Sociedade | 06-07-2018 16:04

Depois do ensino primário a vida seguia na “escola” da OGMA

Depois do ensino primário a vida seguia na “escola” da OGMA
Anabela Ferreira está a preparar uma exposição para assinalar o centenário da indústria aeronáutica

Cidade está intimamente ligada à história da aviação, patente nas ruas, nas praças, nos parques, na toponímia, nos monumentos, nos museus.

Rapazes e raparigas de Alverca começavam a trabalhar nas antigas OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico) assim que concluíam o ensino primário e cresciam na empresa, à medida que a localidade crescia com a indústria aeronáutica aí instalada há cem anos.

“Aquilo foi a minha escola”, é a frase mais repetida pelos antigos trabalhadores quando questionados sobre as memórias que guardam da empresa, contou à agência Lusa a coordenadora do Núcleo de Alverca do Museu Municipal de Vila Franca, Anabela Ferreira, que prepara uma exposição para assinalar o centenário da Indústria Aeronáutica.

Nascida do Parque de Material Aeronáutico de Alverca, a OGMA foi a “primeira grande indústria dos tempos modernos” ali instalada. “Foi o início de uma grande mudança, porque há muita gente que vai conseguir emprego”, disse Anabela Ferreira. Era frequente rapazes e raparigas com 12,13 e 14 anos começarem a trabalhar naquele parque industrial.

O emprego era, à época, o percurso natural após o ensino primário para uma vasta camada da população, que ali encontrava sustento nos trabalhos de carpintaria e mecânica, entre outros serviços. “Vai ser um lugar que vai atrair muitas pessoas, um pouco de todo o país”, recorda, situando o grande “boom” nos anos de 1970.
Havia gerações de famílias a trabalhar nas oficinas e um sentimento de pertença entre os mais antigos: “As pessoas continuam a encontrar-se e a sentir que aquilo foi um momento importante das suas vidas”.

A OGMA é hoje o maior empregador do concelho de Vila Franca de Xira, com 1.862 funcionários. Alverca passou de vila a cidade e a economia local está fortemente ligada ao desempenho da empresa

Isabel Caetano, 78 anos, vende frutas e legumes no mercado e como quase todos em Alverca tem na família antigos trabalhadores da empresa. O avô transportou pedras, num carro de bois, para a construção das oficinas. Foi para lá que um dos primos foi trabalhar aos 16 anos, sem ganhar salário nos primeiros meses: “Iam para aprender, era o primeiro passo, e se vissem que eles davam, ao fim de uns meses, começavam a ganhar um ´X´´. Não era muito, mas depois evoluía”.

Há cerca de 20 anos, relatou Isabel Caetano, “veio muita gente embora antecipadamente porque viram que aquilo estava a ficar mau”. À Lusa testemunhou que nos momentos mais críticos da empresa, a crise sentiu-se também no negócio: “E muito mesmo. Tenho muitas clientes que trabalhavam lá”.

Nos tempos áureos da OGMA construíram-se bairros operários, o que viria a ter “uma importância tremenda”, segundo a responsável pelo núcleo museológico. “Logo no início, começamos a perceber que, nos primeiros tempos, há todo um grupo de mulheres que começa a trabalhar na OGMA e que são incentivadas a estudar e isso é algo que não era muito comum ver noutros espaços do nosso país”, observou.

Presidente da República na celebração do centenário

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, presidiu à sessão comemorativa do centenário da OGMA – Indústria Aeronáutica, em Alverca, no dia 29 de Junho. Além dos discursos a elogiar a empresa, a cerimónia ficou também marcada pela homenagem a João Cêra, antigo funcionário da OGMA, que ali prestou serviço de 1943 a 1980. Marcelo Rebelo de Sousa inaugurou pouco depois o espaço museológico da empresa e foi o seu primeiro visitante.

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