Sociedade | 08-11-2015 14:32

Médicos que dão consultas no meio da rua

Médicos que dão consultas no meio da rua

Os médicos internos de medicina geral e familiar da Lezíria do Tejo reuniram-se nos dias 30 e 31 de Outubro, na Escola Superior de Saúde de Santarém.

"O que posso dizer é que neste momento tenho a vida adiada até ao término da especialidade, que é este ano", diz-nos Ana Luísa Bernardo, 29 anos, presidente da comissão organizadora do encontro de médicos. Já Rita Matias Ferreira, 45 anos, para justificar que um médico tem dificuldade em constituir família, lembra a brutalidade que é enveredar pelo curso de medicina: "Noutras profissões as pessoas tiram um curso e podem tirar mais uma especialização ou duas mas começam a trabalhar. Nós tiramos seis anos de curso, depois temos um ano de internato geral e depois temos mais quatro ou cinco ou seis anos de especialidade. É uma exigência brutal". Quanto a Miguel Rato, 32 anos, casado com uma médica, também adiou a questão de ter filhos para mais tarde. "Temos uma grande ocupação emocional", justifica.Um assunto polémico com o qual os médicos têm de lidar é o das transfusões de sangue em Testemunhas de Jeová, algo que estes rejeitam devido à sua interpretação da Bíblia. "Temos de aceitar todas as decisões do doente que, em última análise, é o dono do seu corpo", lembra Ana Luísa. Eva Marona, 31 anos, também fala em respeitar sempre a opção do doente: "A única coisa que eu tenho de ter a certeza é que a opção do doente é uma opção informada e uma opção autónoma. Muitas vezes, nessas situações de grupos, de comunidades, as opções podem ser impostas. Enquanto médica tenho de garantir que a opção feita por aquele indivíduo é absolutamente consciente do que lhe vai acontecer e que é uma opção livre, ou seja, que ele não está com medo de ser segregado pela comunidade". Miguel Rato lembra, de uma forma mais geral, que há doentes que não querem ser tratados. "E eu não os posso obrigar", diz.À excepção de Eva Marona, os médicos internos ouvidos por O MIRANTE costumam ser constantemente abordados para passarem receitas a familiares, amigos ou vizinhos. Ana Luísa Bernardo conta que de vez em quando tem alguém à sua espera à porta de casa, enquanto Rita Matias Ferreira reconhece que a estão "sempre a cravar". O exemplo mais elucidativo vem de Miguel Rato: "Mais do que pedir receitas é muito normal ter de dar consultas no meio da rua. É um trabalho que não acaba e isso às vezes é um bocadinho desgastante. Por exemplo, já dei umas cinco ou seis consultas seguidas num sítio onde costumava ir tomar café. As pessoas não têm noção do que fazem".* Notícia desenvolvida na edição semanal de O MIRANTE

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