Cultura | 26-07-2020 15:00

Pandemia deixou Riachos sem Bênção do Gado mas a festa deve regressar em 2021

Pandemia deixou Riachos sem Bênção do Gado mas a festa deve regressar em 2021
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Desde o início do ano que a festa estava organizada e com investimentos feitos. Os artistas estavam todos contratados mas o vírus veio contrariar uma tradição secular que se cumpria de quatro em quatro anos.

As ruas de Riachos têm pouco movimento. A população ainda tem medo de sair à rua por causa do novo coronavírus, mas parece ainda mais deserta quando vem à memória que por estes dias estaria a decorrer uma das festas maiores do concelho de Torres Novas e da região, a Bênção do Gado. A tradição secular acontece de quatro em quatro anos. A última edição foi em 2016 e este ano estava marcada no calendário de todos os riachenses entre os dias 17 e 27 de Julho.


A festa está agora reagendada para 2021, ainda com mais energia e vontade por parte da organização e da população, que dá a esta festa o cariz popular que a distingue de tantas outras. As ruas e ruelas estariam já enfeitadas com temas escolhidos previamente, as garagens abertas para quem passa poder ver exposições, colecções particulares ou apenas beber um copo. “Quem faz esta festa são as pessoas e isto nunca se vai mudar”, explicou o presidente da Bênção do Gado Associação Cultural, Carlos Graça.
Pelas ruas de Riachos pouca gente é vista e as portas das casas estão fechadas. “É estranho ver assim a vila, mas as pessoas, muitas com idades de risco, têm ainda muito receio de vir até cá fora”, explica. E não é de estranhar. Em Riachos chegou a haver cerca de 20 casos confirmados de Covid-19 e mesmo que não se queira falar no assunto, é inevitável.


Os artistas que iam animar as noites durante a festa já estavam confirmados, bem como investimentos a nível de logística, como aluguer de palcos, estavam já tratados. Ao todo estavam investidos cerca de 10 mil euros. “Estava praticamente tudo organizado, só estávamos à espera do mês de Julho”, lamenta Carlos Graça. Mas não se trata de um investimento perdido. A direcção acredita que na segunda quinzena de Julho de 2021 a festa vai realizar-se e os investimentos feitos têm apenas que aguardar mais um ano. Sem querer desvendar os nomes dos artistas mais sonantes, afirma que era um “cartaz muito rico”. Além dos músicos, este ano a aposta era em realizar o maior cortejo de sempre.


No entanto, nem todos são tão optimistas. Manuel Simões tem 89 anos e apesar de lamentar que a festa não se realize este ano, coloca também algumas dúvidas sobre a possibilidade de se realizar em 2021. “Não sei se haverá condições. Esta festa é para conviver, não faz sentido fazer-se a festa com um aqui e outro acolá. Duvido muito que haja condições para haver festa para o ano, mas oxalá que sim. É muito triste ver a vila assim vazia. Andamos quatro anos à espera deste momento. Mas a saúde está primeiro”, refere.

“Fazer uma festa pequena não é connosco”

O estado de espírito das pessoas é o “estado Covid”, aponta Carlos Graça. Mas, apesar da fase de desconfinamento, nunca passou pela ideia da direcção fazer uma festa mais modesta. “Estaríamos a desvirtuar a festa. A Bênção do Gado é uma tradição que teve uma grande evolução ao longo dos anos. Começou por ser só um dia e agora são 10 e atrevemo-nos a dizer que é a maior festa do concelho de Torres Novas. Por isso fazer uma coisa pequena não é connosco”, defende o presidente da direcção da festa.


Os momentos altos são a procissão do Senhor Jesus dos Lavradores e o Cortejo da Bênção do Gado que acontecem na última sexta-feira e no último domingo da festa, respectivamente. Agricultores, empresas e instituições da freguesia juntam-se para abençoar os animais e tractores. Para não deixar a data passar em vão, alguns moradores enfeitaram as portas e portões de casa com flores. “É para dar um miminho a quem passa. Gosto muito desta tradição. É a nossa grande festa e este ano o bicho deu cabo dela. Mas para o ano cá estaremos para fazer uma festa ainda maior”, sublinha Maria João Pinto, da entrada de casa.


Esta é uma festa cujo orçamento, num ano normal, pode chegar aos 200 mil euros. A Câmara de Torres Novas tinha já aprovado uma verba de 80 mil euros de apoio. O restante vem de patrocínios e apoios que particulares se orgulham em dar. Em anos de Bênção do Gado os emigrantes são muito mais do que em ano em que não há festa. Trazem amigos estrangeiros para conhecerem o evento de que tanto se orgulham. Mas este ano as casas de emigrantes continuam fechadas.

Origem da tradição perde-se no tempo

A Bênção do Gado é uma iniciativa popular de cariz religioso que envolve a população num grande cortejo dedicado à actividade agrícola. A origem da Bênção do Gado perde-se na história de Riachos. A teoria mais credível sobre o início destes festejos está ligada ao descobrimento de um crucifixo com a imagem de Cristo, entre os séculos XII e XIII, enquanto homens da região lavravam os campos. Desde essa altura que se iniciou a Bênção do Gado, mas em apenas um dia. No ano de 2000 foi fundada a Bênção do Gado Associação Cultural que passou a organizar a festa e criou a periodicidade de quatro em quatro anos. Hoje em dia obedece a dois momentos altos, a festa religiosa, com a grande procissão do Senhor Jesus dos Lavradores, e o cortejo que é o momento em que o gado e as actividades agrícolas são benzidas pelo padre da vila. O desfile de tractores e carros representam as actividades económicas da vila. A par destes dois momentos, estão os 10 dias de festa profana, com música nocturna e espectáculos diversos.

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