Desporto | 22-06-2020 10:00

Centro de estágios do FC Alverca é sorvedouro de dinheiros públicos

Centro de estágios do FC Alverca é sorvedouro de dinheiros públicos

Oposição diz que se estão a construir equipamentos que vão beneficiar sobretudo a escola de futebol do Benfica estabelecida em Alverca. Presidente da câmara não desmente mas assume que é preciso um olhar cauteloso sobre a situação.

Com mais de meio milhão de euros de verbas municipais já protocoladas para serem investidas no centro de formação do Futebol Clube de Alverca não faria mais sentido que esse equipamento passasse a ser um complexo municipal que servisse vários clubes? É esta a pergunta chave de uma petição lançada na última semana onde se pede que, face ao dinheiro que a câmara já ali investiu, aquele espaço seja colocado ao serviço de toda a comunidade. À data de fecho desta edição, 324 pessoas haviam subscrito o documento.


Na última semana, em reunião de câmara, foi aprovado mais um apoio municipal para aquele centro de estágios, na forma de construção de bancadas, contestado pelo Bloco de Esquerda. Rui Perdigão, que substituiu o vereador Carlos Patrão, notou não ter nada contra o clube de Alverca e que até é benfiquista, mas lembrou que o que está a acontecer no local “transcende o associativismo”. E que na verdade o que se está a fazer é a pagar condições para que uma escola privada do Benfica também ali possa formar jovens e ganhar dinheiro com isso.


“Estamos a apoiar os atletas da modalidade de futebol que jogam nas várias camadas e escalões do Alverca ou a apoiar a construção de um negócio que visa fazer do centro de formação um aviário de jogadores para o mercado especulativo de transacções de jogadores de futebol?”, questionou Perdigão.


O autarca do BE lembrou que o município cedeu o terreno para o centro de estágios, pagou o sistema de drenagem e bacia de retenção, ajudou a construir os campos e infra-estruturas e agora também suporta a construção das bancadas. “Não está o centro a ser construído com o dinheiro do município? Não faria mais sentido ser municipal e cedido às instituições e pessoas do concelho?”, questionou, lembrando que atrás de tudo isto “há um negócio” e que o futebol é “muito hábil” na sua capacidade de estabelecer “relações de pouca claridade legal e dualidade”.

Protocolo de 2017 custa 650 mil euros à autarquia

O presidente do município, Alberto Mesquita (PS), não desmentiu as declarações do vereador do Bloco e admitiu que o programa de apoio ao movimento associativo, onde a obra de construção de bancadas se insere, na sua vertente de apoio ao investimento, é susceptível de ser melhorado e alterado.


“Há protocolos que existem e é na base desses protocolos que trabalhamos”, aludiu, referindo-se a um documento assinado com o Alverca em Maio de 2017 onde a câmara se comprometeu a injectar 256 mil euros e 400 mil euros, respectivamente, para acabar uma obra que inclui dois campos de futebol de 11, um campo de futebol de 7 e um campo de futebol de cinco, incluindo infraestruturas de apoio ao nível das redes de electricidade, água, saneamento e acessibilidades.


Tudo isto quando no concelho há ainda dois clubes – Alhandra Sporting Club e Bragadense – que ainda jogam e treinam em campos pelados. O FC Alverca, recorde-se, também teve de investir verbas próprias para financiar o projecto.


“Não nos parece que haja aqui nenhum problema de transparência ou rigor na atribuição destes valores. Encontrar uma solução que seja consensual é uma arte que não é fácil. É preciso ter muita cautela, a nossa posição sobre o futebol é a que está ligada à formação. Os nossos apoios vão nesse sentido. Mas isso não impede que os clubes tenham a ambição de ir mais longe em termos profissionais”, defende Alberto Mesquita.


O presidente da autarquia diz “compreender e acompanhar” em alguns aspectos a opinião do Bloco de Esquerda sobre o assunto e que é preciso saber ir “até ao limite daquilo que é possível e desejável”. O clube vai a eleições dia 27 de Junho e está a decorrer o período para entrega de listas. Os actuais dirigentes já apresentaram a sua recandidatura para o triénio 2020/2023.


Em Janeiro, recorde-se, o Bloco apontou baterias às Sociedades Anónimas Desportivas que nascem como cogumelos nos clubes do concelho ribatejano e à forma como as escolas de formação do Benfica se aproveitavam dos equipamentos sintéticos pagos pela câmara para serem usados pelos clubes para neles realizarem negócio.

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