Sardoal promoveu jornadas sobre História local
Maria da Conceição, Célia Santos e Marco Cadete foram os três artesãos presentes nas Jornadas da História Local, que se realizaram no Sardoal. Falaram do amor à arte e do respeito pelas tradições passadas que garantem continuar a preservar com o mesmo vigor.
Maria da Conceição, ou Mariazinha como é carinhosamente tratada, tem 81 anos e há mais de quatro décadas que se dedica a fazer bonecas de trapos. Residente em Constância, a artesã produz bonecas típicas da época em que viveu a sua juventude, procurando mantê-las o mais fiel possível aos trajes da altura. “Cada boneca tem vida e representa uma parte da tradição de Constância. Muitas são vestidas com roupas tradicionais da época que procurei replicar”, conta a O MIRANTE a artesã que garante já ter feito mais de um milhar de bonecas.
No dia 24 de Novembro, a Câmara Municipal do Sardoal promoveu, no Centro Cultural Gil Vicente, mais uma edição das Jornadas de História Local. No programa participaram como oradores, para além de Maria da Conceição, os artesãos Célia Santos e Marco Cadete para deixarem o seu testemunho sobre o que os apaixona na arte.
Maria da Conceição começou a fazer bonecas por gosto e para manter vivas as tradições passadas. Actualmente não esconde que arranjou uma carteira de clientes e amigos fiéis que lhe compram os artigos, encaixe financeiro que permite mais tranquilidade na gestão das contas da casa. Além da vasta colecção que guarda em casa, tem bonecas à venda no posto de turismo de Constância e no restaurante Leopoldina, situado também na vila. A artesã conta que sempre que vende uma boneca fica com um misto de sentimentos. “Por um lado fico contente por gostarem do meu trabalho. Por outro, parece que parte de mim vai embora. Como vivo sozinha as bonecas são a minha companhia, são como as minhas filhas, porque cada uma tem a sua própria vida”, explica, salientando que aprendeu o ofício sozinha e que demora cerca de 10 horas de trabalho em cada artigo.
Os leques de Célia Santos
Célia Santos começou a fazer leques de palha há cerca de duas décadas depois de ser desafiada por Luís Gonçalves, na altura vereador na Câmara Municipal do Sardoal. Aprendeu sozinha, num processo que durou dois anos e que envolveu o estudo de colecções e documentação. A artesã explica que o que a move é o “amor” pelo ofício e o gosto por desafios que os seus clientes lhe propõem. “A minha arte não segue uma linha definida. Faço peças exclusivas pedidas por cada cliente”, explica, acrescentando que quem quiser pode ver os seus trabalho na página “Trapos e palhas”, nas redes sociais, e no espaço “Cá da terra”, situado ao lado do Centro Cultural Gil Vicente, no Sardoal. “Há peças, como os leques, que demoram cerca de cinco dias. É preciso ser muito resiliente e amar o que se faz, porque economicamente o artesanato ainda não é compensatório. Mas é um processo de semeio, para as gerações futuras colherem”, explica Célia Santos que, por uma situação de desemprego, se dedica actualmente a tempo inteiro ao artesanato.
Uma herança dos avós
Marco Cadete é o proprietário da empresa Cerâmica Tejo, localizada em Mouriscas, depois de ter ficado com o negócio fundado pelos avós. A empresa, que nasceu em 1955, é a única na região do Médio Tejo e das poucas em Portugal que ainda produz o tijolo burro e a tijoleira de forma artesanal. Marco Cadete explica que grande parte da infância foi passada nas instalações da empresa, o que permitiu uma familiarização com o processo de produção. “Há 40 anos quase toda a gente tinha peças desta em casa. Faz parte da história do nosso passado”, explica. A empresa produz tijoloburro para fornos e tijoleira para soalhos, que vende apenas nas suas instalações. Marco Cadete explica que, no caso da sua empresa, a principal dificuldade no futuro é a inovação no processo de produção, que só seria possível através de um grande investimento.