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Síndrome de morte súbita no bebé é um pesadelo que se pode prevenir
José Manuel Onofre, pediatra na clínica ABC (foto DR)

Síndrome de morte súbita no bebé é um pesadelo que se pode prevenir

Acontecem geralmente durante o sono, sem aviso ou motivo. Os óbitos por Síndrome da Morte Súbita do Lactente são a principal causa de morte em bebés até um ano. Em quatro meses ocorreram na região pelo menos dois casos deste pesadelo cujos riscos podem ser mitigados, alerta o pediatra José Manuel Onofre.

Os pais ligaram a pedir socorro às seis da manhã. A bebé, de quatro meses, estava inanimada depois de ter acordado a chorar. Durante uma hora bombeiros e equipa médica tentaram a reanimação, mas já nada havia a fazer. Numa outra casa, um bebé com pouco mais de um mês morreu na sequência de uma paragem cardiorrespiratória, sem motivo aparente, que as equipas de socorro não conseguiram reverter.

Os casos, que deixaram duas famílias devastadas, aconteceram em Abril e Julho deste ano na Golegã e em Almeirim e entram para a lista do inexplicável fenómeno responsável pela maior taxa de mortalidade em bebés até um ano de idade nos países desenvolvidos.

O Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL) não tem uma origem clara, nem se sabe ao certo quantas mortes causa por ano em Portugal. Mas sabe-se que há factores que aumentam consideravelmente o risco da morte súbita e dos quais ainda é preciso falar, como a posição em que o bebé dorme, a temperatura do quarto ou a prematuridade do nascimento. “Compartilhar a cama com o bebé é também algo frequente durante as primeiras semanas de vida. Uma situação que por si só aumenta o risco, que passa para o dobro no caso de a mãe ser fumadora”, explica a O MIRANTE o pediatra José Manuel Onofre.

Prevalece ainda em muitas famílias, bem intencionadas,  a ideia de que o bebé está mais seguro a dormir de lado ou de barriga para baixo, porque tem mais facilidade de expelir o vómito. Um erro crasso que também aumenta o risco da SMSL, “por dificultar a mudança de posição do bebé em caso de aflição”.

A Organização Mundial de Saúde e sociedades de pediatria insistem na importância de deitar o bebé de costas, “algo que faz confusão a muitos pais, mas facilmente podem testar e reparar que quando é deitado dessa forma, assim que adormece vira a cabeça para um dos lados”, explica José Manuel Onofre, sublinhando que é uma “espécie de protecção inata”.

As almofadas ou rolos para manter a posição do bebé no berço, ou colchões moles, são também algo comuns e desaconselhados. No limite, explica o pediatra do Hospital de Santarém e Clínica ABC, “pode ser colocada uma almofada muito baixa ou um cobertor dobrado debaixo do colchão para levantar ligeiramente a cabeça do recém-nascido”, para que fique semelhante a um berço da maternidade.

O pediatra destaca ainda a importância de manter o quarto a uma temperatura amena, evitando o sobreaquecimento do bebé e mantê-lo sob vigilância nos primeiros seis meses de vida. “Se o bebé dormir no mesmo quarto que os pais pode haver algum sinal de alerta de que algo não está bem”, reforça.

Vigiar todo o sono é humanamente impossível, ressalva o especialista, referindo-se ao nascimento de um bebé como “uma alegria para a família que não deve trazer um peso terrível”. Em situações terríveis, como é o caso da perda de um bebé por morte súbita, “não se pode culpabilizar ninguém”. Na maioria dos casos “os pais acordam e o bebé está morto”. Em todos eles é imediatamente disponibilizado apoio psicológico.

Tentar reanimação antes da chegada do socorro é fundamental

Com três décadas de experiência como pediatra, José Manuel Onofre reconhece que é muito difícil reverter uma paragem cardiorrespiratória num bebé, mas não é impossível. Esperar pelo socorro sem tentar a reanimação é que não pode ser nestes casos uma hipótese.

“Em poucos minutos um bebé em paragem cardiorrespiratória fica com lesões irreversíveis. Tem de se actuar rapidamente, mesmo que não se saiba muito bem o que se está a fazer”, aconselha. Depois explica o que se pode fazer: a primeira manobra é pegar no bebé ao colo de barriga para baixo e dar-lhe palmadas secas nas costas para despistar a possibilidade de ter algo a obstruir as vias. De seguida tentar a reanimação através de massagem cardíaca com os dedos polegares junto ao externo.

Mais de três mil bebés morrem por SMSL

A maioria das mortes por Síndrome de Morte Súbita acontece entre os dois e os sete meses de idade (90 por cento), embora os óbitos inexplicados aconteçam até aos 12 meses. Internacionalmente, as estatísticas sugerem uma prevalência de dois casos por cada mil nascimentos, com os dados conhecidos em Portugal a rondar entre 0,1 a 0,2 por cento por cada mil nascimentos.

De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, morrem anualmente 3,5 mil bebés vítimas da condição de SMSL. O desfecho pode ocorrer por sufocamento acidental ou estrangulamento na cama e nos lençóis, engasgo, infecção, lesão ou disfunção cardíaca ou metabólica e morte por causas desconhecidas. 

Há vários estudos que apontam possíveis causas, desde alterações cerebrais, riscos genéticos ou problemas nos músculos respiratórios, mas não há ainda certezas. É por isso importante a autópsia, não só para “se ficar a saber que não havia outras causas, como alguma malformação não detectada”, mas também para permitir algum avanço na compreensão médica deste síndrome assustador.

Síndrome de morte súbita no bebé é um pesadelo que se pode prevenir

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