Crónicas do Brasil | 22-04-2015 12:56

O Duplo de Freud

Austríaco, judeu, médico e escritor, Arthur Schnitzler (1862-1931), depois de completar o curso de medicina, começou cedo a se interessar pelos mistérios que envolvem a mente humana. Contemporâneo de Sigmund Freud (1856-1939), identifica-se com este em quase todos os seus interesses científicos e culturais, tendo sido considerado por alguns como o “duplo de Freud”. Filho de médico, clinicou apenas por uns poucos anos, dedicando-se após ao ofício de escritor em tempo integral. E o fez com extrema habilidade. Pouco conhecido junto ao público leitor brasileiro, tem agora – graças à organização e tradução de Marcelo Backes -, lançamentos previstos de suas principais obras pela Editora Record. Schnitzler é múltiplo e diverso: novelista, romancista, dramaturgo (no início do século 20 suas comédias eram representadas até no Japão). Ambientado na Viena do final do século 19, seus personagens (com freqüência médicos) se movimentam em tramas que envolvem amor, sexo e morte, antecipando, de certa forma, a psicanálise de Freud. Há no autor – crítico da decadência de costumes da sociedade austríaca – uma evidente curiosidade psicológica em desnudar o inconsciente de seus personagens. Tanto isto se torna verdadeiro que o próprio Freud, em carta datada de 1922, disse-lhe que “o senhor sabe por intuição, a partir de uma fina auto-observação, tudo o que tenho descoberto em outras pessoas por meio de laborioso trabalho”. Em outras palavras: eu (Freud) pesquisei e comprovei cientificamente o que tu (Schnitzler) já deduzias pela observação comportamental da sociedade. Ao mostrar precocemente as verdades do inconsciente, assim como Freud (um pouco mais tarde), Schnitzler foi criticado e censurado, sendo alguns de seus livros considerados como obras pornográficas. Dentre sua volumosa produção literária – toda escrita em alemão, assim como Kafka – talvez a obra que melhor possa representar seu estilo de “monólogo interior” seja Breve Romance de Sonho (Traumnovelle). Menos conhecido pela leitura de seu texto, tornou-se popular quando o diretor Stanley Kubrick (1928-1999) resolveu transformá-lo em filme, com o título De olhos bem fechados, com Tom Cruise e Nicole Kidmann. Neste, o personagem médico, depois de ouvir as fantasias eróticas da mulher, sai à noite para atender um cliente e se vê enredado numa aventura sexual que abala a vida psíquica e familiar do casal. Amor, morte, sexo, inconsciente. Bem ao estilo de Freud, quer dizer de Arthur Schnitzler. Médico e Escritor Membro titular da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina e da Academia Rio-Grandense de Letras

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