Crónicas do Brasil | 13-02-2022 21:31

Eleições 2022 – O ano da virada

A direita brasileira mostrou sua cara e parte dela está arrependida de ter apostado em seu lado mais extremado.

A direita brasileira mostrou sua cara e parte dela está arrependida de ter apostado em seu lado mais extremado. O general Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria Geral de Governo, em entrevista à revista “IstoÉ” do dia 28 de janeiro, chamou o ex-capitão de ‘criminoso’, ‘covarde’ e ‘traidor’, além de acusálo de ‘destruir a direita e o conservadorismo’ no Brasil. Ele citou o Sete de Setembro, quando o atual presidente bravateou na Av. Paulista, e, logo depois, chamou Michel Temer para escrever meia página pedindo desculpas. Temer, como bom golpista que é, não se furtou a ajudar o colega. Golpistas, bem sucedidos ou não, sempre se entendem. O general Paulo Chagas, por sua vez, afirmou que Bolsonaro quis usar o 31 de março para aprovar o estado de sítio, tentando envolver o exército e buscando conseguir o controle das PMs, mas acabou por perder o apoio do alto oficialato e terminou nos braços do Centrão, onde é o jogo que todos conhecem, o toma lá dá cá. ‘Se gritar pega Centrão/Não fica um meu irmão”, cantou o general Heleno na Convenção do PSL, em 2018, mas é claro que agora ele mudou de opinião. É uma espécie de repetição da tentativa de Jânio Quadros, que através da renúncia buscava alcançar amplos poderes para dirigir o pais de forma discricionária sem prestar contas à sociedade.

O ex-ministro do Superior Tribunal Militar, Brigadeiro Sergio Xavier Ferolla, afirmou que será necessário aumentar a vigilância sobre os atos do presidente pelo Legislativo e pelo Judiciário: “Os disfarces caíram e a realidade tornou-se indiscutível para os indecisos e acomodados”. Ele também acha que Bolsonaro age como paranoico criando inimigos inexistentes e adotando comportamento “insano e contestatório”. Por fim, o coronel do Exército, Marcelo Pimentel Jorge de Souza, diz que Bolsonaro virou um espantalho e que os oficiais da alta patente que ajudaram a colocá-lo no poder, agora estão arrependidos e gostariam de se livrar dele, colocando o general Mourão para cumprir o final do mandato para que esse se livrasse dos ministros mais lunáticos e assim se construísse um caminho para a articulação de uma terceira via, quiçá com o próprio Mourão a frente.

O desgaste que Bolsonaro criou para as Forças Armadas junto à opinião pública é notório, mas há muito tempo que ele não é unanimidade dentro dela. O Alto Comando do Exército, composto por 16 generais, lhe impuseram uma grande derrota ao colocar o general Paulo Sergio no lugar de Edson Pujol no comando do Exército, justamente o general que em entrevista ao Correio Braziliense defendeu o isolamento social e o uso de máscaras. O Exército, portanto, seguiu recomendações científicas, e manteve o contágio em 0,13%, bem abaixo da média brasileira na gestão bolsonarista que é de 2,5% da população contaminada. Como se percebe, nem todo conservador apoia às políticas desastrosas de Saúde Pública do atual governo, muito pelo contrário, os negacionistas e fanáticos são minoritários.

A queixa do general Santos Cruz procede, porque ser de direita e estar alinhado com o neoliberalismo é uma posição ideológica, mas ser capaz de qualquer coisa para se manter no poder, protegendo notórios criminosos e agindo como se fosse o chefe de alguma máfia, onde filhos, familiares e comparsas são intocáveis, é algo bem diferente e todos sabem o nome disso. Bolsonaro faz isso e muito mais, além da sua incompetência notória, seu humor sádico, sua falta de empatia com o sofrimento dos brasileiros desamparados, existe a sua atuação desastrosa na pandemia tornando-o alvo dos Tribunais Internacionais que defendem os direitos humanos. Ele se coloca como uma espécie de “ungido”, como se estivesse acima da Lei e age como tal, mas não devemos esquecer como acabaram Hitler e Mussolini! Em sua frase “Deus me colocou aqui e só ele pode me tirar”, se pode inferir que ele está disposto a continuar no poder a qualquer custo e não terá nenhum escrúpulo em fazer o que achar necessário para isso. Ou alguém ainda duvida disso? Os desafios à nossa democracia, diante das investidas de Bolsonaro contra ela são permanentes, confirmando o que disse sobre ele o ex-ministro do Supremo, Marco Aurélio de Mello, pouco tempo antes de se aposentar; “Ele é tinhoso”! Verdade seja dita, o ex-ministro acertou em cheio.

Vinicius Todeschini 29-01-2022

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