Triatlo do CN Torres Novas quer melhores condições de treino para continuar a somar êxitos
O Clube de Natação de Torres Novas, que continua a somar êxitos e tem triatletas a disputar o apuramento para os Jogos Olímpicos, enfrenta uma dificuldade inesperada: passou a ter menos tempo para usufruir das piscinas municipais para os treinos. O responsável da secção e o treinador lamentam a decisão do município e temem impactos na performance dos atletas.
A Secção de Triatlo do Clube de Natação de Torres Novas é uma máquina de ganhar títulos no plano nacional e internacional e teve em 2022 a sua melhor época de sempre com triunfos individuais e por equipas, mas nem tudo é um mar de rosas. Paulo Vieira, seccionista da modalidade e vice-presidente do clube, diz a O MIRANTE que o tempo disponibilizado pela Câmara de Torres Novas para os triatletas e atletas de natação treinarem na piscina municipal se tornou insuficiente, limitando a sua evolução.
“O município tem que ter alguma sensibilidade e perceber que os treinos requerem exigência e consistência para que os atletas consigam alcançar objectivos. Temos três atletas a disputar apuramentos olímpicos, como é o caso do Ricardo Batista, que já foi Campeão do Mundo em juniores e Campeão da Europa de sub-23 e do Mundo”, refere. A alteração à distribuição do tempo para os cerca de 150 atletas do CN Torres Novas, das modalidades de natação e triatlo, deve-se ao aparecimento de um novo clube de triatlo no mesmo concelho que também passou a usufruir das piscinas municipais para os treinos dos seus atletas. E o problema maior, explica, é que está a ser feita uma “distribuição equitativa pelo número de atletas”, o que na opinião do clube não faz sentido uma vez que “há atletas que têm uma exigência de treino muito maior e precisam de mais horas na piscina”.
À conversa junta-se, via chamada telefónica enquanto regressa de um estágio no Algarve, o treinador de triatlo e ex-atleta do clube, Paulo Antunes, que é também o responsável pela fundação da secção de triatlo em 2009. Explicando que a natação “é um segmento determinante” nesta modalidade que envolve ainda a corrida e o ciclismo, defende que a decisão da distribuição de um equipamento municipal deve ter em conta a “história de um clube que durante tanto tempo fez pela cidade de Torres Novas” ao nível do ensino e resultados alcançados. “É óbvio que não deveremos condicionar outro clube de ter o seu espaço para começar a sua actividade mas não podemos estar a equiparar aquilo que não tem comparação”, afirma, acrescentando que “a política desportiva praticada em Torres Novas não respeita a antiguidade dos clubes e está a condicionar o crescimento do CNTN.
“Queremos dar as bases necessárias para todos crescerem, seja no triatlo ou na natação, e hoje, face ao que acontece nas piscinas municipais, vemo-nos privados das condições ideais”, diz o treinador que já integrou a selecção nacional e disputou a fase de apuramento para os Jogos Olímpicos. “É triste e revoltante porque é um clube com 47 anos que merece todo o respeito. Estamos a passar por um momento muito difícil e também pelo momento mais importante em termos de resultados do clube porque nunca houve tantos e tão bons resultados no CNTN, não só na natação como no triatlo”.
No ano passado o somatório de títulos do Clube de Natação de Torres Novas foi, de facto, impressionante. A equipa masculina sagrou-se bicampeã nacional de triatlo, vencedora da Taça de Portugal de Triatlo pela segunda época consecutiva, campeã nacional de duatlo e vice-campeã nacional de triatlo longo. Do lado feminino, o clube venceu a Taça de Portugal de triatlo e sagrou-se campeã nacional de duatlo e vice-campeã nacional de triatlo.
Também no plano individual não faltaram êxitos com Ricardo Batista a conquistar a medalha de bronze na Taça do Mundo de Triatlo e João Nuno Batista e Maria Tomé a vencer nas competições masculina e feminina da Taça de Portugal. Até final de 2022, completa Paulo Vieira “são 21 atletas desde 2015 com 231 internacionalizações, seis medalhas de ouro, 11 de prata e 10 de bronze conquistadas em campeonatos do Mundo, da Europa, taças do Mundo e taças da Europa”. Já este ano, a 26 de Março, Ricardo Batista conquistou a medalha de bronze na Taça do Mundo de Triatlo na categoria de elites e João Nuno Batista protagonizou igual feito na Taça da Europa de Triatlo, na categoria de juniores, ambos ao serviço das respectivas selecções nacionais.
“Clubes não vivem de palmadinhas nas costas mas o reconhecimento é bem-vindo”
Paulo Vieira entende que há “uma mentalidade que é passada para o âmbito regional” que faz com que ainda se pense que “um atleta ligado a um clube que está a 100 quilómetros de Lisboa” não consegue alcançar pódios e representar o país. “Acha-se que isso só pode acontecer com os atletas do Sporting e do Benfica, mas os próprios responsáveis do desporto a nível local e regional têm esta mentalidade”, diz em jeito de lamento para rejeitar a ideia de que os pequenos clubes só servem para formar atletas que vão, mais tarde, dar cartas nos grandes.
“É o pensar pequeno e o não valorizar aquilo que se tem; apoiar no presente tem uma validade enorme. Os clubes não vivem de palmadinhas nas costas mas o reconhecimento na altura certa é sempre bem-vindo”, atira Paulo Antunes que deixou Torres Novas para ir viver para perto do Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Lisboa, para trabalhar com um grupo de 12 atletas que ali treinam. “O meu sonho é ajudar estes atletas a conseguir chegar onde querem”, conclui.