Crónicas do Brasil | 20-07-2022 17:59

Kamikaze

Vinicius Todeschini

Não há soluções fáceis para o Brasil, porque tudo que é ruim está entranhado na cultura em valores socialmente estratificados. O ex-presidente e atual candidato à presidência da República, Lula, nunca quis enfrentá-los de frente quando era presidente, preferiu fazer uma política de convencimentos das elites, através da manutenção dos seus lucros e melhorias para a vida do povo, porque achou que essa seria a melhor forma de criar uma sociedade mais pacífica, mas falhou.

                A PEC Kamikaze, além de driblar leis em pleno ano eleitoral (ao custo de 41 bilhões), traz à tona um novo personagem para o nosso pobre e vilipendiado país, Arthur Lira. O deputado federal e presidente da Câmara é o maior beneficiado em tudo isso, porque, simplesmente, ele conseguiu aprovar também o Orçamento Secreto e terá verbas para distribuir aos seus aliados e garantir o poder em seu estado e, principalmente, no Congresso. O deputado alagoano é um agropecuarista na “melhor” tradição do coronelismo nordestino e o maior líder do Centrão, base que garante a governabilidade do país nos termos bolsonaristas. O país nunca foi tão sacaneado e, justamente, a oitenta dias da eleição.

                Os europeus em geral não sabem como funciona o poder no Brasil, mas para se conhecer os fundamentos desse poder deve-se entender a herança maldita do colonialismo, porque ele é o responsável pela criação de uma das piores elites econômicas do mundo. O coronelismo no Nordeste, o caudilhismo no Sul, “o rouba mas faz” do Sudeste, todas essas doenças são epifenômenos do colonialismo. Nunca houve por aqui um Estado capaz de superar a dura realidade do povo brasileiro e criar a médio e a longo prazo uma democracia estável e redentora desse mesmo povo. Os governos recentes do presidente Lula criaram bons momentos para o povo, mas nunca tocaram em questões estruturais. Lula preferiu servir a dois senhores e como está escrito na Bíblia, quando se serve a dois senhores em algum momento se desagradará aos dois. O ex-presidente governou mantendo os privilégios e os lucros da elite e fez alguns programas sociais que realmente tiraram da miséria muita gente. Deve-se ter em conta que a situação de miserabilidade de um terço da população brasileira é crônica e qualquer mudança nesse segmento, por menor que seja, mitiga essa trágica situação, então não houve uma revolução nesse aspecto, como parte da esquerda proclama, tanto isso é verdade, que bastaram dois anos de Michel Temer para tudo se perder.

                Não há soluções fáceis para o Brasil, porque tudo que é ruim está entranhado na cultura em valores socialmente estratificados. O ex-presidente e atual candidato à presidência da República, Lula, nunca quis enfrentá-los de frente quando era presidente, preferiu fazer uma política de convencimentos das elites, através da manutenção dos seus lucros e melhorias para a vida do povo, porque achou que essa seria a melhor forma de criar uma sociedade mais pacífica, mas falhou. Novamente tentará agir da mesma forma se for eleito. A previsão é de que será bem mais difícil agora, porque a extrema-direita saiu do armário e não quer mais voltar para lá, no entanto, as suas manobras que culminaram com eleição do pior presidente da história não terão o mesmo efeito, porque suas práticas já foram desvendadas e ninguém mais desconhece esses fatos e, principalmente, as práticas bolsonaristas de governança.

                Bolsonaro é um golpista execrável, pusilânime e mitômano, um psicopata com todos os matizes que os sujeitos assim possuem. Não está nem um pouco preocupado com o sofrimento que causa ou causará em sua tentativa de reeleição e seguirá a sua receita maldita até o final, que nada mais é que uma forma aberta e extremamente agressiva de acabar com qualquer resistência aos seus desmandos, uma forma letal à brasileira de fascismo. A aliança com o Centrão serve apenas para exemplificar o estilo desse governante, cujo único objetivo é permanecer no poder e justamente com a ajuda do Centrão que o general, Augusto Heleno, fez uma paródia em cima do refrão do famoso samba “Reunião de Bacana” de Ari do Cavaco e Bebeto Di São João, “se gritar pega ladrão/não fica um meu irmão” e o general cantou assim em uma entrevista: “se gritar pega Centrão/não fica um meu irmão”.

Todos os exemplos históricos apontam para a mesma coisa, quando um governante se perpetua no poder sempre se pode esperar o pior, não precisamos retroagir muito, basta olhar o exemplo da Rússia atual. O arranjo que se fez por aqui é perfeito para manter o país atrasado, porque mantém 1/3 do povo na ignorância e mobilizado apenas para sobreviver, enquanto a classe média mal consegue se sustentar com o seu trabalho, enquanto a classe dominante se locupleta vivendo em alto padrão, criando bairros exclusivos e condomínios fechados para manter-se assim, no mesmo país, mas em outro mundo.

Vinicius Todeschini 14-07-2022

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