Desporto | 11-06-2022 12:00

Refugiados encontraram no desporto uma porta aberta para a integração

Oleksii Silivianov com a mulher Hanna e a filha. Rahmatullah Salimi chegou a Santarém há três meses

Oleksii Silivianov e Rahmatullah Salimi são refugiados que chegaram há poucos meses a Santarém e encontraram no desporto um trunfo para uma mais rápida integração na comunidade. Um joga futebol no Moçarriense, outro é guarda-redes de futsal no Vitória de Santarém. Apesar da barreira linguística vão fazendo o seu caminho e não poupam elogios à forma como foram recebidos.

O ucraniano Oleksii Silivianov e o afegão Rahmatullah Salimi não se conhecem mas têm muita coisa em comum. Fugiram dos seus países por causa da guerra e encontraram em Santarém um porto seguro onde o desporto tem constituído um importante trunfo para a rápida e feliz integração na comunidade, que os leva já a dizer que pretendem ficar por cá. Oleksii, 28 anos, joga futebol no Moçarriense e o adolescente Rahmatullah, 16 anos, estreou-se em Maio, oficialmente, como guarda-redes da equipa de juniores de futsal do Vitória de Santarém.
Oleksii ganhou uma nova família na equipa de futebol do Centro de Cultura Recreio e Desporto Moçarriense, no concelho de Santarém. Uma das suas paixões é o futebol e quando chegou a Portugal procurou uma equipa onde pudesse jogar. Foi apresentado ao Moçarriense por José Albuquerque, que acolheu Oleksii, a esposa Hanna e a filha Ivanna, de apenas um ano.
Na Ucrânia Oleksii passou pelas camadas jovens do Dnipro e recentemente jogava futsal na equipa da fábrica de plásticos onde era gestor de clientes. Sem equipamento para treinar, o primeiro treino foi feito com umas sapatilhas emprestadas. No segundo treino já tinha à espera umas chuteiras e o equipamento do Moçarriense, oferecidos pelos colegas de equipa. Foi com eles também que aprendeu as primeiras palavras em português. “Rápido” foi a primeira, por ser a que o mister mais gritava. Aprendeu também mais algumas palavras que não quis dizer por serem “feias”.
O sorriso de Oleksii rasga-se quando fala nos colegas de equipa para dizer que o têm ajudado imenso na integração em Portugal e diz-se muito bem acolhido por todos. Apesar de ainda não ter representado o Moçarriense em nenhum jogo oficial, é assíduo aos treinos e mal pode esperar por pisar o relvado para jogar na próxima época. Joga em ambas as laterais e diz que consegue ser um jogador ofensivo e defensivo.
A família ucraniana rumou a Portugal em fuga da guerra na Ucrânia. Deixou para trás uma vida em Kharkiv, uma das primeiras cidades a ser bombardeada pelo exército russo. Fugiram com a roupa que tinham no corpo e uma mala com roupa da filha bebé. Primeiro seguiram para casa dos pais de Hanna, perto de Dnipro. As tropas russas tomaram conta da região e o casal decidiu rumar a Portugal. Oleksii tem 28 anos, o que significa que tem idade para ir para a linha da frente, mas um problema no estômago que o obriga a tomar medicação diariamente levou à dispensa do serviço militar.
A viagem foi atribulada. Entre Dnipro e a fronteira chegaram a percorrer apenas dois quilómetros em duas horas devido aos engarrafamentos causados pelos milhares de pessoas que fugiam da guerra. Viajaram durante duas semanas até Portugal. Dormiram várias noites no carro e chegaram a celebrar o primeiro aniversário da pequena Ivanna numa estação de serviço ao longo do caminho. Passaram por Roménia, Itália, França e Espanha até chegarem a terras lusas. Já tinham estado em Portugal há três anos, onde conheceram algumas pessoas que os apresentaram a José Albuquerque, que lhes deu abrigo em sua casa, na Aramanha, concelho de Santarém, onde chegaram a 28 de Março. O casal quer agora estabelecer-se em Portugal e já começou a aprender português, no ISLA, em Santarém. Oleksii está à procura de emprego e não se importa de trabalhar em qualquer lado, para começar a orientar a nova vida.
Oleksii e Hanna não querem regressar à Ucrânia. Temem pela vida dos pais e apesar de falarem com eles várias vezes por dia e de lhes ser garantido que estão em segurança sabem que não é verdade. Sonham trazê-los para Portugal, mas sabem que é difícil porque a família não quer abandonar o país.

Rahmat encontrou uma família no Vitória de Santarém
Também Rahmat, como é tratado o jovem refugiado afegão que chegou a Santarém há pouco mais de três meses, não pensa deixar Portugal. De aparência tímida e sorriso simpático, mistura o inglês e o português para se expressar e tem aulas de Português com uma voluntária que acompanha a família. Diz que é uma língua difícil mas gosta de aprender. Frequenta o 10º ano na Escola Secundária Ginestal Machado e reconhece que, por enquanto, tem dificuldades em assimilar a matéria.
A família de Rahmat esteve alojada em Lisboa e em Fátima até chegar a Santarém no final de Fevereiro. Com ele vieram a mãe e duas irmãs (uma mais velha e outra mais nova), pelas mãos de uma organização não governamental e com o apoio do Estado português. O pai ficou no Afeganistão, um país martirizado pela guerra há décadas e onde o jovem diz ter testemunhado cenas de violência.
Santarém surgiu-lhes na rota por mero acaso. Indicaram-lhes essa possibilidade e a família disse que sim. Rahmat está feliz com a escolha. Considera tratar-se de uma cidade bonita e com gente simpática, garante não ter sentido até agora qualquer tipo de discriminação e só tem elogios para o Vitória de Santarém, que afirma ser “como uma família”. Começou a treinar no clube duas semanas depois de chegar à cidade, encaminhado pela voluntária que acompanha esta família afegã. Já jogava futsal no Afeganistão e a modalidade é a sua paixão ao ponto de dizer, com convicção, que quer jogar pela selecção do seu país e ser o melhor guarda-redes de futsal do mundo. Como plano B aponta a engenharia electrotécnica.
Ainda em período de habituação à nova realidade, reconhece que as diferenças culturais entre os dois países são evidentes desde logo no modo de vestir: no Afeganistão as mulheres andam de cara tapada e rapazes e raparigas têm aulas separados. As calças de ganga são indumentária banida. A comida também é diferente, mas não se deu mal com a nossa gastronomia. Do que não gosta mesmo é de bebidas alcoólicas e de tabaco e também não segue a tendência de muitos jovens da sua idade que passam grande parte do tempo agarrados aos ecrãs. Fora da escola e do futsal, diz que gosta de fazer umas caminhadas pela cidade que o acolheu e onde se sente bem.

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