Sociedade | 25-05-2018 17:36

“O Ribatejo sem campinagem e gado bravo não é Ribatejo”

“O Ribatejo sem campinagem e gado bravo não é Ribatejo”
Bernardo Afoito vai ser homenageado na Feira de Maio e Azambujano próximo domingo

Bernardo Afonso, 69 anos, é o campino que este ano vai ser homenageado na centenária Feira de Maio, em Azambuja. Toda a sua vida foi feita na lezíria ribatejana, a lidar com toiros e cavalos.

A campinagem foi a sua escola e diz que para se ser campino basta habilidade e coragem. Adora ensinar jovens na arte e ainda bate palmas quando vê uma “boa varada num toiro”. Bernardo Afonso, filho do campino Custódio Afonso, já falecido, nasceu em Pancas, no Monte Bate Orelhas, concelho de Benavente. No domingo, 27 de Maio, vai ser homenageado na centenária Feira de Maio, em Azambuja.
Bernardo Afonso diz a O MIRANTE que os verdadeiros toiros bravos já quase não entram nas corridas, sendo substituídos por novilhos que não atraem o povo aficionado. E sentencia que “o Ribatejo sem campinagem e gado bravo não é Ribatejo”.
Iniciou-se na campinagem ainda criança, sob alçada do seu padrinho de baptismo, o já falecido campino Manuel Desterro. “Foi ele que me ensinou a arte da campinagem e sempre tive confiança nos ensinamentos que me transmitiu”, recorda Bernardo Afonso.
Fez uma pausa na actividade para cumprir o serviço militar e regressou aos campos da lezíria com 23 anos, para trabalhar na Herdade Conde Cabral - actual Ganadaria dos Herdeiros de Conde Cabral, onde permanece até hoje. Já reformado, Bernardo Afonso vive os seus dias mais desafogado, mas sempre no coração da lezíria, que diz ser a sua casa. Recorda os tempos em que, naquela herdade, trabalhavam uma dezena de campinos e o momento em que foi o escolhido para ser o moiral real. O trabalho diário era feito junto das manadas de vacas e toiros bravos e dos restantes moirais. Diz que nunca foi homem de dar ordens mas de respeitar e no momento de entrar na manada para ir recolher o toiro era o primeiro a enfrentar a bravura dos animais.
Bernardo Afonso revela que já foi homenageado noutras ocasiões, recordando a primeira homenagem em Alcochete há 15 anos e em Vila Franca de Xira há 4 anos, na Festa do Colete Encarnado. Apesar de já não ser estreante, Bernardo Afonso sente orgulho por continuar a representar esta arte, o traje que enverga e a casa que representa. A homenagem pode ser feita em seu nome mas diz pertencer a todos os campinos.
A campinagem é uma arte que tem tendência a diminuir mas também é uma arte de valentia e coragem, diz Bernardo Afonso. Lembra que o sangue que lhe corre nas veias fervia sempre que aguardava impacientemente a entrada dos toiros na arena e só arrefecia quando os animais bravos já iam longe, pois apesar de se dizer um homem de fé sempre teve consciência do perigo e sentia medo, tal como todos os outros homens ligados à tauromaquia.

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