Sociedade | 31-03-2006 14:04

Cemitério abandonado em Alverca

Uma fila de jazigos em pedra não passa despercebida a quem passa na EN 10 em Alverca. O velho cemitério está a morrer lentamente ali mesmo ao lado do quartel dos bombeiros. Há 25 anos que não são sepultados corpos no velho cemitério e o cenário de abandono e degradação choca os poucos familiares que ainda cuidam das campas dos seus entes queridos.“É uma dor de alma ver isto assim”, explica Lurdes Lopes, enquanto limpa a campa onde o marido foi sepultado há quase 30 anos. Ali bem perto há restos de campas com mais de cinquenta anos. Pedras mármore, cruzes de pedra e ferro e imagens religiosas partidas misturam-se com mais de setecentas campas, algumas construídas nos caminhos depois de dezenas de mortes provocadas pelas cheias de 1979.Monumentos abandonados No meio de tanta confusão encontramos vários monumentos dignos de preservação.Um mausoléu doado à Misericórdia de Alverca destaca-se de todos os outros pela sua concepção artística com uma cruz em pedra trabalhada por mãos habilidosas no início do século passado. Depois há duas filas com 16 jazigos que na época da sua construção custaram pequenas fortunas. “Só as famílias mais ricas de Alverca é que compravam jazigos”, lembra José Almeida, um ex-operário que vive na cidade há mais de 40 anos. O idoso reconhece a necessidade de acabar com o cemitério e transladar as ossadas para o novo espaço, mas frisa que as famílias não têm condições para suportar as despesas e questiona quem vai assumir os custos.A Junta de Freguesia de Alverca assume o compromisso de limpar o terreno neste mandato para o entregar aos bombeiros para ampliação do actual quartel cumprindo uma determinação da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira. O presidente Afonso Costa ressalva que vai ser necessária a colaboração das famílias proprietárias das campas e jazigos.Um fogo destruiu o arquivo do cemitério e a autarquia só tem registo das campas a partir de 1977. Para superar a dificuldade, a junta vai fazer um levantamento topográfico das campas e jazigos e vai publicar um edital para que os herdeiros dos proprietários das campas e jazigos possam reclamar a posse. Entretanto já foi reservado no novo cemitério espaço para as campas e jazigos e vai ser criada uma nova bateria de gavetões para os ossários.Como o processo de transladação do cemitério é complexo, a junta pediu a colaboração da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Depois de limpa toda a área o terreno será cedido aos bombeiros para construção do seu novo quartel.O presidente da junta frisa a intenção de preservar algumas memórias do actual cemitério e garante que a Igreja de São Sebastião, que ainda funciona como capela mortuária, irá ser preservada dada a sua importância e valor histórico e arquitectónico.A junta deverá ainda assumir a gestão de alguns jazigos, entre eles, o do Capitão João Meleças, piloto e impulsionador da ida do Parque de Material Aeronáutico para Alverca. A família já manifestou intenção de doar o jazigo à freguesia. Nelson Silva Lopes

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