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Voluntária para ajudar quem mais precisa
Teresa Valente está em França a participar num projecto de voluntariado da Cruz Vermelha durante um ano (foto DR)

Voluntária para ajudar quem mais precisa

Teresa Valente estava a trabalhar na Cáritas, em Coimbra, quando soube de um intercâmbio internacional da Cruz Vermelha francesa. A jovem de Abrantes não pensou duas vezes e deixou o emprego, que não a satisfazia. Aterrou em França há cerca de um mês e vai ficar por lá durante um ano a trabalhar no apoio aos mais necessitados.

O primeiro intercâmbio europeu de Teresa Valente aconteceu há cerca de quatro anos na Eslováquia. Um dos objectivos era acampar durante todo o programa mas passadas duas noites a chuva era tão intensa que todo o grupo teve que ir dormir para um palheiro. A jovem de Casais Revelhos, em Abrantes, ainda pensou que tivesse havido uma falha na tradução do eslovaco para o inglês. Mas não. Foram várias noites a dormirem todos num palheiro que até era confortável apesar do cheiro e da palha.

Foi na Eslováquia que a jovem, de 24 anos, conheceu outras portuguesas. Tornaram-se amigas e como partilham a paixão pelo voluntariado e viagens criaram, em 2020, a associação YouthCluster, sediada em Constância. A associação partilha, através das redes sociais, oportunidades de intercâmbios europeus financiadas e desenvolvem campanhas de activismo para melhores políticas para a juventude. “Recentemente fizemos uma campanha contra estágios não remunerados. O nosso objectivo é combater a desigualdade de oportunidades”, afirma Teresa Valente.

A jovem licenciada em Psicologia teve conhecimento de uma vaga na Cruz Vermelha francesa através do Corpo de Solidariedade Europeu. Candidatou-se através da Juventude da Cruz Vermelha de Braga e chegou em Agosto a Poitiers, cidade que fica 340 quilómetros a sul de Paris. O Corpo de Solidariedade Europeu é um programa para jovens, entre os 18 e os 30 anos, que lhes permite participar em projectos comunitários em Portugal ou no estrangeiro.

O objectivo é apoiar os mais novos no desenvolvimento das suas aptidões e competências contribuindo para uma Europa mais justa e solidária. “É uma opção inclusiva para darmos os primeiros passos na área profissional que pretendemos seguir, mas muitos jovens não têm conhecimento deste programa, que nos paga tudo, desde a viagem ao alojamento e à formação”, explica.

Apesar da Cruz Vermelha Francesa já ter recebido voluntários pelo Corpo de Solidariedade Europeu, em Poitiers é a primeira vez. Teresa Valente está, em conjunto com outra voluntária alemã, a organizar actividades nos vários centros que a Cruz Vermelha tem na cidade, como por exemplo junto do abrigo de emergência social, abrigo de sobreviventes de violência doméstica ou alojamento de requerentes de asilo e refugiados.

“Neste programa podemos criar o nosso projecto individual e, no caso da Cruz Vermelha, podemos obter financiamento para desenvolver projectos maiores”, esclarece Teresa Valente. A jovem abrantina ainda se está a adaptar à cidade e a sua maior dor de cabeça tem sido a língua, porque não sabe falar francês. Um mês após ter chegado já sabe algumas palavras e vai começar em breve a ter aulas de língua francesa.

Teresa Valente estava a trabalhar como gestora de projectos no Departamento de Inovação na Cáritas Diocesana de Coimbra, em projectos de tecnologia da saúde, quando surgiu esta oportunidade. Como não se sentia realizada naquilo que estava a fazer decidiu arriscar e embarcou numa nova aventura.

Teresa sempre teve paixão por trabalhar no apoio às pessoas que mais necessitam. “Não consigo ficar indiferente e é onde me sinto mais realizada e feliz”, sublinha. Confessa que todos os projectos de voluntariado em que participou, em Portugal e no estrangeiro, tornaram-na uma pessoal mais tolerante e solidária.

Os poemas da avó emprestada

Teresa Valente foi uma das mentoras do projecto “Adopta um Avô” que durante a pandemia ajudou a criar laços entre jovens e idosos do concelho de Abrantes e a combater a solidão dos mais velhos. O projecto consistia em um jovem ‘adoptar’ um avô e falar com ele, através de telefone, todos os dias para saber como estava e esbater a solidão que se viveu nesses meses difíceis. No Natal enviaram mais de 1.600 postais a idosos para lhes aquecer o coração.

A melhor história que recorda desse projecto foi uma avó que, apesar de não saber ler nem escrever, criou poemas e decorou-os todos e declamou-os à sua ‘neta’ que só conhecia por telefone e não se enganou em nenhuma palavra. “O melhor que tiro desse projecto é que mostrámos que os jovens não estão parados e preocupam-se com o próximo. Isso é o mais importante”, conclui.

Teresa Valente é filha única e diz que, apesar das novas tecnologias ajudarem a atenuar as saudades da família e dos amigos, isso não é suficiente. Quando as saudades apertam relembra-se do motivo que a fez escolher participar num projecto de voluntariado. Quando está em Abrantes aproveita ao máximo o tempo para estar com quem mais ama. “Estar longe custa sempre mas para mim já não é novidade. Além disso, tenho amigos espalhados pelo mundo por isso vou sentir sempre a falta de alguém”, afirma.

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