Sociedade | 01-07-2008 12:06

Quando a prisão se transforma em escola

Quando a prisão se transforma em escola
Cinco reclusos do estabelecimento prisional de Alcoentre receberam um diploma de certificação de competências. Uma forma de integrar o mercado de trabalho quando os muros da prisão ficarem pra trás.Uma ferramenta que pode abrir mais portas no mercado de trabalho quando se deixar para trás os muros da prisão. Esta é a convicção de João Paulo, 42 anos, um dos cinco reclusos do Estabelecimento Prisional de Alcoentre (EPA) que na sexta-feira, 23, receberam o diploma de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) no âmbito do processo de Novas Oportunidades. A sessão decorreu nas instalações do Centro Protocolar da Justiça (CPJ), em Alcoentre, concelho de Azambuja.João Paulo deixou de estudar aos 13 anos. Completou o sétimo ano mas o espírito rebelde e irreverente levou-o a deixar de estudar. Preferiu começar a trabalhar. As escolhas que fez ao longo da adolescência deixaram-no escapar para caminhos menos claros. Conseguiu largar as drogas há sete anos depois de 14 tentativas e com o apoio de alguns familiares. Está preso há quatro anos e meio por tráfico de droga. Na altura trabalhava por conta própria quando o trabalho deixou de aparecer. “O dinheiro deixou de aparecer e tinha uma família para sustentar e uma renda de casa de 400 euros para pagar. Optei pela forma mais fácil. Não sou nenhum santo e sei que não foi correcto o que fiz. Mas quando estamos com a corda ao pescoço fazemos qualquer coisa”, explica.O recluso aproveita o tempo que está a passar na prisão – em Novembro de 2009 cumpre cinco sextos de pena e pode beneficiar da liberdade condicional – para estudar e adquirir mais competências que lhe abram mais oportunidades no difícil mundo do trabalho. No dia em que recebeu o diploma de competências equivalentes ao 9º ano inscreveu-se nas aulas de formação para obter o 12º ano. Tentou também tirar um curso de especialização em soldadura mas não é possível fazer os dois cursos em simultâneo. “Tinha que optar entre tirar um curso de soldadura e ficar com o 12º ano preferi ficar com a escolaridade obrigatória. Tenho que aproveitar enquanto estou cá dentro para me valorizar. Quanto mais competências tiver melhor para o meu futuro”, afirma. História semelhante tem Mário Vaz, 40 anos, de Lisboa. O ex-toxicodependente foi condenado há 12 anos por tráfico de droga. Mas como nunca se entregou, está preso apenas há um ano depois da polícia o ter ido buscar ao trabalho. Mário preferiu tornar útil a sua estada na prisão e decidiu inscrever-se no processo de Novas Oportunidades para obter o certificado de equivalência ao 9º ano.Mário Vaz largou os estudos aos 14 anos. Completou apenas o 6º ano. Recorda que a vida era difícil. Ficou sem pai aos seis anos e foi criado apenas pela mãe. Começou a trabalhar para ajudar em casa. Se pudesse voltar atrás e mudar a sua vida nunca teria entrado no mundo das drogas que o levaram à prisão. “Estas competências faziam-me falta e o diploma é uma vitória. Lá fora não tinha disponibilidade para estudar porque trabalhava mas como aqui dentro tempo é coisa que não me falta decidi aproveitá-lo da melhor forma e estudar. Assim, adquiro formação e ensinamentos que não tinha. Será mais fácil quando voltar à vida activa”, diz, acrescentando que tem o apoio do patrão para voltar à empresa quando sair da prisão.Na mesma cerimónia foram entregues diplomas a 29 civis que frequentaram os cursos de certificação de competências.

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