Sociedade | 11-02-2005 11:26

Idoso insiste em viver num carro

Os dias de José Madureira, 84 anos, são passados dentro de um carro, encolhido e lutando contra o frio. É assim há seis meses. A Segurança Social já tentou alojá-lo, mas o idoso recusou.

José Madureira tem 84 anos e está há seis meses a dormir dentro de um carro, em frente à esquadra da PSP de Santarém. O idoso sofre de problemas de memória e vive da caridade de algumas pessoas da cidade. O Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social de Santarém está a tentar encontrar uma solução há dois meses, mas tem contado com alguma resistência do carenciado. À volta do carro estacionado no parque frente à polícia há nódoas no chão e cheira a urina. José Madureira vai às vezes às casas de banho da estação de camionagem, mas não tem sítio para tomar banho. A viatura está cheia de roupas, sacos com leite e alguns mantimentos que as pessoas lhe dão. Há várias caixas de medicamentos no tablier do carro, por entre sapatos e papéis.O idoso, que chegou a trabalhar como encarregado de estaleiros de obras, antes de se reformar e depois de ter estado em Angola até ao 25 de Abril, dorme enrolado no banco do condutor tapado com duas mantas e uns casacos. Durante a noite o carro transforma-se num autêntico frigorífico. “O frio é muito”, diz com desalento, enquanto puxa de um terço que tem dentro do bolso. Vai a todas as missas e reza para que tenha uma vida melhor, conta enquanto ressalva por várias vezes que tem problemas de memória que são acompanhados por um neurologista e um psicólogo. José Madureira vive da reforma de cerca de 200 euros, que são quase todos gastos na farmácia. E vai mostrando várias caixas de comprimidos, alguns para o inchaço e dores que tem nas pernas e pés provocadas por dormir encolhido. Lurdes Martins é uma das pessoas que sempre que pode lhe leva um recipiente com sopa quente. Moradora na cidade, conta que a PSP já tentou arranjar uma solução para o caso e comunicou a situação à Segurança Social. Alegadamente, segundo conta, o idoso tem seis filhos, mas nenhum tem conseguido tomar conta dele.O director do Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social garante que conhece o caso. António Campos conta que já foram duas técnicas de acção social ao local e que “na altura o senhor não quis ser instalado no Centro de Emergência”, situado na periferia da cidade, em S. Domingos. António Campos assegurou que a situação está a ser acompanhada há cerca de dois meses e que dentro em breve pode haver uma solução, instalando José Madureira numa instituição, desde que este aceite. O director acrescenta que a Segurança Social não o pode retirar do carro se ele não aceitar de livre vontade.

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