Paula Rocha vive com os dois filhos numa garagem em Castanheira do Ribatejo
Sem água quente, banheira nem aquecimento, Paula Rocha vive com os dois filhos, um deles menor, numa garagem em Castanheira do Ribatejo. A família está nesta situação desde que foi obrigada a sair do apartamento onde vivia e teme que esta estadia temporária se vá tornando definitiva.
Depois de ter sido obrigada a deixar a casa onde vivia pela não renovação do contrato de arrendamento Paula Rocha mudou-se com os dois filhos, um deles com apenas oito anos, para uma garagem em Castanheira do Ribatejo. Esta divisão única onde agora vivem, sem água quente, aquecimento ou chuveiro, foi a única solução encontrada pela mulher de 47 anos, actualmente desempregada. “Pedi ajuda à minha família, mas infelizmente ninguém disse que me podia ajudar. Procurei e procurei, mas nada. Chegaram a pedir-me 750 euros por um quarto aqui na Castanheira e mais dois meses de caução, mas nem sequer aceitavam os meus filhos”, conta a O MIRANTE.
Quando Paula Rocha soube que tinha de deixar a antiga casa, a 1 de Janeiro, contactou a Segurança Social, entidade que pagou a caução com igual valor da renda (250 euros) da garagem. “Disseram que tinha condições para ficarmos temporariamente”, diz. Só que esta mãe teme que o temporário se vá tornando cada vez mais definitivo, até porque, explica, além de não conseguir encontrar uma casa que consiga pagar, não tem garantias de que vá ser uma das contempladas no concurso para uma das nove habitações disponíveis da Câmara de Vila Franca de Xira, que deverá ficar concluído em Fevereiro. “Já concorri três vezes e nunca me saiu. Já não acredito que seja desta”, afirma desolada.
Paula Rocha tem passado parte dos dias à procura de trabalho, mas sempre que regressa àquelas quatro paredes - às quais não consegue chamar de casa - deprime com a situação em que se encontra. “Quando viemos para cá tentei tapar tudo para que o meu filho [mais novo] não se apercebesse que estava numa garagem; disse-lhe que íamos para um T0, mas ele apercebeu-se pelo portão. Doeu-me, não sei o que é dormir em condições. Há noites que nem durmo a pensar que os meus filhos estão nesta situação”, lamenta.
Numa tentativa de assemelhar a garagem a um lar, Paula colocou cortinas a tapar as prateleiras fixas na parede e o portão em alumínio, afixou fotografias em família nas paredes e criou uma pequena divisão para que o filho mais velho, de 18 anos, a estudar em Alverca, pudesse ter um espaço só seu, “com mais privacidade”. Paula dorme num divã, praticamente ao lado do fogão onde confecciona as refeições. O pior, além da falta de água quente que os obriga a pedir para tomarem banho em casa de amigos ou, às vezes, a lavarem-se “ao copo com água aquecida”, é o frio que entra por uma das janelas, que fica acima do portão e não tem vidro. “Tento tapar, mas não adianta. E não consigo ligar um aquecedor, o quadro eléctrico não aguenta”, explica.
Paula Rocha viveu durante sete anos no rés-do-chão de um prédio da Rua Vasco Moniz, em Castanheira do Ribatejo, que não oferecia condições de segurança devido às fissuras que se abriam e aumentavam no chão e paredes do imóvel. O apartamento chegou a ser alvo de vistoria pela Câmara de Vila Franca de Xira e visitado pela Segurança Social, sendo que ambas as entidades concluíram, segundo a moradora, que a família vivia num lugar perigoso. A família acabou por ter que deixar a casa por ordem do senhorio, que terá justificado a não renovação do contrato com a necessidade de fazer obras no apartamento.