Sociedade | 24-01-2010 15:00

Marcas de explosão em escola do Cartaxo permanecem 25 anos depois

As marcas no rosto lembram todos os dias a Helena aquilo que nunca poderá esquecer, "o buraco" na sua vida depois da explosão na sala de aulas que vitimou 30 pessoas, há 25 anos, numa escola secundária do Cartaxo. A 25 de Janeiro de 1985, as atenções do país viraram-se para a Escola Secundária do Cartaxo quando uma violenta explosão seguida de incêndio ocorreu numa sala de aula.O incidente vitimou a professora e dezenas de alunos, dois dos quais, de 13 anos, não resistiram aos ferimentos e morreram. O inquérito oficial foi inconclusivo a determinar as causas do incidente, mas quem estava lá lembra-se de "um cheiro intenso na sala". Os meios de comunicação da altura adiantaram uma forte concentração de gás na sala de aula como a origem da explosão."Estava a chover muito, muito, muito. De repente, houve um estrondo enorme e eu, como estava perto da porta, saí. Ainda consigo visualizar-me a abrir a porta e sair cá para fora. Ainda não estava a perceber muito bem o que é que se estava a passar. Fui à casa-de-banho e depois é que vi o cabelo a arder. Desci a correr e quando cheguei cá fora caí para o chão e perdi os sentidos", recorda Helena Sereno, em entrevista à agência Lusa. Helena tinha 14 anos na altura dos acontecimentos e depois de ter conseguido alcançar o exterior da escola, diz que só se lembra de já estar no hospital.Sérgio Serra era um dos médicos a trabalhar no Hospital do Cartaxo. Estava a dar consultas em Pontével quando uma enfermeira lhe ligou a contar que tinha ocorrido uma explosão."Quando cheguei, a grande maioria dos colegas já estava a dar apoio e a grande maioria dos queimados já estava a ser socorrida, uns por soro, outros a fazer a lavagem, e a minha preocupação não foi tanto o trabalho directo, mas foi controlar os 30 queimados que tinham entrado e fazer uma evacuação correcta", explicou o médico e hoje director do Centro de Saúde do Cartaxo.Recorda que o problema principal foi a falta de ambulâncias para evacuar os feridos. Durante meia hora, lembra, teve de lidar com essa contingência ao mesmo tempo que aumentava a pressão dos pais que queriam saber notícias dos filhos feridos."Fizemos um cordão com a GNR para impedir as pessoas de entrarem para o hospital e a partir daí começámos a dizer [aos pais] que não precisávamos que levassem as crianças de carro para Lisboa. O que é verdade é que passados uns minutos tínhamos o parque todo do hospital cheio de ambulâncias", disse Sérgio Serra.Desde o início dos tratamentos até à alta hospitalar, que Helena Sereno pediu por já estar "muito cansada", passaram-se 12 anos. Agora, quando olha para trás, sente que ficou com um "buraco" na sua vida."Sinto que fiquei com um buraco na minha vida porque sinto que não tive adolescência. É aquela fase das raparigas começarem a olhar para si, querem sentir-se bonitas, olharem para os rapazes e eu, como os meus colegas fomos muito condicionados", entende."Tínhamos que usar umas máscaras elásticas só com uns buracos para os olhos, nariz e boca e isso era terrível, com as pessoas sempre a olharem, e depois foi as marcas que ficaram", acrescentou. Hoje, admite que "todos os dias são uma luta diária". Não gosta do que vê quando se olha no espelho e garante que é graças ao apoio dos amigos e da família que consegue ir ultrapassando os diversos obstáculos."Psicologicamente sou uma pessoa que não tem auto-estima, por muito que procure ajuda em psicólogos, sou hipersensível e penso que se não tivesse acontecido isto eu era uma pessoa diferente, mais forte e mais positiva", diz Helena Sereno. "Isto afectou-me mesmo muito a nível psicológico", acrescentou.O médico Sérgio Serra também não tem dúvidas de que com este episódio "marcante", a população do Cartaxo "sofreu bastante".

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