Economia | 20-10-2018 12:02

“Fico feliz com a felicidade dos outros”

“Fico feliz com a felicidade dos outros”
TRÊS DIMENSÕES
Paulo Macedo diz que Tomar é uma cidade bonita, calma e com muita vida

Paulo Macedo, 57 anos, é director do Agrupamento de Escolas dos Templários desde Julho de 2017.

Vive em Tomar desde 1991 e é nessa cidade, onde ainda se consegue ouvir o chilrear dos pássaros, que se sente bem. As injustiças entristecem-no, como a quantidade de pais que pedem na escola o suplemento alimentar para os filhos porque não têm comida para lhes dar em casa.

Nasci em Oeiras e vivi em Lisboa até perto dos 20 anos. Depois saí para a Bulgária onde tirei o curso superior de Agronomia, em 1979. Também vivi nos Açores onde cumpri o serviço militar obrigatório, já depois do curso, e onde comecei a carreira de docente. Dava aulas de química e de fisico-química. Após o reconhecimento do curso fiquei a dar aulas de ensino agrícola.
Quando era criança gostava da terra e dos bichos. Queria seguir geologia ou biologia. Acabei por me inscrever num curso de biologia na ex-União Soviética, fui contactado por uma associação de amizade Portugal/URSS para saber se estava interessado em alguma bolsa. Como não entrei em geologia achei que o mais próximo seria a agronomia, e assim fui parar à Bulgária onde fiquei durante seis anos, o primeiro a aprender búlgaro e os restantes cinco a tirar a licenciatura.
Na altura ainda existiam cursos profissionais de ensino agrícola. Quando concorri para Tomar foi precisamente para esses cursos agrícolas. Havia um na Escola Santa Maria dos Olivais que dava equivalência ao 12º ano e que funcionava numa quinta da região. Entretanto esse curso acabou e comecei a dar aulas na área da matemática e ciências, a alunos do 2º ciclo.
Tomar é a cidade onde vivi mais tempo até agora. Foi aqui que constitui família (esposa e dois filhos). É uma cidade com património, muito bonita, onde ainda se consegue ouvir os passarinhos. Além disso tem uma vida nocturna muito interessante. O facto de ter aqui o Instituto Superior Politécnico também traz muita vida jovem à noite. Nem todas as cidades do distrito se podem gabar de ter duas sociedades filarmónicas e uma associação cultural. Temos condições para fazer ainda mais a nível cultural.
Se tivesse poder para isso acabava com a exploração do Homem pelo Homem. Vivemos numa sociedade capitalista em que muita gente leva uma vida perfeitamente normal sabendo que há milhões de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza. Onde há exploração e todo o tipo de trabalho não remunerado ou mal remunerado. Há aqui na escola (Jácome Ratton) várias situações de pais que vêm pedir o suplemento alimentar para os filhos porque não têm comida para lhes dar em casa. Quando vivemos numa sociedade em que ainda há necessidade disto, há muita coisa a mudar.
A miséria e a pobreza por esse mundo fora deixam-me triste. Pensar que estamos no século XXI e ainda vemos pessoas a sofrer. A lutar para poder comer, ao mesmo tempo que somos capazes de explorar o universo e querer ir a Marte, faz-me confusão.
Fico feliz com a felicidade dos outros. O que me faz mais feliz são coisas muito pequenas, a que não damos muita importância porque vivemos nesta vida atarefada. Sorrio ao ver a satisfação dos meus filhos, da minha mulher, de um jovem aluno.
Gosto de viajar. As maiores viagens foram feitas enquanto estudante. Nos anos que passei na Bulgária o cartão de estudante dava acesso a viagens acessíveis a outros países do chamado mundo socialista. Na altura percorri também todo o sul da Europa, quando fazia viagens de comboio de Portugal para a Bulgária. Fiquei a perceber muita coisa e a perceber melhor o meu país.
Qualquer jovem que tenha a possibilidade de ir estudar um tempo para o estrangeiro deve fazê-lo. É algo que nunca mais se esquece. Também é bom para perceber o que os outros sabem sobre Portugal. Quando estive fora a revolução tinha acontecido há pouco tempo e era vista como um exemplo, uma revolução sem violência. Éramos respeitados e apreciados por isso. Gostavam de ouvir os nossos compositores e nunca me esqueço da sensação única de estar num tasco de Plovdiv a ouvir Carlos Paredes.

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