Crónicas do Brasil | 13-05-2022 09:59

Por que existem tantos antidemocratas no Brasil?

Vinicius Todeschini

O Brasil é assim, sempre foi assim e, por incrível que pareça, jamais superou completamente suas raízes de submissão ao pai-patrão. É preciso reinventar o Brasil e parar de criar discursos que justifiquem, pelo passado de país colonizado e explorado, os seus males contemporâneos.

                Há muitas respostas e nenhuma delas é totalmente conclusiva. O colonialismo deixou marcas profundas no Brasil e não há como negar os reflexos disso, mas o fato do extremismo de direita estar manifesto no país com tanta força passa pela vênia de alguém que representa o pai, o patrão, o chefe. Não é à toa que todos os regimes de força exigem um líder carismático e com altos graus de psicopatia, porque, para mandar os opositores para o paredão e sob qualquer justificativa é preciso ser assim. No Brasil não é diferente, durante a ditadura, quando generais se sucediam no poder para dar uma aparência de normalidade ao regime, a tortura corria solta nos porões da ditadura, seja feita pelo exército, seja terceirizada, via Departamento de Ordem Política e Social –DOPS.

                O Brasil é assim, sempre foi assim e, por incrível que pareça, jamais superou completamente suas raízes de submissão ao pai-patrão. É preciso reinventar o Brasil e parar de criar discursos que justifiquem, pelo passado de país colonizado e explorado, os seus males contemporâneos. O renascimento da extrema-direita não é real, porque ela nunca deixou de existir, apenas precisava de canais para desaguar toda a sua raiva cega e lançá-la nesse rio de almas penadas, onde mais 75 milhões lutam para não morrer de fome. A extrema-direita não quer resolver o problema social, quer acabar com ele, assim como Hitler queria acabar com os judeus. Só que à moda brasileira, que é mais lenta e mais hipócrita, quer deixar que morram de inanição, de fome, enfim de abandono total pelo próprio Estado que os criou, e os jogou nas ruas de miséria, de fome e de vícios, pela desgraça de cada dia, por ter nascido pobre, deserdado e brasileiro.

                 A antidemocracia brasileira tem alguns aspectos interessantes, pois, o fato de estar acontecendo esta explosão de evangélicos no país é um manifesto da profunda ingenuidade do povo, que acredita na palavra de homens e mulheres que perceberam essa demanda e de forma esperta recriaram o maniqueísmo à brasileira. As massas aderiram aparentemente de forma espontânea, mas na verdade não, o preconceito, o racismo, o elitismo, sempre parearam à vida cotidiana brasileira e bastou um governo mais progressista ficar alguns anos no poder e tentar mexer esse núcleo condensado do substrato cultural brasileiro para explodirem revoltas contra esse governo. Aí criou-se, quase espontaneamente, uma coalizão de forças reacionárias por motivos variados e escopos diferentes, que resultou em uma besta cega onde as massas são dirigidas por líderes que apenas querem se manter no poder à custa de muito dinheiro, o que a médio prazo significa isso que estamos vivendo: uma crise de valores sem precedentes e uma economia em frangalhos e a longo prazo significa o desastre completo de uma nação.

                O presidente atual, representante e símbolo da antidemocracia brasileira, falou em um discurso esta semana que um quilo de picanha aqui custa mais barato que no Canadá. Cara de pau na política não tem limite, ainda mais a direita, porque se tem que convencer o povo a votar em alguém que vai fazer uma política contra o povo. Mas vamos lá. Ele disse isso e, como sempre, sem pensar, porque é tosco e impulsivo e não pensou que, para comprar um quilo de picanha no Canadá um trabalhador canadense, que ganha um salário mínimo, leva duas horas de trabalho para ter o valor de um quilo dessa carne e aqui no Brasil o trabalhador precisa de 12 horas para obter o mesmo feito.

                O ex-presidente Lula resumiu o que todos sabem sobre Bolsonaro e suas ações contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Lula disse o seguinte: “ Bolsonaro tem medo de perder as eleições e ser preso”. Na verdade, o ex-capitão, que foi convidado a se retirar do exército e que depois por ironia trouxe o pesadelo da volta dos militares ao poder no Brasil, não passa disso: um oportunista que aproveitou sua única chance, como um carrapato que espera o momento certo para se lançar da árvore em cima de um animal que está passando embaixo. O candidato à presidência, Ciro Gomes, não se cansa de afirmar que Bolsonaro, quando era deputado federal, roubava o dinheiro da gasolina e o dinheiro de funcionário fantasma, também. Ele inclusive declina o nome da funcionária fantasma, que era Natália, e diz mais: eu tenho aqui os documentos, e é por isso que ele não me processa. E até agora não processou. Vejam vocês!

Vinicius Todeschini 12-05-2022

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