Sociedade | 26-12-2018 07:00

Enfermeira Fátima quer dar nova vida ao Clube Taurino de Vila Franca de Xira

Enfermeira Fátima quer dar nova vida ao Clube Taurino de Vila Franca de Xira

Fátima Nalha é a nova presidente da colectividade e quer dinamizar a instituição.

O Clube Taurino Vilafranquense passou por quatro anos complicados e chegou mesmo a ser gerido por uma comissão administrativa por falta de interessados em assumir os destinos daquela associação taurina de Vila Franca de Xira. A nova direcção é composta por aficionados e por uma mulher que não teme envolver-se num mundo tradicionalmente dominado pelos homens.

Vila Franca de Xira precisa de um Clube Taurino Vilafranquense (CTV) forte, saudável e com importância e prestígio no seio da festa brava e, por isso, a maior urgência é voltar a dar a esse clube a dignidade e reconhecimento que merece. A opinião é de Fátima Nalha, 50 anos, a nova presidente da direcção da colectividade.

É uma mulher num mundo tradicionalmente de homens mas não vê isso como um problema mas antes como uma oportunidade de fazer melhor e diferente. Chega ao CTV para o seu primeiro mandato depois do clube ter estado a definhar durante quatro anos nas mãos de dirigentes que não o souberam reerguer. As coisas estiveram tão más que chegou mesmo a existir uma comissão administrativa a gerir apenas o mínimo possível para pagar as contas da luz e água.

A nova direcção, que tomou posse a 17 de Setembro, é composta por muita gente jovem e dinâmica que quer dar outro rumo à casa. “Queremos dar passos sérios para sermos novamente uma referência para quem gosta de toiros e para quem está na festa na qualidade de profissional”, explica Fátima Nalha a O MIRANTE. A ambição principal é voltar a dar ao CTV a dignidade que merece e que nos últimos anos foi sendo perdida.

“Queremos que a nossa sede seja um espaço onde se fale de toiros e se possa reunir pessoas para falar da festa brava. O Clube Taurino já foi um local forte e de referência em Vila Franca. Mas as actividades estavam esmorecidas e chegou a um ponto em que esta casa tinha a porta fechada, algo que nunca tinha visto. Não havia representação e a população percebeu que o clube taurino perdeu força. Queremos reanimar o clube e vamos fazer por isso”, acrescenta.

Fátima Nalha diz não ter qualquer problema em ser uma mulher num mundo tradicionalmente masculino e confessa que isso até pode trazer vantagens. “Já foi mais masculino do que é hoje. As coisas estão a mudar, nos nossos colóquios já aparecem bastantes senhoras e isso é muito saudável. Não sinto qualquer diferença nem nunca tive qualquer receio de estar no meio do grupo. Gosto deste ambiente e nunca me senti maltratada. Nós, mulheres, temos uma sensibilidade um pouco diferente para as coisas e talvez o clube precisasse disso mesmo”, defende.

Vive-se o maior ataque de sempre à tourada
Nunca como agora a tauromaquia esteve debaixo de um ataque tão grande, lamenta a dirigente. “Vivemos momentos preocupantes, a intolerância à diferença está a ser abismal. A tauromaquia é o primeiro passo. Em consequência dos recentes ataques houve um maior movimento de união dos profissionais e aficionados em prol da festa brava. Há quem agradeça à ministra a ofensa de nos chamar incivilizados, porque revelou uma união que nunca foi vista. Parece que essas pessoas não param de pensar disparates”, critica.

Para Fátima Nalha só se atrai mais gente para a aficion com maior informação e comunicação. “É preciso conhecer melhor a festa”. Muita gente tem falta de conhecimento do que se está a passar”, lamenta.
Nos novos corpos sociais do CTV, cujo mandato dura até 2020, o presidente da assembleia-geral é António José Inácio, rosto aficionado também ligado aos órgãos directivos da Escola de Toureio José Falcão. Os objectivos futuros do CTV passam por reforçar algumas iniciativas que existem e promover outras novas, como a Semana da Cultura Tauromáquica, cujo programa está a ser alinhado com a Associação das Tertúlias Tauromáquicas de Vila Franca de Xira para ser presente ao município.

Em curso está também a Temporada de Inverno, com quatro jantares colóquio com matadores, cavaleiros, grupos de forcados e ganadarias. O tradicional jantar de aniversário com entrega de troféus está marcado para 9 de Março na Palha Blanco. “No aniversário do José Júlio queremos estar presentes e marcar os 60 anos da sua alternativa a 10 de Outubro. Estamos a planear comemorar essa data com a dignidade que merece. A feira das sopas também é algo que queremos manter”, acrescenta a dirigente.

Uma enfermeira aficionada

Fátima Nalha é natural da Chamusca mas vive na região de Lisboa desde os três anos e desde os 10 anos em Vila Franca de Xira. É enfermeira no centro de saúde. Um dos primeiros inquilinos do prédio onde vive foi o bandarilheiro João José. “Começou a haver uma grande afinidade entre nós e comecei a ir aos toiros com essa família. Quando ainda vivia na Amadora, lembro-me do meu pai colocar a sala às escuras para vermos as transmissões do Campo Pequeno, era quase um momento solene”, recorda.

Da Chamusca pouco tem a dizer porque só lá vai nos momentos de festa e nessas alturas “não dá para ter a noção” de como está o pouco desenvolvimento da vila. É casada com Luís Capucha. Nos tempos livres gosta de conviver com a família. As viagens em família giram muito em volta dos toiros. Tira-a do sério a falsidade e a mentira. Admira o respeito e a educação. O seu toureio favorito é a pé. Já viu várias corridas nas maiores praças de Espanha. “A primeira corrida que vi em Espanha foi em Sevilha, com a praça cheia. O silêncio e o ambiente emocionaram-me verdadeiramente.

Praça de toiros não é sítio para Museu da Tauromaquia

A nova presidente do Clube Taurino tem assistido com preocupação aos desenvolvimentos em torno do já polémico Museu da Tauromaquia e a sua convicção pessoal é de que não deve estar na Palha Blanco. “O museu é muito importante para a cidade. Vila Franca de Xira deveria ter esse museu para defender e assegurar algum espólio que existe. O museu devia ter também uma sala onde pudessem realizar-se eventos com alguma dimensão que suportassem a vinda de pessoas de fora. A praça de toiros não tem condições, é uma casa com muita humidade e as salas que conheço não são boas para o aproveitamento que deveria ter esse museu”, disse.

Empresários precisam de conhecer o seu público

Os espectáculos taurinos têm de ir de encontro ao que o público quer e os empresários que ainda não perceberam isso estão a prejudicar a festa. Fátima Nalha reconhece que a festa dos toiros “tem os seus interesses económicos” mas realça que os empresários são parte interessada da festa, por isso “precisam de olhar para o público” e montar espectáculos que sejam do interesse dos aficionados e não pensar apenas no lucro.

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