Desporto | 15-05-2022 10:00

Da infância na Ucrânia às vitórias por Alverca no mundo do ténis

Illia Stoliar tornou-se no primeiro tenista do concelho de Vila Franca de Xira a somar um ponto ATP

É um nome que está a dar que falar no ténis: Illia Stoliar, natural da Ucrânia, vive em Alverca desde os oito anos e é uma máquina de ganhar títulos. No final do ano passado tornou-se no primeiro tenista do concelho de Vila Franca de Xira a ganhar um ponto ATP.

Não há dúvidas: este ano o Ahead Clube de Ténis de Alverca vai ser campeão nacional de seniores, garante o seu atleta, Illia Stoliar, tenista que tem dado que falar nos últimos dois anos e que os mais atentos já viram a treinar com as estrelas do último Estoril Open durante o circuito ATP (Associação de Tenistas Profissionais).
Illia Stoliar tornou-se, em Outubro do ano passado, no primeiro tenista do concelho de Vila Franca de Xira a conquistar um ponto ATP. E tudo aponta para que não tenha sido o último. Com 22 anos, Illia Stoliar vive do ténis e a sua rotina é competir nos nacionais onde estão rivais como João Sousa, Nuno Borges ou Gastão Elias, mas também mais recentemente em torneios ITF da Federação Internacional de Ténis. Quando ler esta reportagem Illia deve estar na Alemanha a competir. Depois ruma a Espanha e por fim disputará um torneio em Corroios.
O jovem nasceu numa vila a cem quilómetros de Kherson, na Ucrânia, que ultimamente tem sido notícia devido à devastação causada pelo exército russo. Viveu na Ucrânia até aos 8 anos, idade com que chegou a Alverca com a mãe a convite de uns tios que já residiam na cidade ribatejana. Vieram em busca de uma vida melhor. Hoje Illia tem dupla nacionalidade e fala um português perfeito, embora nem sempre tenha sido assim.
“Para mim, Alverca é a minha cidade. Adoro-a. Sempre vivi aqui, ainda hoje vivo e provavelmente irei comprar casa aqui”, garante a O MIRANTE. Quando chegou ainda criança não percebia nada do que lhe diziam. “Nem a língua nem o alfabeto. Na escola nem sabia como pedir para ir à casa-de-banho. Foi desafiante. Mas ao fim de dois meses já entendia o que me diziam e seis meses depois já me desenrascava perfeitamente”, conta.
Foi o tio que, apaixonado pelo ténis, o colocou a jogar nos courts de Alverca. “No início não me cativou muito mas depois fui começando a gostar. Os resultados não apareceram logo porque comecei a aprender bastante tarde e logo a enfrentar atletas que competiam em campeonatos da Europa e do Mundo. Foi duro. Só quando o Dário Matias me começou a treinar é que os resultados começaram a chegar”, confessa.

Um tie break para a história
O jogo que lhe deu o primeiro ponto ATP ficou para a história por ter sido impróprio para cardíacos. Durou duas horas e meia e Illia Stoliar superiorizou-se ao brasileiro Paulo Santos perdendo o primeiro set por 1-6, vencendo o segundo por 6-1 e depois conquistando a vitória no tie break por 7-6. “Foi na raça. Lembro-me como se fosse ontem. Uma emoção imensa. O mais difícil é conquistar o primeiro ponto, agora outros se seguirão”, afiança.

“Não se cresce sem trabalho”
O tenista gosta da superação pessoal da modalidade e de encontrar estratégias em campo para derrotar os adversários. Treina diariamente seis a sete horas, quatro delas a jogar. “O desporto faz-nos crescer enquanto pessoas e aprendes a viver sozinho, a lidar com os teus erros e as tuas vitórias, é um desporto de disciplina. Não se cresce sem trabalho. As vitórias são apenas o topo da pirâmide”, explica.
Nos últimos quatro anos tem estado sempre na fase Masters da competição nacional, onde só entram os oito melhores do país. O sonho de Illia Stoliar é subir no ranking e competir ao mais alto nível vivendo apenas dos prémios dos torneios. Já foi aliciado por outros clubes mas a ligação ao treinador é demasiado forte para ser quebrada. Roger Federer é o seu adversário de sonho.

Revolta e tristeza pela guerra

Illia Stoliar diz ver com revolta e tristeza o que está a acontecer no seu país natal. Apesar de há muitos anos não visitar a Ucrânia, confessa-se triste com o que a Rússia está a fazer. “São uns bandidos”, lamenta. O tenista adora história e geopolítica e tem em “Guerra e Paz”, de Tolstoi, uma das suas obras favoritas. “Era um conflito inevitável com origem nas consequências da União Soviética e do imperialismo russo, que sempre esteve presente. Para eles não importa o bem-estar da população, vivem apenas à base de anexar territórios, é isso que alimenta aquele povo. Isto ia acabar por acontecer”, lamenta. Na sua casa a família tem ajudado refugiados ucranianos que estão a chegar a Portugal mas teme que seja um esforço irrisório face à real dimensão da catástrofe. “Sentimos uma grande impotência”, confessa o atleta, que pede que a comunidade continue mobilizada para o que está a acontecer com o povo ucraniano.

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