Entrevista | 23-01-2013 11:40

Um filho do povo preside à Real Associação do Ribatejo

Um filho do povo preside à Real Associação do Ribatejo

Filho do povo e sem títulos académicos, como realça, José Carlos Ramalho reconhece que é difícil mobilizar pessoas para a causa sem ter nada para dar em troca. Natural de Benavente, passou parte da infância em Marinhais, fez a vida profissional em Lisboa e actualmente vive em Almeirim. Diz que falta sensibilidade a alguns autarcas para a preservação do nosso património histórico e admite que não acredita vir a assistir à restauração da monarquia.

“Se mandarem os reis embora, hão-de tornar a chamá-los”. O vaticínio é atribuído a Alexandre Herculano, encontra-se inscrito no blogue da Real Associação do Ribatejo na Internet, mas até à data não se concretizou. Pelos vistos os portugueses não sentem saudades da monarquia.Só passaram cem anos e a manipulação existe não só na falta de informação que chega à população como também nas próprias escolas. As nossas criancinhas, e eu vejo pela minha neta, quando chegam ao 25 de Abril escrevem de acordo com aquilo que os professores querem que elas escrevam. Estão a ser formatadas. É o reflexo da História ser escrita pelos vencedores, como se costuma dizer.Mas pode ser uma História mentirosa. A República faliu pela segunda vez e a democracia não entrou em Portugal com o 25 de Abril. Entrou para aí em 1820 quando veio o rei maçon D. Pedro brigar com o irmão D. Miguel e instituir a Carta Liberal. O regime democrático ainda continua a ser o menos mau, como dizia Churchill?Sim, mas eu não sei exactamente o que é a democracia. Ainda tive esperança no 25 de Abril de 1974 de viver em democracia, mas realmente vivemos é numa partidocracia. Não tenho dúvidas. Dos partidos políticos sai aquela gente que faz as leis, que vai governar, etc... E depois, quando terminam os seus mandatos de Governo ou de deputados, arranjam sempre uns lugares nas administrações de empresas, como Jorge Coelho ou Ferreira do Amaral.Esse argumentário podia ser perfeitamente partilhado pelos líderes do PCP ou do Bloco de Esquerda.São coisas concretas, reais, e tanto se dá que as digam o PCP ou outro partido qualquer. O que nos interessa é a verdade. Pode dizer-se que a causa monárquica está bem viva no Ribatejo? A causa monárquica tem uma implantação territorial por distrito. Temos inscritas na Real Associação do Ribatejo cerca de 636 pessoas, sendo a maioria considerada simpatizante. No Ribatejo acompanhamos 30 municípios, o que é muito. Em termos de actuação prática temos muita dificuldade porque por vezes as pessoas só aderem a certas causas se tirarem alguns dividendos disso. Temos grandes dificuldades em realizar acções, precisamente por isso. Além disso, as pessoas não têm dinheiro e a nossa perspectiva a curto prazo também não é concretizável, dado o sistema que se implantou. Em termos políticos não há praticamente organização. Não há movimentos monárquicos a concorrer, por exemplo, nas eleições autárquicas. Porquê?Essa é uma questão para os partidos políticos.Mas existe um Partido Popular Monárquico.Mas não tem nada a ver connosco. É um partido da República também, só que é formado por gente monárquica. Aliás, é um partido que até há bem pouco tempo teve uma pessoa à frente que é, direi, inimiga do senhor D. Duarte. É um senhor que canta o fado e de que me abstenho de dizer o nome.Não seria lógico que os monárquicos se agregassem em torno do seu partido?Não. A monarquia está acima dos partidos políticos, embora haja muita gente nos partidos que é adepta da causa. E ainda bem, deviam ser todos, porque é uma questão de regime que está em causa.As ideias monárquicas são muitas vezes associadas a certos conceitos ou tradições, como a festa brava, o fado ou o mundo rural. Faz sentido essa conexão?Faz todo o sentido. Quem, mais do que o arquitecto Ribeiro Telles, defendeu as questões ecológicas? Quem é que a nível das organizações se indignou contra a construção de tantos estádios de futebol em vez de terem construído hospitais? Foi o senhor D. Duarte. Os monárquicos interessam-se por tudo e na zona do Ribatejo a tourada para nós é muito importante. Mas respeitamos quem não gosta. Não gostamos nada é do fanatismo.E de fado, também gosta?Gostamos de fado, de rock, de música pimba...Até dos fados de Nuno da Câmara Pereira?Esses não! São muito mal cantados. O cavalo até fica ruço (risos)...Santarém, Tomar, Almeirim e Salvaterra de Magos são localidades que tiveram muita importância em certos períodos da monarquia. Essa memória tem sido bem preservada?Talvez não tenha sido muito bem preservada nalguns casos. Tem a ver com a sensibilidade dos autarcas. Mas, curiosamente, em Salvaterra de Magos, onde é presidente uma senhora do Bloco de Esquerda, já vi coisas muito interessantes, como a recuperação da falcoaria. Há dias houve lá uma representação sobre a chegada da corte a Salvaterra. Tenho visto coisas muito bem feitas por aí. O antigo Paço dos Negros, em Almeirim, merecia mais atenção?Em Almeirim, pelo que me apercebo, os vestígios foram quase todos apagados. Há um projecto de um arquitecto que seria de desenvolver, de construir uma réplica virtual desses sinais, à semelhança do que acontece no centro de interpretação da batalha de Aljubarrota. O próprio arquitecto queixa-se que a Câmara de Almeirim não tem sensibilidade para essas coisas.Pois, o problema é esse, a sensibilidade. Isso depende do perfil das pessoas.Quando toca o hino nacional canta-o?Nós os monárquicos somos patriotas. E a maior parte de nós, da minha geração, assentou praça e jurou perante a bandeira da República, que para nós é a bandeira nacional, não há dúvida nenhuma. E se voltássemos um dia à monarquia não teria interesse mudar a bandeira. *Entrevista completa na edição semanal de O MIRANTE

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