Crónicas do Brasil | 14-04-2022 09:09

O Brasil como ele é

Vinicius Todeschini

Brasil, meu Brasil brasileiro, meu mulato inzoneiro e já começam os problemas com a letra de Ary Barroso, “Aquarela do Brasil” (segunda canção brasileira mais regravada de todos os tempos, segundo o ECAD), porque a sua etimologia da palavra, mulato remete à mula, fruto do cruzamento de cavalo com mula ou do burro com a égua.

 No Brasil se nascia e crescia ouvindo falar em pátria da espiritualidade, o kardecismo aqui alcançou grande popularidade no século XX, em país da integração racial; os ricos dos prédios de alto padrão da praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, conviviam com os moradores da Favela da Rocinha na praia e juntos tomavam suco de caju e caipirinha discutindo futebol. Havia convites para visitas, mas sem entregar o endereço ao convidado, é claro. Isso era a integração racial à moda brasileira. O racismo estrutural é uma chaga aberta na sociedade brasileira e muitos não gostam desse tema, porque tem gosto de verdade e a verdade nem sempre é agradável ao paladar dos que querem deixar tudo como está.

                Aqui a bem-aventurança dos ricos continua em alta, mas a dos pobres nunca existiu, pelo menos depois da tomada de consciência do povo sobre a condição de privilegiados desfrutados pelos ricos e a de excluídos pela maioria. Essa pequena consciência não é algo de se fiar, porque em 2018 com o voto decisivo dos pobres o Brasil foi premiado com quatro anos de retrocesso, elegendo um presidente de extrema-direita envolvido com milícias e defensor da ditadura. E para piorar ele trouxe toda a “famíglia” o que não é pouca coisa, porque são pessoas sem nenhum resquício de humanismo e democracia, apenas se locupletam das vantagens que as distorções das leis brasileiras oferecem aos políticos nacionais.

Muitos europeus têm medo de vir ao Brasil e não é infundado o seu medo, o país oferece pouca segurança para quem não conhece os meandros dos perigos no dia a dia. A maioria dos crimes cometidos no país, no entanto, são do povo contra o povo, quase 90% são por causas fúteis (denominação jurídica para dizer que não matou por uma grande causa, ou seja: dinheiro e poder).

                Não se pode falar em imoralidade no Brasil, porque os brasileiros que comandam o país em sua maioria estão fora deste enquadramento, não são imorais, nem morais, são amorais, porque defendem valores como tradição, família e propriedade (A sigla TFP, deu nome a um grupo miliciano que cooptava jovens para lutar contra a esquerda na época da ditadura), mas na prática saqueiam o país através de mecanismos legais e ilegais e mantém 1/3 da população na luta constante entre a pobreza e a miséria total. Eis a pátria da espiritualidade, onde “tudo é resgate e todos têm o que merecem”.

                Muitos europeus têm medo de vir ao Brasil e não é infundado o seu medo, o país oferece pouca segurança para quem não conhece os meandros dos perigos no dia a dia. A maioria dos crimes cometidos no país, no entanto, são do povo contra o povo, quase 90% são por causas fúteis (denominação jurídica para dizer que não matou por uma grande causa, ou seja: dinheiro e poder). O brasileiro chamado de “homem cordial” pelo historiador e sociólogo, Sérgio Buarque de Holanda, se referindo a ele ser movido pelo coração, cordial vem do latim “cordalis” e com inadequações para relações impessoais, explica parte do problema, mas na verdade isso também pode ser uma qualidade, dependendo do contexto e das circunstâncias. Isso, entretanto, se refletiu na forma como é visto o Estado por muitos brasileiros, uma espécie de extensão da sua casa e por isso deve ser povoada por familiares e amigos. Nada mais atual que isso no atual governo federal, que mantém quase 8 mil militares em cargos comissionados.

                Brasil, meu Brasil brasileiro, meu mulato inzoneiro e já começam os problemas com a letra de Ary Barroso, “Aquarela do Brasil” (segunda canção brasileira mais regravada de todos os tempos, segundo o ECAD), porque a sua etimologia da palavra, mulato remete à mula, fruto do cruzamento de cavalo com mula ou do burro com a égua, animal híbrido e estéril e, inzoneiro, remete a sonso, espertalhão.  Os defensores de autores, cujas obras são criticadas por letras como essa, afirmam que, simplesmente, refletem os valores daquela época, mas muitas obras daqueles tempos não têm esse tipo de problema.

Não há nada de novo sob o sol que não seja tecnologia, porque o substrato de homens e mulheres, esse permanece complexo e contraditório como sempre. Se na época de Freud a repressão sexual criava transtornos mentais (termo atual), hoje em dia os transtornos mentais criam outros tipos de problemas, são mais de trezentos transtornos catalogados no DSM. A relação entre transtorno e medicamento criou uma sociedade drogada legalmente e cada vez mais anestesiada diante da sua realidade. O Brasil é o primeiro no consumo de uma série de medicamentos para emagrecer, quase 40% mais que os EUA (relatório anual da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes-JIFE) e campeão absoluto de cirurgias plásticas.

Vinicius Todeschini 05-04-202       

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