Cultura | 21-06-2022 08:00

Ninguém percebe qual é o papel da Casa-Memória de Camões

Encenação nas ruas de Constância captou a atenção dos moradores

Constância é a vila poema mas não tem trabalhado o suficiente para aproveitar a ligação de Luís Vaz de Camões à localidade.

Constância é a vila poema mas não tem trabalhado o suficiente para aproveitar a ligação de Luís Vaz de Camões à localidade. Paula Malheiro afirma que o papel da Casa-Memória de Camões não está clarificado e não tem transparência. Começando logo pelo facto de não se conhecerem os estatutos e os seus associados. “Ainda ninguém sabe qual é a relação da Casa-Memória com a câmara municipal. Não sabemos se trabalham em conjunto. É a única casa no país e o facto de ter as portas fechadas é inexplicável”, lamenta.
A casa-memória é um edifício com três andares e que demorou anos a ser construído; tem um vasto espólio, mas não tem uma programação, acrescenta Paula Malheiro. “As universidades têm de ser chamadas a participar nas iniciativas sobre Camões em Constância. Há muitos estudantes a especializarem-se em Camões que têm aqui muito material que podiam aproveitar. Há uma clara falta de posicionamento”, conclui.

Alunos de Constância provam que estudar obra de Camões pode ser divertido

Mesmo para quem não conhece ou aprecia a obra de Luís Vaz de Camões, não fica indiferente à forma divertida e dinâmica com que mais de meia centena de alunos da Escola Básica e Secundária Luís de Camões recriaram alguns cantos dos Lusíadas. Recorde-se que 2022 é o ano em que se assinalam os 450 anos da primeira epopeia portuguesa publicada em versão impressa.
Na noite de quinta-feira, 9 de Junho, os alunos ocuparam uma boa parte do centro histórico de Constância para realizar uma sessão de teatro ao vivo, recriando seis cantos da epopeia, nomeadamente o Concílio dos Deuses, Inês de Castro, O Velho do Restelo, O Adamastor, Chegada à Índia e a Ilha dos Amores. Os seis momentos decorreram em espaços distintos, por isso foi entregue um mapa às pessoas que participaram na iniciativa. Quando chegavam ao local exacto da peça, um cicerone dava as boas-vindas, declamava alguns versos do poema, muitas vezes com recurso ao improviso, e ao som da música do genérico do filme “The Grand Budapest Hotel”. Assim que acabava a peça, os alunos permaneciam estáticos para recriar o quadro que simboliza a história e os seus heróis.
Paula Malheiro, Paulo Moura, Sónia Chainho e Clara Marques foram os responsáveis pela encenação. Em conversa com O MIRANTE, Paula Malheiro afirma que, tendo em conta a falta de iniciativa da autarquia, a comunidade escolar não podia deixar de assinalar uma data tão representativa para o país e para a vila. “Ficou tudo em silêncio e a escola não deve deixar as coisas assim”, sublinha.
Para Paula Malheiro a relação das escolas com a obra de Camões está mal aproveitada. A professora refere que a exigência dos programas curriculares não permite ensinar Camões de uma forma apelativa para os alunos. “O ponto de partida tem que ser algo animado. Por exemplo, estão aqui alunos do 7º ano que só vão dar Lusíadas no 9º. Já vão com uma bagagem completamente diferente e com mais interesse em aprofundar mais o seu conhecimento”, salienta, acrescentando que a aprendizagem prática da obra é mais benéfica do que o rigor actualmente exigido, uma vez que não transmite o sentido e as emoções da obra.
“Os jovens têm que entrar na musicalidade e perceberem as histórias de forma divertida. Saberem das viagens dos portugueses por mares nunca dantes navegados e dos episódios dos heróis apenas através da leitura, não é a solução para incentivar miúdos tão jovens”, vinca e conclui: “Há uma exigência do programa ridícula que tem um efeito contrário nos alunos”.

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