Economia | 04-05-2022 12:00

Edição Semanal. Chef’s ao Tejo valoriza os peixes do rio Tejo

Carlos Serra e Elisabete Madrinha amanham o peixe sob o olhar atento do chef Rodrigo Castelo que cozinhou o peixe para o almoço da iniciativa “Chef’s ao Tejo”, organizada pela Câmara de Santarém

Iniciativa da Câmara de Santarém para promover a gastronomia teve um pescador de Mouriscas a amanhar peixe e a dar dicas sobre a utilização das ovas e das barrigas das carpas. Carlos Serra mostrou também que às vezes basta mudar o nome da iguaria para esta ter mais procura, como aconteceu quando começou a chamar Entrecosto do Tejo às barrigas do peixe.

Carlos Serra, 58 anos, não é só um pescador conhecido de Mouriscas, Abrantes, é um exímio artista a amanhar peixes e a cozinhá-los. Pescador profissional há mais de duas décadas, esteve em Santarém a mostrar como se arranja uma carpa e outros peixes do rio. Perante chef’s de cozinha, no evento “Chef’s ao Tejo”, com a ajuda de Elisabete Madrinha, também deu umas dicas sobre a utilização das ovas e das barrigas das carpas sugerindo que podem ser grelhadas. E na culinária às vezes basta inventar um nome diferente para que as iguarias tenham mais procura.
Carlos Serra recorda que quando mudou o nome de barrigas de carpa para entrecosto do rio começou a ter muito mais saída na mesa dos restaurantes onde vende os peixes que vai pescando. Os peixes do rio que o pescador apanhou na zona da barragem de Cedilho, em Espanha, foram confeccionados na sexta-feira, 22 de Abril, pelos chef’s Rodrigo Castelo, Luís Barradas e Diego Gallegos, no evento promovido pela Câmara de Santarém que decorreu entre 21 e 23 de Abril.
O pescador diz que é preciso calma e paciência para cortar uma carpa como a que apanhou, que tinha pouco menos de 20 quilos. Primeiro retiram-se as ovas que vão servir para fazer açorda de sável. Depois corta-se às fatias. Como é um peixe grande são necessárias facas diferentes e um martelo para bater na faca quando é preciso trespassar a espinha.
O chef Rodrigo Castelo não considera difícil encontrar peixes no rio Tejo. “Se procurarmos encontramos. Sei onde existem os peixes e conheço muitos pescadores desde Santarém até Abrantes e como podemos ver nesta iniciativa há peixe do rio em abundância. Adoro peixe do rio”, avaliou antes de preparar o almoço que se seguiu.
O vice-presidente da Câmara de Santarém, João Leite, que acompanhou a iniciativa explica que o Chef’s ao Tejo está enquadrada num programa vasto de evento que visam valorizar o património que é a gastronomia. Os eventos vão terminar com o Festival Nacional de Gastronomia que se realiza no final de Outubro. “O Chef’s ao Tejo permite-nos mostrar a todos que o rio Tejo pode dar muito à nossa restauração que vive momentos de força e de garra. Sabemos que muitos turistas vêm a Santarém porque sabem que há bons restaurantes. Queremos incentivar os restaurantes a utilizar os peixes do Tejo contribuindo para a sustentabilidade do rio”, explica.

Dar aproveitamento gastronómico a siluros e peixes-gato para controlar a praga

O professor do Instituto Politécnico de Santarém, João Gago, doutorado em Biologia, alertou que existem no rio Tejo cada vez mais espécies de peixes oriundas de outros locais, prejudicando as espécies nativas. A introdução de espécies exóticas, como os siluros e o peixe-gato, são um factor que tem impacto na diminuição dos peixes tradicionais do rio, como também têm impacto as barragens, a poluição e a falta de água. “O siluro e o peixe-gato são competidoras do espaço e predadoras das nossas espécies nativas por isso se vão capturando menos barbos ou bogas”, referiu João Gago a O MIRANTE.
A primeira das soluções para resolver o problema é não introduzir estas espécies, seja de forma deliberada ou acidental. Com a espécie introduzida no rio Tejo é muito difícil erradicá-la. Uma das formas de controlar a quantidade dos predadores, defende o professor, é dar-lhes um aproveitamento gastronómico. Desta forma há um incentivo para que os pescadores os apanhem e retirem do rio. “Se forem retiradas grandes quantidades aliviam a pressão sobre as nossas espécies nativas”, concluiu.

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