Desporto | 20-04-2022 07:00

Da Louriceira ao Dubai: a carreira das arábias do treinador Rui Pedro Gaivoto

Rui Gaivoto confessa que a conquista do título de campeão de futebol de sub15 pela equipa do Al-Nasr, dos Emirados Árabes Unidos, é especial por ser o primeiro fora do seu país

Rui Pedro Gaivoto sagrou-se campeão nacional de sub-15 como treinador de futebol do Al-Nasr, dos Emirados Árabes Unidos. O técnico, natural da Louriceira, concelho de Alcanena, confessa que a conquista é especial por ser a primeira fora do seu país. As saudades da família e do sossego da sua terra vão-se fazendo sentir mas as condições financeiras no Dubai são irrecusáveis e a adaptação a outra cultura foi ultrapassada sem dramas.

Como muitos rapazes Rui Pedro Gaivoto, 37 anos, sonhava ser jogador de futebol. Natural da Louriceira, concelho de Alcanena, começou a jogar no clube da terra, o CRD Louriceirense, numa equipa de futsal. Nas férias escolares de Verão jogava com os amigos na rua de manhã à noite. O futebol sempre fez parte da sua vida, mas na infância estaria longe dos seus pensamentos que, aos 37 anos, iria conquistar o seu primeiro título nacional como treinador nos longínquos e abastados Emirados Árabes Unidos.
Um tio, que foi jogador profissional, e o pai, um apaixonado por futebol, sempre lhe incutiram a paixão pelo desporto-rei. Aos 10 anos Rui Pedro Gaivoto começou a jogar numa equipa de futebol de 11, também no clube da sua aldeia, tendo sido campeão distrital logo no primeiro ano. Depois esteve seis anos na Escola de Futebol do Concelho de Alcanena, onde foi campeão em todos os escalões, desde infantis até juvenis. Quando passou para o escalão de júnior jogou no AC Alcanenense e também na Académica de Santarém tendo jogado no campeonato nacional da 1ª divisão.
Em sénior começou no Monsanto, na 3ª divisão nacional, tendo passado pelo Mirense e esteve oito épocas consecutivas no CD Amiense, onde terminou a carreira aos 29 anos após uma grave lesão nos ligamentos de um joelho. “Não foi um momento fácil porque queria continuar a jogar futebol, mas temos que aceitar. Sempre quis que o meu caminho fosse o futebol mas qualquer jogador sabe que existe o risco de ter uma lesão grave”, conta a O MIRANTE em entrevista realizada através de correio electrónico.
A carreira de treinador de futebol começou em 2004 como um passatempo com os mais novos, quando ainda jogava. Com o passar do tempo percebeu que tinha mais apetência para treinar do que para jogar e tirou o curso de treinador. Foi devido a José Mourinho que desejou ser treinador de futebol.
Em Agosto de 2020 começou a treinar a equipa de sub15 do Al-Nasr Clube tendo-se sagrado campeão nacional dos Emirados Árabes Unidos em Março deste ano. É a segunda época que está a treinar a equipa e é o seu primeiro grande título profissional enquanto treinador. “Como é o primeiro título oficial fora do meu país tem um sabor especial. No futebol é tudo muito rápido. Agora temos que preparar a próxima época”, confidencia sem esconder o orgulho pela conquista.
Rui Pedro Gaivoto considera-se um sortudo por treinar há 18 anos consecutivos. “O mais importante é ser feliz naquilo que faço e desfrutar de cada momento. No futebol tudo muda muito rápido. Nos últimos cinco anos o meu trajecto dividiu-se entre Portugal, China, Japão e Dubai. Desde que me sinta realizado é o que importa”, explica, acrescentando que gostaria de treinar um clube da 1ª Liga portuguesa. Mas, por enquanto, sente-se bem onde está.

As saudades da família e do sossego da aldeia
As diferenças entre a Louriceira, que tem cerca de 500 habitantes, e o Dubai, onde vive, são gigantescas. “Tudo o que se possa imaginar existe no Dubai. Está a ser uma experiência muito enriquecedora porque 90% da população deste Emirado é estrangeira”, realça.
Quando chegou ao Dubai “estranhou” algumas questões culturais e religiosas no quotidiano. “Não tenho nada contra e foi fácil adaptar-me. A surpresa é porque em Portugal a cultura é diferente. Temos que aprender certos e determinados comportamentos de modo a respeitar as regras culturais e religiosas de um país muçulmano. Nem quando estive na China e no Japão precisei deste tempo de adaptação”, recorda.
Tó Zé, jogador da mesma equipa, mas no escalão sénior, tornou-se o seu melhor amigo nos últimos dois anos. Assim que soube que havia um treinador português no escalão de formação preocupou-se para que Rui Gaivoto se integrasse com maior facilidade na cidade.
As saudades da família e dos amigos são muitas. Só consegue visitar Portugal uma vez por ano, no final de cada época desportiva, entre Junho e Setembro. Há 10 meses que não vai à Louriceira. Quando está por cá gosta de ficar pela sua aldeia e desfrutar da companhia da família sobretudo dos dois sobrinhos ainda pequenos. Aproveita para usufruir do sossego porque para confusão e agitação já basta o Dubai, refere, em tom de brincadeira.
O treinador considera ser difícil trabalhar em Portugal tendo em conta que o nosso país “ainda não valoriza o futebol de formação ou semi-profissional de forma a que a classe de treinadores tenha o futebol como única actividade”. Tirando uma dúzia de clubes da 1ª Liga a remuneração é muito baixa, diz.
O treinador agradece aos pais que, nos momentos-chave da sua vida, o apoiaram no sentido de dar o salto para um patamar mais elevado na carreira. Não tem filhos, mas a namorada é o seu grande apoio, nos bons momentos e também nos menos bons.

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