Sociedade | 27-08-2017 17:36

Radioamador de Seiça salvo pelos amigos através do rádio

Radioamador de Seiça salvo pelos amigos através do rádio

Abel Batista contacta com colegas em todo o mundo e agora está a divulgar os 500 anos da freguesia do concelho de Ourém

Abel Batista estava a fazer mais uma viagem de trabalho, ao volante de um camião, quando se sentiu mal. Nas viagens o motorista de transportes internacionais costumava utilizar o sistema de rádio amador que tinha instalado no camião para ir falando com os colegas. E foi isso que lhe salvou a vida em Espanha, faz agora um ano.

O motorista circulava às duas da manhã e comunicou que se estava a sentir mal. Os amigos radioamadores, que habitualmente falavam com Abel e já lhe conheciam os hábitos, fizeram contas ao horário de partida de Abel para a viagem de trabalho e perceberam que ele deveria estar em Vitória, Burgos, no parque de estacionamento de um restaurante. Iniciaram então uma verdadeira rede de comunicação com a Guardia Civil de Espanha, dando conta do local onde Abel deveria estar estacionado e a necessitar de ajuda.

A operação, conta José Machado, radioamador de coração, gestor de profissão e amigo de Abel Batista, demorou cerca de 20 minutos. A Guardia Civil, seguindo as informações, dirigiu-se ao local e prestou ajuda ao português de Seiça, concelho de Ourém, que foi levado para o hospital e operado de urgência ao coração. Teve de fazer um “bypass” por causa de uma artéria obstruída. Abel Batista, a pedido da esposa, deixou a profissão de motorista e ganhou mais tempo para se dedicar à actividade de radioamador, que lhe permite continuar a viajar por todo o mundo sem sair de casa.

Abel Batista, de 60 anos, é o único radioamador de Seiça e dedica boa parte do seu dia ao radioamadorismo para promover várias iniciativas. Actualmente, está a usar a sua rede de contactos para dar a conhecer Seiça, a freguesia onde nasceu e que está a comemorar 500 anos sobre a sua fundação. Com o código CR5FSE, código específico atribuído por 10 dias para divulgar esta iniciativa, o indicativo CT7ACP, que identifica Abel Batista, contacta radioamadores em todo o mundo para lhes dar a conhecer um pouco da sua terra e também de Portugal.

O primeiro rádio de transmissão comprou-o em 1974 e desde então a paixão pela comunicação via rádio tem vindo sempre a aumentar. Abel Batista fala várias línguas, mas a comunicação entre radioamadores é universal através do alfabeto fonético internacional.

Há seis mil radioamadores licenciados em Portugal
As licenças para operar podem rondar os 40 euros por ano e, como diz Abel, quando se gosta os gastos são relativos. As licenças de indicativos pedidos à ANACOM - Autoridade Nacional de Comunicações, para divulgar eventos, custam 15 euros. Abel lembra que quando o Papa Francisco esteve em Maio, em Fátima, os radioamadores da região fizeram cerca de sete mil contactos para divulgar o evento pelo mundo e prestar todo o tipo de informações aos radioamadores em linha. Sublinham que este tipo de comunicação é muito seguro porque só uma falha de energia impede as comunicações.

Os radioamadores portugueses têm um protocolo com a protecção civil para ajudar, caso seja necessário em situações de emergência, como é o caso dos incêndios que têm assolado o país. Mas, ressalva Abel Batista, nunca é pedida a ajuda dos radioamadores, apesar dos meios disponíveis e dos conhecimentos de que dispõem.

Os contactos de Abel Batista estendem-se desde a Europa, à América e África. Agora está à espera da visita de uns amigos brasileiros que ficarão na sua casa para conhecer Seiça e a região. Está já convidado para ir também ao Brasil. Os assuntos que se abordam nas comunicações passam pelo estado do tempo, história dos países, acontecimentos do momento nos vários locais em que se encontram, como é o caso dos fogos em Portugal, e questões técnicas relacionadas com a actividade.
Abel Batista considera-se um homem do mundo. Foi para França com 14 anos, onde começou a trabalhar na limpeza de supermercados. Depois foi trabalhar para a “Michelin”. Com 22 anos comprou o seu primeiro semi-reboque e avançou para a estrada com muito trabalhos que o traziam regularmente a Portugal. As viagens e a necessidade de estar sempre em contacto com outras pessoas fizeram nascer o gosto pelo radioamadorismo que agora já se tornou quase num vício. Todos os dias, quando se levanta da cama, a primeira coisa que faz é ligar o rádio.

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