Sociedade | 16-12-2018 07:00

Há pessoas que preferem calçar sapatos de centenas de euros e sorrir sem dentes

Há pessoas que preferem calçar sapatos de centenas de euros e sorrir sem dentes
TRÊS DIMENSÕES

Manuel Botelho, dentista, 35 anos, director clínico na Dona Saúde em Alverca

Nasceu e viveu na ilha Terceira, nos Açores e por lá ficou até ir estudar medicina dentária para Lisboa e especializar-se em ortodontia, nos Estados Unidos da América. Há quatro anos e meio abriu a sua primeira clínica, em Alverca do Ribatejo, onde trabalham 13 profissionais em áreas como a pediatria, ortodontia e ginecologia. Diz que o sorriso abre portas e é nele que repara quando conhece uma pessoa. Ser pai ensinou-lhe a relativizar problemas e a ser menos egoísta.

Não tinha nada que me ligasse a Alverca ou ao Ribatejo, mas quando pensei em abrir uma clínica pareceu-me um bom local. Os serviços de saúde de qualidade não devem, nem podem ser exclusivos dos grandes centros. Há que aproximá-los das periferias e torná-los mais próximos das pessoas.

Quando se fala de festa os açorianos são como os ribatejanos. Gostamos de estar próximos uns dos outros e de nos envolvermos com a comunidade em ambiente de festa. Nasci e cresci em Angra do Heroísmo (Terceira, Açores) e a ilha moldou muito a minha personalidade, no sentido de dar valor à família e às amizades, que ainda hoje preservo.

O nascimento do meu filho fez-me relativizar os meus próprios problemas. Quando somos pais há uma espécie de chip biológico que desperta em nós e nos faz ser mais altruístas e menos egoístas. O filho passa a ser o centro de tudo e aqueles problemas do quotidiano que dantes nos incomodavam passam para último plano.

Ser pai é como praticar desporto porque exige um constante exercício dos músculos e da paciência (risos). Mas é como pai que ponho à prova o melhor de mim. Falando em desporto no verdadeiro sentido da palavra, jogo futebol uma vez por semana e vou duas ao ginásio. É uma óptima receita para manter o corpo e a mente sãs.

Tornei-me num homem mais maduro depois dos 30 anos. Esse amadurecimento veio pela abertura de negócios próprios, que exigem responsabilidade acrescida. No meio empresarial aprendi que há quem se tente aproveitar da falta de amadurecimento e da inexperiência dos outros. Era mais fácil se todos crescêssemos mais cedo mas a tendência é para que isso aconteça mais tardiamente.

Há objectivos profissionais que quero concretizar antes dos 40. Expandir a clínica em tamanho e especialidades, fortalecer a marca Dona Saúde e levá-la a outros concelhos da zona periférica de Lisboa. Abrir um restaurante também faz parte dos objectivos num futuro próximo.

Quando conheço uma pessoa, a primeira coisa em que reparo é no seu sorriso. Um bom sorriso ainda consegue abrir portas, social e profissionalmente. Interiormente o que mais valorizo é a honestidade e a energia positiva. De pessoas negativas está o mundo cheio e delas quero distância. Foi algo que o tempo e a idade me ensinaram.

As amizades são como as relações amorosas, temos de as estimular para se manterem firmes. Como não tenho tempo para fazer isso com todas as amizades que criei ao longo da vida, há uma selecção natural. Só mantenho aquelas que são genuínas e continuam a beber do meu tempo.

Gosto muito de juntar os amigos à volta da mesa. Continuo a preferir uma saída com os amigos, a ficar em casa a fazer serão, no fim-de-semana. Mas já troquei a saída à noite pelo almoço prolongado, para no dia seguinte estar com a família. A idade e o cansaço vão-me tornar caseiro mais cedo ou mais tarde.

As pessoas só vão ao dentista quando o dente já grita por ajuda. Há quem fique mais de oito anos sem ir a uma consulta e claro que quando vão têm de gastar mais para terem o problema solucionado. Defendo as consultas periódicas desde a infância para evitar que pequenos problemas, entenda-se mais fáceis de solucionar e menos dispendiosos, se tornem autênticos abismos difíceis de tratar.

Há pessoas que preferem calçar sapatos de centenas de euros e sorrir sem dentes. É uma questão cultural em Portugal que tem vindo a melhorar, mas ainda é necessário trabalhar a importância da saúde e higiene oral na população, que deve começar na infância.
O maior lucro que posso ter é melhorar a auto-estima das pessoas através do seu sorriso. Numa clínica de saúde a questão financeira nunca pode estar no topo da pirâmide. Há outros valores que se devem sobrepor aos lucros, tal como a recompensa pessoal, satisfação e alegria do utente.

Se a minha vida fosse um filme seria “A Vida é Bela”. Independente dos males da vida e de todos os problemas, nunca devemos perder o humor e o sorriso. São eles que nos ajudam a seguir em frente.

O medo do dentista nos adultos deve-se, em muitos casos, a traumas sofridos na infância. A medicina dentária não estava tão desenvolvida e havia maus profissionais. Isso fez com que o medo perdurasse e continuassem a sentir medo de ir ao dentista, fazendo-o apenas em último recurso. Nas crianças, o medo deve-se em grande parte, ao sentido protector dos pais que os acompanham nas consultas. O comportamento correcto de quem acompanha uma criança ao dentista deve decorrer na base da transmissão de confiança.

Crescer rodeado de água deu-me uma sede enorme de viajar. Acho que é algo típico de quem viveu numa ilha. Há cerca de um mês visitei Florença (Itália) e anseio por uma oportunidade para ir à Austrália e ao Japão. Conhecer culturas tão diferentes da nossa é extremamente enriquecedor.

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