Economia | 03-07-2020 18:00

A apologia do desconfinamento

A apologia do desconfinamento
foto DR

Maria José Figueiredo - Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Rio Maior.

O período do confinamento foi terrível para todos. Para as crianças, que de repente ficaram em casa, muitas delas ainda hoje não perceberam muito bem porquê. Para os idosos que, de repente ficaram sem receber o abraço ou a visita da sua família. Para nós, com máscaras, luvas e medos sempre que saímos de casa.


Mas a realidade é esta: o vírus existe, continua por aí, ainda não há cura, nem vacina! Contudo, há quem ainda não perceba o que se está a passar, há quem deliberadamente viole as regras de distanciamento e, claro, leve o vírus para a sua casa e para a casa dos outros.


Na Santa Casa da Misericórdia de Rio Maior encerraram, por ordem do Governo, as Creches e o Pré- Escolar e seguidamente encerraram os Serviços de Saúde (Centro Médico e Clínica de Fisioterapia), a Igreja da Misericórdia, as Capelas Mortuárias e a Universidade Sénior. Nunca encerraram os Órgãos Sociais, os Serviços Administrativos, a ERPI Dr. Calado da Maia, as Cantinas Sociais e até os Serviços da Intervenção Precoce, que funcionaram com as restrições exigidas.


Habituados a ir à luta e a pensar que fazer bem aos outros é essencial os trabalhadores não desistiram. Prestaram os mais variados serviços, distribuíram refeições aos utentes das cantinas sociais, cuidaram dos idosos que sem a presença dos familiares ficaram totalmente dependentes de quem os acolhia, receberam na Creche e no Pré-Escolar as crianças cujos pais exerciam funções essenciais.


Tudo isto implicou, como é evidente, um acentuado acréscimo da despesa, nomeadamente, com a aquisição de equipamentos de proteção individual, mas o decréscimo da receita que provinha dos serviços prestados é neste momento a nossa maior preocupação.


Este foi mais uma vez, um teste ao limite humano que não deixou ninguém indiferente, perante a limitação de não podermos ir à rua, nem de dar um beijo à nossa mãe!

Mas desconfinar foi imprescindível!

Fazemos agora um balanço, provisório, do terrível período que passámos, com a expetativa que não volte nunca mais. Há que continuar, sabendo que a nossa função se tornou ainda mais exigente, porque quem a nós recorre não pode esperar.
Quando lemos sobre a assistência em Portugal ao longo dos tempos concluímos que o papel das instituições de solidariedade social foi sempre mais relevante, considerando as épocas de guerra e de fome, e que esta vinha logo a seguir às pestes, que assolaram o mundo em diversos períodos da história.


Reabrir consubstancia a necessidade de atribuir melhores apoios às organizações, que já tinham um papel basilar na nossa sociedade e que agora todos ficaram a saber que são indispensáveis, para podermos prosseguir neste século XXI, pleno de crises, de catástrofes e agora de pandemias.
Este é pois o momento de agradecer aos que com medo disseram presente, é o momento de mostrar consideração por todos aqueles que diariamente se entregaram, com compaixão e abnegação, que lutaram contra um inimigo invisível, que ajudaram, que se preocuparam e nos deram ânimo e que apenas sabiam que confinar era a solução, sem tempo marcado para terminar.


Por isso desconfinar não poderá ter somente o significado de reabrir, mas de reabrir com a consciência de que nada vai ser igual, que todos dependemos uns dos outros e que nunca teve tanto sentido o espírito cristão, consubstanciado nas obras de misericórdia, fundamento da existência das misericórdias portuguesas.


* Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Rio Maior.

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