações do concelho e pelo Banco Alimentar.

Sara Simão, 29 anos, é a última presidente da associação e garante que esta irá manter o espaço na Póvoa de Santa Iria e todo o património caso apareçam entretanto alguns sócios interessados em formar listas. As parcerias que a associação mantinha com outras instituições foram entretanto cessadas.
“Em Janeiro os actuais dirigentes anunciaram que não se iriam recandidatar e não apareceu nenhuma lista. Em Março voltou a não aparecer listas e apresentámos a demissão. Mantivemos a associação a funcionar e avisámos que a 30 de Junho encerraríamos a actividade”, diz a presidente a O MIRANTE. A expectativa dos dirigentes é que aparecessem pessoas interessadas em manter a associação em funcionamento, o que não sucedeu. “Entrámos em contacto com as assistentes sociais do município para haver um encaminhamento das pessoas a quem prestávamos apoio. Ninguém vai ficar sem apoio, quisemos garantir isso antes de sair de cena”, assegura.

Sara Simão diz-se “triste” e “frustrada” por não existir, numa cidade com a dimensão da Póvoa, uma dezena de pessoas capazes de render os actuais órgãos sociais, o que é revelador do estado a que chegou o associativismo e o voluntariado. “Se alguém se quiser candidatar à direcção ainda há essa possibilidade. Vamos deixar alguns alimentos em stock com prazos elevados de validade caso apareça alguém”, esclarece.

Os actuais corpos sociais saem por não conseguirem empenhar-se tanto quanto desejariam para dar uma resposta de qualidade aos utentes. A maioria é jovem e precisava de conciliar a vida familiar e profissional com a associação.
A associação da Póvoa de Santa Iria, eleita em 2009 Personalidade do Ano de O MIRANTE na área de Cidadania, deu os primeiros passos em Dezembro de 2002 por um grupo de jovens que decidiu participar em voltas nocturnas de apoio aos sem-abrigo em Lisboa. Depois decidiram desenvolver o mesmo trabalho aos sábados à noite nas ruas do concelho de Vila Franca de Xira distribuindo sopa, alimentos e agasalhos. O grupo continuou a crescer até à constituição formal dos Companheiros da Noite em 2004.

À margem

O lento declínio do associativismo

Em menos de um ano esta é a segunda notícia que O MIRANTE publica sobre o fim de uma associação histórica do concelho de Vila Franca de Xira. Depois do Arsenal Desportivo de Alverca ter fechado é a vez de Os Companheiros da Noite, uma das colectividades mais prestigiadas do concelho no apoio aos sem-abrigo e famílias carenciadas. Sara Simão é contida nas palavras dizendo que a associação não vai ser extinta, mas esse será certamente o passo lógico caso ninguém decida dar um pouco de si à comunidade. Numa cidade com 30 mil habitantes é incrível que não haja uma dezena capaz de se juntar para dar um pouco de si a quem mais precisa. É um sinal alarmante dos tempos que correm, em que se procura o fácil e financeiramente recompensador. Os Companheiros da Noite tentaram de tudo, com dirigentes velhos, de meia idade e, mais recentemente, jovens na casa dos 20 e 30 anos. Mas nem assim é possível salvar uma casa com história e com um papel relevante na comunidade. Se é verdade que são as pessoas que fazem uma comunidade, o que dirá a comunidade da Póvoa sobre um desfecho destes?.

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