Cultura | 11-04-2022 10:00

“Para proibir a tauromaquia têm de mudar a Constituição”

João Soares, Duarte Marques, Fernando Paulo Ferreira e Rui Alves Veloso momentos antes do arranque do primeiro colóquio da semana da cultura tauromáquica de VFX

O programa dos 90 anos do Colete Encarnado arrancou no sábado, 2 de Abril, com um colóquio inflamado em Vila Franca de Xira sobre a Constituição e a liberdade. João Soares e Duarte Marques lançaram farpas aos anti-taurinos que acusaram de não respeitarem a liberdade e a quem chamaram de fundamentalistas e “queques”.

O Estado tem uma relação esquizofrénica com a tauromaquia e precisa de ter a coragem necessária para assumir essa liberdade cultural e realizar as acções ao seu alcance para a promover. A convicção é de João Soares e Duarte Marques, dois dos oradores convidados pelo município de Vila Franca de Xira para o colóquio de abertura da Semana da Cultura Tauromáquica, que marcou também o arranque dos 90 dias / 90 anos do Colete Encarnado. Estava prevista a presença de Fernando Negrão e Manuel Alegre que, ambos por motivos de saúde, não estiveram presentes.
Moderado pelo jornalista Rui Alves Veloso, o debate acendeu-se logo ao sexto minuto com o ex-autarca de Lisboa, João Soares, a insurgir-se contra os contestatários que habitualmente montam cerco à praça do Campo Pequeno, em Lisboa. “Não sou especialista nem um verdadeiro aficionado mas gosto da festa de toiros e sinto que tenho o direito de poder gostar e assistir a uma boa tourada. Incomoda-me ver 50 ou 60 tipos num espectáculo visto por 5 mil, à porta, a chamar-nos assassinos e outros nomes. Não quero que se imponha a construção de praças de toiros em locais onde não há essa tradição nem que se obrigue as crianças a ir. Agora, as minhas opções culturais devem ser respeitadas”, criticou.
João Soares diz que os aficionados têm o direito inscrito na Constituição de poderem desfrutar de touradas. “Quem não quer e não gosta, não vai, não agride nem insulta. Fazerem o que fazem é o mesmo que ir para a assembleia insultar quem lá está. É uma coisa lamentável e inaceitável num país democrático. São grupos que em 1975 tentaram introduzir outro tipo de touradas no Campo Pequeno”, ironizou.
O filho de Mário Soares lembrou a necessidade de existir bom-senso entre aficionados e anti-taurinos porque proibir essa manifestação cultural “é como proibir a pintura do Júlio Pomar por retratar um tipo a meter uma bandarilha num toiro”. A tourada, diz, valoriza o papel do animal e critica o facto do circo também já não ter animais.
“É um disparate inacreditável. As pessoas que gostam dos toiros são pessoas que gostam do mundo rural e têm uma relação próxima com o mundo animal enquanto estes tipos do contra são queques das cidades que tratam mal o cão, e às vezes o pai e o avô, enquanto andam nestes radicalismos”, critica ao mesmo tempo que se assumiu “um carnívoro sem complexos”.

Cortar touradas na TV foi “uma desgraça”
“Se querem proibir a tauromaquia então mudem a Constituição”, defendeu Duarte Marques criticando a falange de “intolerantes” que disse quererem à força impor a sua vontade a quem gosta de tauromaquia. “Têm um cão preso numa varanda mas depois querem impor aos outros as suas ideias sobre os animais. Pela vontade desses radicaizinhos já não haveria jardins zoológicos nem oceanários. Para mim é um escândalo que ninguém se revolte é com o preço dos bilhetes para o jardim zoológico. Isso sim é indigno”, acusou o político de Mação.
O ex-deputado do PSD lembra o ex-líder da bancada parlamentar do Partido Pessoas, Animais, Natureza (PAN), André Silva, que considerou ser um “moderado com objectivos radicais” mas que sabia trabalhar e reunir apoios em torno da sua causa. “Sabia que tinha de ir com cautelas para obter resultados. Ainda bem que ele saiu porque as suas sucessoras são radicais e por causa disso vão espalhar-se ao comprido”, antevê.
Para o político o corte das corridas de touros na TV foi castrador e limitador das liberdades individuais. “É como cortarem a procissão das velas em Fátima. É uma desgraça”, lamentou. Duarte Marques condenou também o que disse ser a hipocrisia das escolas depois de uma professora da plateia ter lamentado que poucos são os alunos pró-touradas. “Na escola há tolerância para respeitar questões de sexualidade e igualdade de género. Na tauromaquia essa tolerância não existe”, criticou.
O colóquio ficou também marcado pela intervenção de Jorge Carvalho, professor do Instituto Superior Técnico e ganadeiro há 50 anos, que chamou ignorante a quem diz que os toiros sofrem na arena. “Os toiros sofrem é quando prolongam a lide em demasia ou em VFX nas largadas quando estão mais de 45 minutos à espera e morrem por asfixia nos curros”, disse.

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