Sociedade | 06-01-2005 11:07

Resistir atrás do balcão

Não aderiram a “modernices” nem investiram um tostão para melhorar o espaço interior. Continuam com os mesmos balcões de madeira, comidos aqui e ali pelo caruncho, o chão de cimento irregular ou de soalho que range a cada passada e com as mesmas prateleiras, atulhadas de quinquilharias. São as velhas lojas do Ribatejo, verdadeiros símbolos de resistência e tradição.“Tem enxadas de dois bicos?” pergunta o transeunte, assomando à porta da loja de ferragens Cotralha e Irmãos, em Tomar. “Quantas quer?”. O empregado responde com outra pergunta e os dois riem-se como se tivesse sido contada uma grande piada. Na loja que Carlos Ferreira Cotralha abriu em 1905, em pleno centro histórico de Tomar, a única coisa nova é mesmo o funcionário, rapaz na casa dos 20 anos. O resto continua quase igual como há cem anos. Cliente que ali entre raramente sai de mãos a abanar. Porque a miscelânea é tanta que é difícil não encontrar o que pretende entre vassouras e pincéis, funis e foles, tintas e vernizes, pregos, porcas e buchas, macetes, enxadas e sachos, tesouras para podar a vinha ou garrafões para encher de vinho. Tanta coisa num espaço que não deve ultrapassar os 20 metros quadrados.A loja de ferragens Cotralha e Irmãos é um exemplo de resistência comercial. Mas não é a única. De norte a sul do Ribatejo há estabelecimentos centenários que continuam de portas abertas, aparentemente alheias à crise, ao aparecimento de grandes superfícies e à diminuição do poder de compra dos consumidores. Estabelecimentos que passaram de geração em geração sem nunca saírem do seio da família.Qual é o segredo que mantém estes velhos estabelecimentos a funcionar? Jorge Gomes, há 24 anos funcionário na Casa Cabral e Lino mais conhecida por “Cabralão”, em Santarém (ver texto na página ao lado), dá a receita: “Aqui os clientes não precisam de comprar para serem tratados como amigos. Muitos habituaram-se a passar por aqui só para cumprimentar e dar dois dedos de conversa”.Trabalhar com margens de lucro pequeninas também faz parte do segredo. “A loja já teve cinco empregados, hoje sou só eu”, refere Jorge Gomes, adiantando que ao longo do tempo foram incluindo outros materiais para venda, como os atoalhados e até algum pronto a vestir para conseguir sobreviver. “E os preços são mais acessíveis porque a margem de lucro é pequenina”, garante o funcionário do “Cabralão”, a loja mais antiga de Santarém.Em alguns casos, pensa-se até mais nos clientes que propriamente no negócio. Como acontece com José Augusto, actual proprietário da mais velha serralharia da Chamusca. A firma José Cipriano Imaginário e Silva mantém ainda a porta aberta por causa daqueles clientes que durante décadas a foram procurando para a reparação das suas máquinas e alfaias agrícolas. Hoje a sobrevivência da casa depende quase em exclusividade dessas reparações. No Ribatejo ainda há muitas lojas centenárias abertas ao público e que pouco ou nada alteraram de aspectoResistir atrás do balcãoNão aderiram a “modernices” nem investiram um tostão para melhorar o espaço interior. Continuam com os mesmos balcões de madeira, comidos aqui e ali pelo caruncho, o chão de cimento irregular ou de soalho que range a cada passada e com as mesmas prateleiras, atulhadas de quinquilharias. São as velhas lojas do Ribatejo, verdadeiros símbolos de resistência e tradição.“Tem enxadas de dois bicos?” pergunta o transeunte, assomando à porta da loja de ferragens Cotralha e Irmãos, em Tomar. “Quantas quer?”. O empregado responde com outra pergunta e os dois riem-se como se tivesse sido contada uma grande piada. Na loja que Carlos Ferreira Cotralha abriu em 1905, em pleno centro histórico de Tomar, a única coisa nova é mesmo o funcionário, rapaz na casa dos 20 anos. O resto continua quase igual como há cem anos. Cliente que ali entre raramente sai de mãos a abanar. Porque a miscelânea é tanta que é difícil não encontrar o que pretende entre vassouras e pincéis, funis e foles, tintas e vernizes, pregos, porcas e buchas, macetes, enxadas e sachos, tesouras para podar a vinha ou garrafões para encher de vinho. Tanta coisa num espaço que não deve ultrapassar os 20 metros quadrados.A loja de ferragens Cotralha e Irmãos é um exemplo de resistência comercial. Mas não é a única. De norte a sul do Ribatejo há estabelecimentos centenários que continuam de portas abertas, aparentemente alheias à crise, ao aparecimento de grandes superfícies e à diminuição do poder de compra dos consumidores. Estabelecimentos que passaram de geração em geração sem nunca saírem do seio da família.Qual é o segredo que mantém estes velhos estabelecimentos a funcionar? Jorge Gomes, há 24 anos funcionário na Casa Cabral e Lino mais conhecida por “Cabralão”, em Santarém (ver texto na página ao lado), dá a receita: “Aqui os clientes não precisam de comprar para serem tratados como amigos. Muitos habituaram-se a passar por aqui só para cumprimentar e dar dois dedos de conversa”.Trabalhar com margens de lucro pequeninas também faz parte do segredo. “A loja já teve cinco empregados, hoje sou só eu”, refere Jorge Gomes, adiantando que ao longo do tempo foram incluindo outros materiais para venda, como os atoalhados e até algum pronto a vestir para conseguir sobreviver. “E os preços são mais acessíveis porque a margem de lucro é pequenina”, garante o funcionário do “Cabralão”, a loja mais antiga de Santarém.Em alguns casos, pensa-se até mais nos clientes que propriamente no negócio. Como acontece com José Augusto, actual proprietário da mais velha serralharia da Chamusca. A firma José Cipriano Imaginário e Silva mantém ainda a porta aberta por causa daqueles clientes que durante décadas a foram procurando para a reparação das suas máquinas e alfaias agrícolas. Hoje a sobrevivência da casa depende quase em exclusividade dessas reparações. Mais desenvolvimento na edição semanal.

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