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Ambiente de intimidação e ameaças na USF de Vila Franca de Xira
Quem trabalha na Unidade de Saúde Familiar de Vila Franca de Xira alerta para dificuldades laborais e pede reforço urgente de meios (foto DR)

Ambiente de intimidação e ameaças na USF de Vila Franca de Xira

Entidades de saúde não gostaram de ler as queixas dos funcionários a dar conta da falta de pessoal para manter a porta do centro de saúde aberta em Agosto e há quem se queixe de ter sido ameaçado depois disso. Clima de mal-estar já levou oito médicos a saírem da unidade este ano.

A Unidade de Saúde Familiar (USF) Terras de Cira, em Vila Franca de Xira, continua a viver dias complicados e quem lá trabalha queixa-se de um ambiente de intimidação por parte das chefias e da tutela da saúde, situação que tem gerado uma vida laboral tensa e que tem levado vários profissionais a pedir transferência para outras unidades.

O desabafo foi deixado na passada semana a O MIRANTE por vários profissionais daquela unidade que, com receio de represálias, pediram para não serem identificados. Sobretudo depois do antigo coordenador daquela USF ter sido alvo de um processo disciplinar por publicar vários alertas sobre as dificuldades que a unidade de saúde atravessava.

“Os funcionários estão absolutamente derreados e os utentes estão a ser carne para canhão. Depois de termos colocado a publicação a denunciar a falta de administrativos para manter a unidade aberta não imagina a quantidade de telefonemas que recebemos da tutela. Fomos ameaçados e reportados logo ao presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT)”, lamenta um dos profissionais.

Ao fim de dois dias a publicação acabou mesmo por ser apagada. Há relatos de alegadas ameaças pessoais a profissionais por parte das chefias e o clima de sufoco por falta de profissionais tem tornado o atendimento à população cada vez mais complicado e as queixas da comunidade sucedem-se.

“Andamos com rédea muito curta e não nos deixam falar. Temos colegas a quem telefonam a ameaçar com processos disciplinares se nos voltarmos a queixar novamente das más condições que temos e da falta de pessoal para tantos utentes. Querem manter a imagem que está tudo bem quando não está”, confirma outra funcionária.

A USF de Vila Franca de Xira tem apenas metade dos funcionários administrativos de que precisa ao serviço e, por isso, até final de Agosto não consegue abrir a porta aos utentes na hora de expediente. A maioria está a ser encaminhada para o também pressionado Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria onde, afirmam os colegas de Vila Franca de Xira, há um alegado “pacto de silêncio” sobre os problemas e as dificuldades que por lá também se vivem.

A USF Terras de Cira tem entre dois e quatro elementos administrativos ao serviço quando, em condições normais, precisaria de oito administrativos para servir os 18.500 utentes inscritos.

ARS não comenta mau ambiente

Contactada por O MIRANTE a Administração Regional de Saúde escusou-se a fazer comentários sobre as alegadas ameaças e pressões aos trabalhadores mas explica que na USF Terras de Cira os utentes sem médico resultam da saída de médicos e em novas inscrições de utentes, confirmando a existência de uma “grande rotatividade” nos profissionais. “Esta rotatividade prende-se com a natural substituição de profissionais por motivos de aposentação, processos de mobilidade e rescisões”, explica.

A ARS garante que a direcção executiva e a unidade de apoio à gestão, ao longo dos anos, “sempre colaboraram no sentido de serem facilitadores na substituição dos profissionais que saíram da unidade”, que tem uma equipa constituída por nove médicos, nove enfermeiros e cinco secretários clínicos.

Médicos estão a fugir

Além das saídas de administrativos, segundo dados da USF a que O MIRANTE teve acesso, só entre 2020 e Agosto de 2021 saíram da unidade vilafranquense oito médicos, que pediram transferência para outras unidades e centros de saúde do país. Além desses, também quatro internos de formação específica em medicina geral e familiar foram embora, não tendo a USF recebido outros internos para o seu lugar.

Em contraponto, houve apenas a entrada de dois médicos no mesmo período: uma médica que veio do Centro de Saúde de Azambuja em Agosto do ano passado e uma outra médica que entrou numa vaga de concurso público este mês, com colocação ainda em autorização. Uma outra médica que entrou na USF em Setembro de 2020 vai sair do serviço até ao final deste mês.

A equipa de enfermagem manteve-se estável só tendo saído uma enfermeira para abraçar outros desafios profissionais.

Ambiente de intimidação e ameaças na USF de Vila Franca de Xira

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