Cultura | 05-07-2022 15:00

O campino que largou as fábricas por amor ao campo e aos animais

Joaquim Salvaterra é ainda hoje um exemplo de luta pela sobrevivência após resistir a um acidente vascular cerebral. FOTO CM Vila Franca de Xira

Joaquim Salvaterra, de Santo Estêvão, fartou-se de passar uma vida a ser mal pago como operário fabril e virou-se para o campo, onde foi feliz apesar da rotina de trabalho mais dura. Os seus pares elegeram-no, aos 87 anos, para receber o pampilho de honra da 90ª edição do Colete Encarnado.

O gosto pelo campo e os animais, o brio demonstrado no trabalho e a garra em ultrapassar todas as dificuldades da vida são as características de Joaquim Salvaterra, o operário fabril que se fez campino e vai ser distinguido pelos seus pares no Colete Encarnado deste ano em Vila Franca de Xira. Joaquim Salvaterra tem 87 anos e apesar da saúde debilitada por ter sofrido há pouco tempo um Acidente Vascular Cerebral diz estar bastante orgulhoso pela distinção. “Passei muito na vida”, diz. Só já perto dos 40 anos é que se tornou campino depois de se fartar de ser explorado nas fábricas onde trabalhou provando que nunca é tarde para se dar um novo rumo à vida.
O campino está hoje demasiado debilitado para dar entrevistas mas partilhou algumas memórias com a Câmara de Vila Franca de Xira quando soube que ia ser homenageado no Colete Encarnado. Muitos duvidavam que o homem natural de Santo Estêvão, Benavente, conseguisse vingar na campinagem mas a sua determinação e força de vontade provaram que estavam enganados.
Começou a trabalhar muito jovem no campo e depois mudou-se para o Montijo, onde foi empregado fabril. Quando regressou a Santo Estêvão começou a limpar sobreiros na Companhia das Lezírias. Depois pediu para guardar vacas na Sociedade Pecuária de Santo Estêvão. A família e os amigos avisaram-no: “Só vais a casa de oito em oito dias ou de 15 em 15 dias, vais passar a vida sozinho no campo”, diziam. “Ganhei a ideia de ter aquela vida e foi um vício até hoje”, conta o homem que em criança guardava cabras e ovelhas na charneca.
Joaquim Salvaterra trabalhou como campino para vários patrões. Quando se deu a revolução de 25 de Abril de 1974 trabalhava em Santarém como maioral de éguas de José da Silva Lico. Ainda trabalhou na Casa Prudêncio, em Almeirim, onde era maioral das vacas, e acabou a carreira na Herdade de Camarate, reformando-se aos 67 anos.
Apesar do receio a lidar com os toiros, Joaquim Salvaterra superou todas as dificuldades e aprendeu a deixar o coração em casa, como diz. “Ao princípio tinha medo de ir para a arena com toiros e cabrestos, mas fui-me habituando”, confessa. O campino garante que tomar conta das vacas bravas é diferente de tomar conta de toiros. “Os toiros sabem quem trata deles e quem lhes dá comida. Mas depressa brigam e marram uns nos outros”, confessa.
Ao fim de 30 anos de campinagem Joaquim Salvaterra admite que conquistou o respeito e admiração dos que o rodeiam. Voltou a vestir a farda a propósito da homenagem do Colete Encarnado e emocionou-se. “Gostava de a entregar a quem quisesse ser campino”, conta com a voz embargada. Já foi homenageado em Alcochete, Samora Correia e Azambuja. Agora é a vez de Vila Franca de Xira, sábado, 2 de Julho, a partir das 16h00, no largo do município como manda a tradição.

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