Cultura | 25-01-2022 10:00

Os guardadores de memórias do Museu de Vila Franca de Xira

Os guardadores de memórias do Museu de Vila Franca de Xira

A conservação e divulgação do passado e o respeito pela memória das pessoas que dele fizeram parte são uma pequena parte do trabalho que a equipa técnica e de curadoria do Museu Municipal de Vila Franca de Xira faz diariamente.

A equipa técnica e de curadoria do Museu Municipal de Vila Franca de Xira foi obrigada a reinventar-se e a aprender novas estratégias para conseguir chegar a todos os visitantes que, por causa da pandemia, têm tido menos disponibilidade para visitar o museu presencialmente. O MIRANTE reuniu com os técnicos à margem de uma reportagem no âmbito dos 70 anos da Ponte Marechal Carmona, para ficar a conhecer os “guardadores de memórias” de um espaço, fundado em 1951, que tem como principal objectivo “testemunhar as comunidades do território de ontem e de hoje nas suas diferentes realidades”.
Idalina Mesquita, 58 anos, é técnica superior e trabalha para o município há mais de três décadas. Ao longo do seu percurso profissional realizou vários trabalhos de curadoria, mas o que mais a marcou foi a exposição, em 2019, sobre as cheias de 1967, um desastre natural que vitimou cerca de 700 pessoas. A organização da exposição teve uma carga emocional muito pesada, sobretudo durante o processo de investigação, que implicou um trabalho documental muito cuidado e a recolha de testemunhos de muitos residentes que partilharam as suas histórias e dos seus familiares.
A técnica diz que ser “guardadora de memórias” é uma função que encara com muita responsabilidade e a que se dedica com muita entrega e paixão. “A finitude da nossa vida é algo que não podemos contrariar e por isso temos de trabalhar para deixarmos um legado para as gerações futuras. Sinto-me feliz por fazer o que gosto e contribuir para honrar a memória de muitos locais e pessoas de referência”, vinca.
Mais nova do que Idalina, mas também com muita experiência na organização de exposições de arte, Inês Rodrigues, 42 anos, também não hesita em afirmar que a exposição sobre as cheias de 1967 foi a que mais a marcou. Confessa que o processo de recolha de depoimentos e fotografias dessa tragédia vai ficar para sempre guardado na sua memória. “Foi um momento doloroso para os vilafranquenses e que precisava de ser imortalizado”, afirma.
Diogo Paz, 30 anos, é o elemento mais novo da equipa e é assistente de curadoria no museu desde 2018. A O MIRANTE diz que foi bem recebido e que se integrou com muita facilidade quando ainda estava a terminar a licenciatura em História Moderna e Contemporânea. Os estudos permitem-lhe saber como trabalhar com arquivos históricos e a que fontes de informação deve recorrer para montar uma exposição. Curiosamente, a exposição evocativa dos 70 anos da Ponte Marechal Carmona foi a primeira em que participou como assistente de curadoria. Diogo Paz admite que o trabalho é exigente, física e mentalmente, mas é intelectualmente “muito enriquecedor”.

UM MUSEU ADAPTADO ÀS NOVAS TECNOLOGIAS

João Pereira, 50 anos, trabalhou quase três décadas na Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira e está no museu desde 2019. Actualmente faz a gestão do site do museu e procura dar-lhe uma dimensão mais digital e multimédia. Considera a experiência desafiante, uma vez que não tem o mesmo “background” da restante equipa, mas pretende usar a sua formação em informática para encontrar novas formas de contar histórias. “Hoje em dia as pessoas gostam de aprender através dos conteúdos multimédia. O meu trabalho é construir textos, vídeos e imagens que sejam apelativos, de visualização rápida, para não perderem o interesse e conseguir chegar a um público de várias gerações”, explica.
Nelson Gonçalves, 39 anos, trabalha no museu há uma década e é responsável pelos processos de realidade virtual. Começou como recepcionista e há três anos deram-lhe a oportunidade de colocar em prática a sua formação em fotografia e de criador de conteúdos digitais e multimédia. Para a exposição dos 70 anos da Ponte Marechal Carmona fez recolhas de imagens aéreas do tabuleiro, assim como de imagens a 360 graus por todo o percurso da travessia, de forma a criar uma visita imersiva e apelativa.
Para além disso, fez um mapeamento da exposição onde os elementos fotográficos ganham vida em pequenos vídeos, narrando pequenos capítulos da história da primeira ponte a ligar as duas margens do rio Tejo na região de Lisboa. “A realidade virtual veio para ficar e acho que as autarquias têm obrigação de fazer serviço público. Quem está em casa pode assistir de forma gratuita e conhecer um pouco mais da história do seu concelho”, sublinha.

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