Cultura | 26-07-2020 12:30

Companhia de teatro Gruta Forte precisa de espaço para novo palco

Companhia de teatro Gruta Forte precisa de espaço para novo palco
REPORTAGEM COMPLETA

Companhia de teatro amador do Forte da Casa completa 18 anos de vida no próximo ano e já sonha com a prenda: uma nova sala de espectáculos que lhe permita ensaiar e apresentar as suas peças com mais qualidade.

O Gruta Forte – Grupo de Teatro Amador do Forte da Casa é um exemplo de resiliência na cultura do concelho de Vila Franca de Xira, continuando empenhado em apresentar trabalho apesar de não ter um espaço digno onde ensaiar nem palco em condições onde apresentar as suas peças.
O colectivo celebra 18 anos de existência em 2021 e sonha com uma sala de espectáculos no Forte da Casa. Um local que lhe permita não só apresentar as suas peças mas também acolher a actuação de outros grupos. O imóvel onde funcionava a antiga igreja do Forte da Casa está para venda e o grupo acredita que este seria o momento ideal para o município adquirir o espaço e colocá-lo ao dispor do grupo. “Mais valia ir para um grupo de teatro do que para ser outro armazém chinês”, confessa Pedro Cera, 61 anos, encenador e presidente da direcção do Gruta Forte.
Do que o grupo já viu, o espaço tem um bom pé direito, dá para acolher um anfiteatro e tem salas de apoio. “O nosso sonho é que o município adquirisse aquele espaço e que pudesse ser a nossa casa. Já transmitimos à câmara essa vontade. Queremos crescer e não podemos. Somos um corpo grande numa roupa apertada”, explica.
As salas de espectáculos reabriram em Junho mas o Gruta Forte não pode fazê-lo. O espaço onde estão é pequeno demais para acolher mais do que três pessoas em simultâneo. “Tivemos de suspender os ensaios e adiámos por tempo indeterminado a estreia da nossa nova produção”, lamenta Sara Mendes, vice-presidente da associação.
Para compensar a falta de uma sala de espectáculos ao longo destes anos o Gruta Forte foi apostando em trabalhar nas ruas. O grupo foi criado no final de 2002 e tem vindo sempre a crescer. Quem está na associação fá-lo voluntariamente e sem compensação financeira. O grupo tem uma centena de associados e dezena e meia de colaboradores que fazem de tudo um pouco, da representação à caracterização. “Ser um grupo de teatro amador não significa que não caprichemos e não façamos as coisas com qualidade. A única diferença é que não recebemos ordenado. De resto é tudo igual às outras companhias. Não assinamos mediocridade”, explicam.
São um grupo conhecido por fazer coisas fora da caixa. Essa, dizem, é a génese do teatro, que defendem não ter de ser uma arte elitista. A sua principal fonte de financiamento é a Câmara de Vila Franca de Xira, através dos programas de apoio ao movimento associativo. Este ano vão viver com 7.425 euros para apresentarem sete espectáculos.

“Não somos coitadinhos só porque não temos palco”
O colectivo do Forte da Casa é dos poucos do concelho que vai a todos os pequenos palcos das colectividades. Não gostam de deixar ninguém para trás e defendem que a cultura quando nasce deve ser para todos. “Incluindo os palcos que estão nas aldeias no meio do monte onde não vai mais ninguém. Queremos expandir os nossos horizontes”, explica Sara Mendes.
Os dirigentes do Gruta Forte consideram que não há grupos a mais no concelho e garantem que todos se dão bem, apesar de ocasionalmente ocorrerem divergências. O prémio municipal de teatro Mário Rui Gonçalves é um tema que ainda perdura na memória por más razões, desde que o júri decidiu não o entregar por alegar que nenhuma das obras apresentadas tinha qualidade suficiente para o merecer. Isto depois dos grupos amadores se terem empenhado a sério para poderem participar.
“O que aconteceu não devia ter acontecido. Magoaram as pessoas desnecessariamente e o relacionamento interpessoal derrapou. Na altura foi preciso muita coragem para concorrer”, confessam os dirigentes. O Gruta Forte não voltou a participar porque, diz, não consegue cumprir as exigências do regulamento, em particular o facto de ter de concorrer com uma nova peça no ano do concurso.

Actuação num bar enquanto se serviam bifanas

O espírito aberto e irreverente do grupo é a sua imagem de marca, patente inclusive numa das peças que criaram. “Já actuámos no bar de uma colectividade enquanto se vendiam bifanas”, notam os dirigentes com um sorriso. Pedro Cera garante que no Gruta Forte os espectáculos começam sempre à hora marcada e que se dependesse de si quem chegasse atrasado não entraria. “Nunca esperamos por ninguém. Se à hora marcada estiverem duas pessoas começamos para duas pessoas. Se forem duas centenas a mesma coisa”, conta o encenador, que já chegou a interromper as peças em palco quando ouve um telefone a tocar na sala. “Pedimos às pessoas para atenderem e fica tudo à espera”, avisa.

Pandemia coloca teatro entre a espada e a parede

A pandemia forçou todas as companhias a parar a sua actividade. O Gruta Forte continua sem a ter retomado. O seu último espectáculo foi no Carnaval, numa iniciativa municipal na Fábrica das Palavras. No último ano o Gruta Forte apresentou mais de uma dezena de espectáculos. Este ano preparava-se para fazer o mesmo. Cinco espectáculos já tiveram de ser cancelados, o que implica um risco de perderem 2.500 euros.


Os responsáveis admitem que a pandemia gerou fome de teatro e de iniciativas culturais. E que aos poucos as coisas terão de recomeçar. “As coisas estão mesmo mal mas toda a gente está sedenta de animação. As companhias têm de se reestruturar, os elencos não podem ser grandes, a produção tem de ser uma coisa pequena. Há dinheiro que não foi distribuído nestes meses e que tem de ser posto a circular. Não pode é ser só para os primos e afilhados, tem de ser para todos”, exige.

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