Sociedade | 07-02-2008 16:28

MP interpôs providência cautelar para suspensão direcção da Fundação Dr. Francisco da Cruz

O Ministério Público interpôs uma providência cautelar para eventual suspensão dos corpos gerentes da Fundação Dr. Francisco da Cruz, instituição particular de solidariedade social de Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, confirmaram várias fontes à agência Lusa.Os membros da direcção da fundação foram notificados a semana passada para fazerem oposição aos termos da providência apresentada pelo Ministério Público, na sequência de uma acção do Instituto da Segurança Social, disseram as fontes.A acção principal do processo - que poderá passar pela nomeação de um administrador judicial - tem em conta as "coisas graves que se têm passado" na fundação, disse uma das fontes contactadas pela Lusa.O presidente da direcção da fundação, António Matos Valente, disse à Lusa aguardar "com tranquilidade" o desenrolar do processo, desvalorizando as acusações que lhe são feitas, de "delapidação" dos bens da instituição, a que contrapõe a obra feita nos mais de 20 anos à frente do legado de Francisco da Cruz.António Valente atribui a origem das denúncias a uma divergência com a Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, na sequência da recuperação de um edifício municipal para instalação de um Centro de Acolhimento Temporário para Crianças, para a qual assinou um contrato de comodato por 20 anos.Há cerca de um ano, a autarquia denunciou junto da Segurança Social a alegada má gestão dos fundos comunitários recebidos para o projecto, o que deu origem à inquirição daquele organismo estatal que culminou com o envio do processo ao Ministério Público "para averiguação". "Como colocámos um processo-crime em Tribunal contra a Câmara e os vereadores, quiseram arranjar bodes expiatórios na fundação", disse António Valente, considerando positiva a oportunidade de poder provar em Tribunal que são falsas as acusações que lhe são feitas.Para o presidente da autarquia, Miguel Pombeiro (PS), a situação que se vive na fundação, de "isolamento e descredibilização", é de "lamentar profundamente", pela importância da instituição para o concelho.No seu entender, o consenso gerado entre a população, que em meados de 2007 subscreveu um abaixo-assinado contra a actual direcção, os órgãos autárquicos e a própria Segurança Social "é sintomático quanto ao lado em que está o mal"."O nosso desejo é que muito rapidamente haja uma clarificação do processo, que já corre num nível judicial, e que seja retomada a legalidade", disse à Lusa.O presidente da Junta de Freguesia de Praia do Ribatejo, Aníbal Rodrigues (PS), membro por inerência da direcção da fundação, assume as divergências com António Valente, que acusa de "conduta prepotente" e de responsabilidade na situação "muito atribulada" que se vive na instituição."Não pactuo com situações que grande parte da população e o movimento (que se gerou para contestar a actual direcção) entendem ser de interesses pessoais e não de respeito pela vontade do benemérito", disse à Lusa.A crise na Fundação Dr. Francisco da Cruz deu origem a um movimento de cidadãos, o Payo de Pelle (nome pela qual a freguesia de Praia do Ribatejo foi designada até 1927), que a semana passada promoveu uma vigília, em mais uma acção de protesto contra a actual direcção.Adriano Figueiredo, que se assume como porta-voz do movimento, afirmou à Lusa que este foi criado na sequência de uma assembleia de freguesia realizada em Junho de 2007, da qual saiu um documento que recolheu algumas centenas de assinaturas."Um dos principais objectivos do movimento é defender o bom-nome da instituição e do seu fundador contra as ilegalidades que se têm cometido", disse.António Matos Valente, descendente de Francisco da Cruz, é acusado, nomeadamente, de, em 2005, se ter tornado gerente de uma empresa de arquitectura e urbanismo, a Nascelar, que tem como restantes sócios os mesmos da Listorres, com a qual foi celebrado um contrato-promessa de compra e venda de um terreno da fundação para construção de um condomínio fechado.Por outro lado, os opositores de António Valente afirmam que este vendeu, em nome da fundação, à Nascelar um prédio rústico pelo valor de 200.000 euros que segundo a escritura já teria sido pago mas cuja verba "não deu entrada na fundação".O presidente da direcção da fundação é ainda acusado de ter celebrado um contrato de prestação de serviços com uma clínica que é representada pela sua mulher e de ter deliberado a aquisição de medicamentos a uma farmácia em Riachos (Torres Novas) "tendo como contrapartida o pagamento" a si próprio como médico.António Valente assegura que são tudo "mentiras" e que a ligação à Listorres surgiu de um convite da empresa a todos os membros da direcção para se associarem a um investimento "desta envergadura".Contudo, "com todos estes boatos", a Nascelar desfez todos os negócios com a fundação e o projecto de construção de uma residência geriátrica vai ser feito em Fátima "e a freguesia é que perde", disse.A Fundação foi criada em 1966, um ano depois da morte de Francisco Cruz, que deixou em testamento todos os bens que possuía em Tomar e Vila Nova da Barquinha para um asilo para idosos e inválidos e uma creche "para crianças pobres", naturais da freguesia, a instalar na "Casa da D. Mariana", em Praia do Ribatejo.

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