Crónicas do Brasil | 12-08-2022 11:05

Quando a Esquerda consegue ir além dela mesma

Vinicius Todeschini

Na Colômbia, Gustavo Petro, tomou posse e anunciou mudanças na política de drogas do país causando ainda mais desconforto nas Forças Armadas colombianas ( : ) Eleger Gustavo Petro e a afro-colombiana Francia Marquez, ex- empregada doméstica e ativista ambiental, é uma espécie de revolução em um dos países que rivaliza com o Brasil. Petro prometeu uma Reforma Tributária para tentar mudar o quadro de imobilidade social que faz da Colômbia a campeã mundial nesse quesito. Lula acenou, na FIESP, com a possibilidade de uma Reforma Tributária ( : ) porém, nunca teve coragem de enfrentar as estruturas que comandam o país.

Há quem diga que Lula sempre foi lulista e o que o PT nunca deixou de ser o que sempre foi, uma frente de tendências de esquerda e, ao mesmo tempo, um ecossistema onde o lulismo pudesse se criar e cumprir o seu propósito, ser o tutano do núcleo duro do partido. Quando explodiram aquelas ondas de escândalos das Fakes News, criadas pela extrema-direita, e disparadas aos milhões nas redes sociais por seus fanáticos seguidores (aqueles que conseguem acreditar na mentira que inventam), através de robôs digitais, muito se discutiu a respeito da verdadeira ideologia do ex-presidente. Lula afirmou em entrevistas que acredita na vida após a morte, mantém um discurso moderado desde da sua primeira campanha vitoriosa à presidência da república, além de ter sido elogiado por muitos diretores de empresas, durante as greves que o lançaram no cenário político nacional, pelo diálogo aberto e não radical. O certo é, Lula não perde tempo falando apenas para a esquerda, ele sempre quis ir além e, geralmente, conseguiu.  

Na Colômbia, Gustavo Petro, tomou posse e anunciou mudanças na política de drogas do país causando ainda mais desconforto nas Forças Armadas colombianas, ligadas aos golpes ocorridos no país e aliada umbilical do Tio Sam. A Colômbia está a um ponto percentual do Brasil, onde a taxa da população que não confia nas Forças Armadas é de 70%, segundo pesquisa, “Confiabilidade Global”, do Instituto Ipsos. Na Colômbia 71% da população não confia. Eleger Gustavo Petro e a afro-colombiana Francia Marquez, ex- empregada doméstica e ativista ambiental, é uma espécie de revolução em um dos países que rivaliza com o Brasil pelo título da pior elite do mundo. Petro prometeu uma Reforma Tributária para tentar mudar o quadro de imobilidade social que faz da Colômbia a campeã mundial nesse quesito. Lula acenou, na FIESP, com a possibilidade de uma Reforma Tributária, mas usou a expressão ”temos que fazer juntos” e não assumiu um compromisso definitivo com uma reforma capaz de impactar, em pouco tempo, a injusta pirâmide social do país. Em compensação, Lula, sabe ir além da sua bolha, qualidade rara em políticos de esquerda, porém, nunca teve coragem, até hoje, de enfrentar as estruturas que comandam o país. Por exemplo, na primeira campanha vitoriosa anunciou a fusão das polícias militares e judiciárias, pleito que especialistas consideram fundamental nesta área, mas não passou de uma promessa.

O Brasil e a Colômbia têm muitas coisas em comum, além da cor amarela das camisetas das suas seleções. São países, cujos povos, tem uma história de pobreza crônica e de exclusão permanente dos progressos reais dos seus respectivos países, mas agora a Colômbia está conquistando uma oportunidade única para demonstrar que é possível mudar esse quadro dantesco de miséria e exclusão. Não existe, no entanto, nenhuma garantia que se algumas conquistas se confirmarem para o povo, que elas permaneçam, como se sabe as forças da reação estão sempre atentas e logo ali adiante tentarão, caso essas conquistas não sejam firmadas definitivamente, voltar ao poder e colocar por terra tudo que foi construído. Por isso nunca leve flores à cova do inimigo, muito menos se você morar na América do Sul. Terra de contrastes, onde campeia o caudilhismo, o coronelismo e todos os ismos referente a opressão de poucos sobre muitos.

                A vitória de Lula no Brasil significará um avanço das forças progressistas na América do Sul, porque o Brasil se uniria a Colômbia, Argentina, Bolívia, Chile, Peru, representando essas forças respaldadas pela escolha popular livre e democrática e confirmando a vontade do povo de transformar seus países em algo que possamos chamar de civilização. O que passamos, no entanto, nos tornou mais prudentes em relação aos resultados desses governos, afinal, o inferno está cheio de boas intenções e, muito embora, reconhecendo as enormes dificuldades para se administrar um país, esses governantes e seus comandados devem saber da importância vital dos seus papéis históricos para não cometerem tantos erros, pois agora a vigilância  será  ainda mais tenaz e tentará obter, mesmo de um ato ingênuo, uma dupla mensagem para explorar de forma capciosa, já que as Fake News não são mais novidades para o povo, o que restringe, drasticamente, o arsenal da extrema-direita. Não existe caminho pronto, mas existem lições aprendidas para balizar os novos caminhos. O Brasil está terminado de pagar as últimas prestações de uma escolha errada, concebida através da manipulação de acusações construídas e mantidas pelo tempo necessário, a despeito de se mostrarem -desde o começo- incongruentes e insustentáveis.

Vinicius Todeschini 11-08-2022

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