A Palavra dos Leitores | 09-12-2011 00:39

Memória de uma cantiga na Feira de Rio Maior

Acaba de sair o livro «Cultura Popular em Almeirim» de Álvaro Pina Rodrigues, uma edição da «Cosmos» na colecção «Raízes», dirigida por Aurélio Lopes. Numa primeira leitura ainda não sistemática e organizada, saltou-me à vista um capítulo intitulado «Romances profanos cantados» no qual descobri um texto cuja memória guardo dos tempos da Feira de Rio Maior, onde comecei a ir lá pelos idos de 1956. Era vulgar os cegos cantarem e venderem às pessoas na Feira uns folhetos com cantigas sobre casos de violência que aconteciam no hoje chamado Portugal profundo. Aqui fica a reprodução do arranque de «Há um rapaz na Portela»:«Há um rapaz na Portela / Que enganou uma menina / Levava o retrato dela / Gravado na concertinaGravado na concertina / Gravado no violão / Levava o retrato dela / Amélia da Conceição»Nesse tempo o termo «enganada» tinha um sentido e uma consequência: as raparigas ditas enganadas só acabavam por casar (quando casavam) com rapazes livres da tropa. Os pais das outras raparigas das aldeias sentenciavam sobre os «livres» - «Se eles o livraram algum defeito lhe acharam!»Passados tantos anos ainda hoje me lembro dessa cantiga de Feira cantada pelos cegos. Mas ainda hoje me estranha a forma como a mesma terminava: «Se me queres escrever / Dou-te a minha direcção / Benfica do Ribatejo / Amélia da Conceição.» Talvez a moral da história esteja aqui – um amor perdido não é um amor morto.José do Carmo Francisco

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