Costureiras da Universidade Sénior de Benavente vestem crianças desfavorecidas
Escolhem os tecidos e transformam-nos em vestidos coloridos.
As 23 voluntárias juntam-se às segundas e quintas-feiras no atelier, no Porto Alto, para uma tarde de costura solidária. Muitas levam ainda trabalho para casa. É o caso de Matilde Brites, 61 anos, que num mês já contribuiu com 27 vestidos. “Levo o material para casa e vou costurando durante a noite. Para além de gostar de coser sei que estou a ajudar a levar um sorriso a uma criança”, diz a O MIRANTE.
A maior parte destas voluntárias está reformada. A mais velha tem 96 anos e trabalha exclusivamente a partir de casa com os kits preparados no atelier que incluem o tecido já cortado, um bolso, elásticos, linhas e agulhas. Mas também participam jovens desempregadas com jeito para a costura e vontade de ajudar.
Alice Neves, 69 anos, é escriturária reformada. Entrou há cinco anos para a Universidade Sénior de Benavente e quando soube do projecto não hesitou em emprestar as suas mãos com talento para a costura. “Aprendi a costurar com a minha mãe em criança e achei que podia dar aqui uma ajuda”, diz. Hoje já perdeu a conta aos vestidos que fez, mas garante que todos foram feitos com muito empenho e amor.
A coordenadora é Laura Leal. Foi esta mulher de 65 anos quem olhou para o projecto e decidiu apresentá-lo à USB, onde é aluna há vários anos. “Quando soube deste projecto trazido para Portugal pela Vanessa Campos achei que era nosso dever ajudar. Com ele temos ocupado o nosso tempo, a trabalhar felizes da vida por sabermos que vamos dar a uma criança o primeiro vestido da vida dela”, refere.
Os vestidos confecionados por estas voluntárias têm obrigatoriamente um bolso, onde é cozida a etiqueta da Dress a Girl Around the World e onde é colocado um par de cuecas novo. A etiqueta tem especial importância, pois nalgumas localidades onde foram entregues estas roupas tem havido uma redução de agressões sexuais, porque os predadores acham que as crianças estão protegidas por uma organização não governamental (ONG). Também são confeccionados calções para meninos.
Estas costureiras já entregaram no principal atelier do projecto, o Rosapomposa, em Lisboa, uma encomenda com 350 peças, sendo que 210 são vestidos e 140 calções. Para a próxima já têm 70 peças costuradas, mas o objectivo é ultrapassar a anterior. Depois de entregues, todas as peças são vistoriadas antes de seguirem viagem para outro lugar do mundo. “Há critérios de tamanho e qualidade que as roupas têm de cumprir. Tudo é avaliado ao pormenor”, explica Laura Leal.
Ao contrário do que acontece com outras ajudas a crianças desfavorecidas esta organização entrega as roupas em mão. “Uma peça a cada criança. Vestem-nas na hora e tiram-lhes uma fotografia para dar prova de que a missão foi cumprida”, esclarece a responsável do atelier do Porto Alto. E é essa fotografia que motiva estas costureiras que não escondem a ansiedade de um dia verem uma fotografia onde apareçam crianças com as roupas que elas fizeram. “É a nossa maior recompensa”, sublinha.
Material é doado pela população
Todas as entidades associadas ao projecto Dress a Girl Around the World trabalham exclusivamente com material doado. E o atelier do Porto Alto não foge à regra: “Desde linhas, a tecidos, tudo o que utilizamos para fazer estas roupas é-nos doado pela população. Até com uma máquina de costura já contribuíram”, conta satisfeita, a responsável.
Nos dias 17, 18 e 19 de Maio, as costureiras estiveram presentes no Festival do Arroz Carolino das Lezírias Ribatejanas, que se realizou em Samora Correia. “Tivemos uma banquinha onde costurámos e recebemos doações de quem quis ajudar”. Como não aceitam donativos em dinheiro, pedem tecidos, preferencialmente coloridos e de algodão, linhas, cuecas e elásticos.