Apanhados na rede | 16-01-2021 13:08

O Hospital de Santarém em tempo de covid

O Hospital de Santarém em tempo de covid
Apanhados na rede
foto O MIRANTE

O Hospital de Santarém está pelas costuras com a pandemia. O MIRANTE encontrou um texto nas redes socais, assinado por uma pessoa que é testemunha privilegiada do drama dos doentes e dos técnicos de saúde que acodem aos doentes. Fica aqui a partilha para que redobremos os cuidados de forma a não termos que sofrer o pior desta pandemia.

Leiam, é a realidade.

“15 de janeiro de 2021.

As urgências gerais estão completamente cheias no Hospital Distrital de Santarém! (como todos os internamentos covid e não-covid). As linhas telefónicas estão congestionadas, tal é a afluência de familiares a tentar saber alguma informação dos seus entes queridos. Percorro esses corredores atolados de macas e camas cedidas por outros pisos (porque também noutros anos nesta mesma altura, por haver demasiados casos de gripe e não só, as macas sempre faltaram). Passo pela entrada da urgência geral e vejo familiares a ampararem alguém demasiado fragilizado para andar.... Mas já não há cadeiras de rodas disponíveis! (situação que antes da pandemia já existia!). Percebo que quase um ano após o início da pandemia, as coisas mais básicas não foram adquiridas! Vejo que algumas prioridades se focaram no pagamento dos parques de estacionamento e na construção de bares. Vejo que até mesmo na urgência geral surgem casos de covid-19 (porque alguém partiu uma perna ou teve um AVC, etc, terá que fazer o teste antes de ser internado ou operado! Aí vemos os assintomáticos que por falta de espaço ficaram "encostados" a quem não estava infectado e agora pode estar, tal como vários profissionais de saúde!). Vejo que, à pressa, foram criadas mais 10 camas de UCI COVID-19, mas não vejo mais profissionais com as qualificações adequadas para exercer essas funções (e, como sempre os serviços Farmacêuticos são informados em último lugar para criar, com um passo de magia novos stocks e "inventar" material-não adquirido para guardar esses medicamentos). Suponho que os médicos e enfermeiros especializados em ventilação e ECMO, terão menos tempo da sua vida pessoal, menos tempo para descansar, menos tempo para processar as mortes sucessivas nas suas mãos, menos tempo para estar com os seus cônjuges e filhos, para disponibilizar os seus conhecimentos e experiência a quem ainda mal começou a ser formado em cuidados intensivos (normalmente leva anos, agora terá que ser em dias). Lamento profundamente tudo isto, porque a solução, ou pelo menos a minimização da pandemia em Portugal e no Mundo inteiro, tinha uma regra moral tão simples: respeito!!!!

Continuamos sem respeito! E isso é o mais importante numa sociedade. Estamos neste momento a tentar remendar uma falta que se perpetua há anos e ainda somos atacados por pessoas que nada entendem da realidade de um hospital do SNS, como cúmplices de um conluio para convencer o mundo de que a Covid-19 existe, enquanto supostamente, estamos a encher os bolsos com maços de notas! Isto é surreal! Nós, profissionais de saúde, estamos esgotados! Como todos os apoios, por exemplo, costureiras, electricistas, canalizadores, etc, a tentarem manter habitável uma estrutura que se degrada a cada dia.

Sei que não é este texto que vai mudar o mundo! Mas também sei que se cada um de nós, individualmente não fizer nada, o mundo será cada vez pior.

Tenham respeito por favor para que quem está a cuidar dos nossos doentes covid e não-covid, possa ter um pouco de descanso e tempo para cuidar das suas famílias.

#respeito

(Felicidade Cardoso ,técnica superior de farmácia no HDS)

Veja o post em: https://www.facebook.com/1668334330/posts/10215997613447675/

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