Crónicas do Brasil | 06-07-2022 06:59

Em nome do Pai, do Filho e do L’Argent

Vinicius Todeschini

O crescimento exponencial das igrejas evangélicas de cunho pentecostal segue uma linha bastante óbvia, basta observar que este fenômeno começa a irromper a partir do advento da internet (: ) Primeiro ponto é o fato de não pagar impostos e para garantir que continue assim se formou uma bancada evangélica no Congresso Nacional. Outra coisa, não é necessário quase nenhuma formação, apenas saber ou ter o “dom” da palavra, ou seja; ser um comunicador e um que não tenha nenhum prurido em pedir doações e ofertas em nome de Deus.

                Jesus era judeu, como todos sabem, mas os judeus foram perseguidos pelos cristãos acusados de terem assassinado o Cristo, no entanto, Jesus pregava o perdão infinito e quando Pedro perguntou a ele: “Mestre quantas vezes devo perdoar quem me ofende: até sete vezes”? Jesus responde: “não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”! Pedro ficou impressionado com a resposta, pois, perdoar já é bem complicado e perdoar infinitamente parece impossível. Por outro lado, existiu uma disputa entre Paulo e Tiago, o último, supostamente irmão de Jesus, sobre o propósito da nova religião. Tiago, queria que fosse uma seita do judaísmo e ficasse restrita aos judeus, Paulo desejava mais, queria que se transformasse em uma religião para todos. Paulo venceu a disputa e de prêmio ganhou um livro de Nietzsche, chamado “O Anticristo”, para o filósofo alemão, ele sim era o responsável e não Jesus, pela amplitude alcançada pelo cristianismo, religião que ele odiava e considerava responsável pelo surgimento do niilismo.

                No Brasil, os evangélicos estão para superar os católicos em número, se é que já não superaram, e politicamente se tornaram imprescindíveis para qualquer político com ambições em âmbito nacional. Bolsonaro, com a sua agenda conservadora e retrógrada, ainda é o preferido deste segmento, mas entre as mulheres evangélicas ele não circula com a mesma facilidade. É interessante investigar as origens deste crescimento vertiginoso das religiões ditas evangélicas, basicamente as de cunho pentecostal. Elas explodiram nas últimas duas décadas e de meia dúzia de denominações se transformaram em miríades de nomes, alguns muito estranhos, como por exemplo: “Assembleia de Deus Pavio que fumega”; Igreja Unida de Caracóis de Baixo”; “Templo da Atribuição de Virtudes Mágicas”; Associação Evangélica Fiel Até Debaixo D’Água; “Igreja A Serpente de Moisés, A Que Engoliu As Outras”; Igreja Evangélica Pentecostal Cuspe de Cristo”; Igreja Pentecostal Marilyn Monroe”; e mais uma infinidade de  nomes exóticos e bizarros.

                O crescimento exponencial das igrejas evangélicas de cunho pentecostal segue uma linha bastante óbvia, basta observar que este fenômeno começa a irromper a partir do advento da internet e da explosão de informações, com isso muitos perceberam o potencial que havia em abrir uma igreja. Primeiro ponto é o fato de não pagar impostos e para garantir que continue assim se formou uma bancada evangélica no Congresso Nacional. Outra coisa, não é necessário quase nenhuma formação, apenas saber ou ter o “dom” da palavra, ou seja; ser um comunicador e um que não tenha nenhum prurido em pedir doações e ofertas em nome de Deus. Além disso, são cobrados os dízimos dos fiéis, o que em uma igreja bem estruturada garante um rendimento básico e as ofertas e promoções criadas pela organização, como a Semana Santa, Páscoa, Nascimento, Morte e Ressurreição de Jesus, trazem outros rendimentos capazes de trazer, em pouco tempo, grande prosperidade aos donos das igrejas. A Rede Record de Televisão Comercial, por exemplo, pertence a Igreja Universal do Reino de Deus e é apoiadora incondicional de Bolsonaro e do seu governo sem nenhuma ética ou moral cristã. O seu líder, o ex-umbandista que agora persegue os umbandistas, Edir Macedo, lançou há pouco tempo mais uma pérola, a de que ser de esquerda e cristão seria incompatível. Os padres teriam respondido que Jesus é o caminho e Edir Macedo é o pedágio.

                Bem, ainda não há um movimento evangélico de esquerda no Brasil, pelo menos assumidamente, o que existe são grupos dentro das igrejas evangélicas que começam a questionar os caminhos da religião em que estão inseridos. A maioria são jovens e foram criados dentro das igrejas, aprendendo a cantar os hinos e a pagar dízimos e ofertas aos pastores que desfilam com carros caros e roupas de grife. Começaram a perceber as inúmeras contradições desses grupos que se intitulam os verdadeiros representantes do Cristo no planeta. A realidade reacionária e centralizadora das maiores igrejas não impediu a proliferação das pequenas, com apenas uma sede, mas que acabam também sendo independentes das grandes corporações e dos condicionamentos que são feitos sobre os pastores das suas inúmeras unidades pelo país, com metas financeiras a cumprir. Livres disso, eles podem questionar à vontade os grandes representantes como o próprio Edir Macedo, com fortuna avaliada em U$ 950 milhões, Valdemiro Santiago, U$ 250 milhões, Silas Malafaia, U$ 150 milhões e R.R. Soares, 125 milhões. O que diria Jesus que disse ao jovem, “vai vende tudo que tem e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me”.

Vinicius Todeschini 27-06-2022

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