Sociedade | 28-12-2017 09:30

“No meu primeiro emprego o patrão tirava-me as gorjetas”

“No meu primeiro emprego o patrão tirava-me as gorjetas”
DEDICAÇÃO. Marcelo Santana nasceu e ainda vive em Povos na cidade de Vila Franca de Xira

Marcelo Santana é um vilafranquense apaixonado pela vida e pelo trabalho.

Marcelo Santana, de 61 anos de idade, recorda-se bem do seu primeiro emprego, quanto mais não seja por uma história que lá viveu. “Comecei a trabalhar a ajudar num supermercado, na altura ainda com uns 12 ou 13 anos. Ajudava a meter os produtos dos clientes dentro dos sacos. Alguns davam-me umas gorjetas mas o patrão metia-me a mão no bolso e sacava-mas”, lembra a sorrir. Diz que naquela altura ganhava sessenta escudos por mês. Qualquer coisa como 30 cêntimos na moeda actual.


Nasceu em Povos e ainda hoje vive naquele bairro. A sua infância foi difícil, como a da maioria dos miúdos da sua geração. “Todos me conhecem como o Marcelo de Povos porque sempre vivi naquele bairro. Antigamente éramos muito amigos e tive uma infância totalmente diferente daquela que os miúdos têm nos tempos de hoje. Temos de compreender isso porque os tempos eram outros. Brincávamos na rua descalços. Eu e o meu irmão quando chegávamos mais tarde a casa levávamos uma sova. Isso hoje já não existe. Éramos mais reprimidos naquela altura”, conta.


Depois de passar pelo supermercado ajudou o pai na horta até começar a aprender a ser pintor de automóveis na zona do cais de Povos. Mais tarde mudou-se para outra oficina em Alverca. “Ainda estive uns anos nessa área mas depois desisti por causa dos químicos das tintas”, explica.


Foi na oficina que teve um grave acidente. Ao tentar arranjar umas telhas partidas escorregou e caiu, danificando o nervo óptico de um dos olhos, do qual nunca recuperou a visão. Esteve internado duas semanas no Hospital de Santa Maria. “Tentei encarar sempre tudo na desportiva, como se costuma dizer. Nunca vacilei por causa do que aconteceu. Segui sempre em frente sem queixumes nem complexos”, refere.


Trabalhou em vários outros locais, da antiga Univex às campanhas do tomate, aos cereais e até na distribuição de gás de botija. Passar por todos aqueles empregos deu-lhe a tarimba da vida mas ele ambicionava estabilidade e ela acabou por chegar quando respondeu a um concurso público para auxiliar de acção educativa, na escola secundária Alves Redol. Foi recrutado e está lá há 35 anos.


“Concorri para subir a auxiliar de manutenção, cargo que desempenhei durante nove anos e depois passei para assistente operacional”, conta. Nessas funções faz de tudo um pouco.


Marcelo Santana diz que nunca teve um emprego de sonho mas que ter entrado para a função pública foi importante na sua vida. Casou pouco tempo depois e constituiu família. “Ter estes empregos todos ajudou-me a crescer, apanhei coisas boas e más mas na globalidade foi bom”, conclui.

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